terça-feira, 2 de outubro de 2012

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"Sebastian", Capitulo IV, de Natalia de Oliveira

Parte I
Capitulo IV
"O Agente Clark Davis"
 

       - O que você pensa que está fazendo? – Francesco dizia exasperado – Já faz um mês que está com a gente e não traz nada! – estava furioso. – Nada de dinheiro, é um inútil.

       - Sim, eu trago. – Sebastian protestava ofendido.

       - As mixarias que arranja esmolando não são suficientes. – ele sibilou.

       - O que quer que eu faça? Ainda não sei falar sua língua direito, as pessoas não me entendem, como espera que eu me dê bem? – protestou.

       Francesco riu, os outros riram junto, menos os irmãos Luigi e Pietro, que pareciam ser os únicos que demostravam ter certa pena dele e não tomavam parte nas brincadeiras sem graça dos demais.

       - Acho que você não pegou o espirito da coisa, deixe-me explicar para que entenda: ou traz dinheiro, ou vai se entender com o chefe. – aproximou-se de Sebastian – Acredite em mim, não vai querer saber o que ele faz com maus investimentos.

       Sebastian queria se afastar, mas Francesco aproximava-se cada vez mais, fazendo-o encostar-se à parede. Francesco colocara uma mão de cada lado de Sebastian, prendendo-o. Estavam naquele beco em que fora deixado por Don Giovanni, não havia como escapar. Não gostava de Francesco desde o começo, do jeito que ele o olhava, que se dirigia a ele, era um jeito estranho meio lascivo, como se o quisesse, e isso lhe causava calafrios. Ele aproximou o rosto bem perto do rosto de Sebastian, sussurrando:

       - Eu sugiro que caçe algo para fazer, roube, furte algo, continue esmolando se quiser, mas tenho certeza que se daria muito bem em outra área. Você é bonito demais para ser desperdiçado. – aproximou-se tanto que Sebastian podia sentir sua respiração e se não tivesse virado o rosto, Francesco teria o beijado. – Mas isso é só minha opinião. – afastara-se – Faça o que tem que fazer e não me crie problemas.

       Francesco olhou-o de cima abaixo com desdém e caminhou em direção ao resto do grupo. Esforçava-se em lucrar, porém era difícil conseguir qualquer coisa, e não tinha a intenção de cometer nenhum crime, tentava manter o resquício de dignidade que ainda tinha.

       Alterado, furioso, Sebastian foi para um canto afastado do grupo, onde havia uma porta verde com um degrau na base, resolveu sentar-se lá.  Ficou com a cabeça baixa, pensando em algum modo digno de trazer dinheiro, sem ter de apelar para a prostituição ou criminalidade quando ouviu passos. Levantou a cabeça, eram os gêmeos que vinham em sua direção. Eram idênticos: cabelos pretos, olhos castanhos, usavam roupas simples, calça jeans e camiseta. Aproximavam-se, sabia que vinham falar com ele, tudo bem, eram legais, pelo menos não riam dele durante a provocação de Francesco á pouco. Chegaram e deliberadamente colocaram-se cada um de um lado de Sebastian, apoiando-se na parede.

       - Não é bom ficar sozinho. – começou Luigi.

       - É, um garoto sozinho chama atenção das pessoas erradas. – Pietro completou.

       - Você é americano, não é? – Luigi perguntou puxando conversa.

       - Sou.

       - Deve ter uma impressão horrível da Itália. – Luigi ponderou.

       - Mais ou menos.

       - Esse Francesco, não é boa pessoa. – Pietro disse olhando em direção onde o resto do grupo estava reunido. – Não confie nele.

       - Isso já deu pra perceber. Além do mais, já fui alertado a não confiar em ninguém.

       - Não é para tanto, pode confiar nas pessoas certas. - Luigi dizia sério, deixando Sebastian confuso. – Podemos te ajudar a ficar de boa. O que importa é entregar o dinheiro e ficar em paz. Agora, você aceita nossa ajuda?

       Naquela altura do campeonato, poderia aceitar, qualquer ajuda era bem vinda.

       - Claro. - respondeu – Mas eu não vou ter que fazer nada ilegal ou criminoso, eu vou?

       - Não, - Pietro riu – nós trabalhamos no porto, ajudamos no embarque e desembarque de mercadorias e de vez em quando como guias turísticos. Já vou dizendo, não é muito, mas dá pro Francesco não encher o saco, e acho que pra você já está de bom tamanho.

       - Eu sei, já estava começando a ficar desesperado. – respondeu agora já mais a vontade com os gêmeos. – Se eu não arrumasse dinheiro. . .

       - Você não tem nenhuma experiência, não é? – Pietro perguntou de repente olhando fixamente para Sebastian.

       - Como assim?

       - Nas ruas, você não tem malícia, não sabe agir como menino de rua. – explicou Luigi.

       - É porque nem sempre fui um. – disse sério, lembrando-se de seu pai. – E vocês?

       - Nós sempre fomos da rua. – Luigi respondeu com certo pesar.- E é por isso que estamos aqui, para ajudar você a pegar o jeito.

       Luigi aproximara-se de Sebastian e sentara-se ao seu lado no degrau.

       - No começo vai ser difícil, você vai sentir raiva, medo, ódio por tudo, mas depois de um tempo você se acostuma e tudo o que vai importar é ficar vivo.

       - É, - Sebastian parecia triste. – Parece que eu vou ter que me acostumar.

       Os irmãos o olhavam abaixar a cabeça e começar a chorar, o que aguçou a curiosidade deles.

       - Como veio parar aqui?

       Sebastian levantou a cabeça tinha uma expressão assustadoramente séria e os irmãos perceberam que ele tremia.

       - Um homem amaldiçoado matou meu pai na minha frente e achou que seria mais divertido me vender do que me matar também. Mas eu digo uma coisa: - sua voz soava forte – antes que minha hora chegue, eu vou matá-lo. Eu juro!

       Pietro e Luigi se entreolharam, nunca viram ninguém nutrir tanto ódio por outra pessoa, no entanto, entendiam seus motivos. Assim nasceu a amizade entre Sebastian, Pietro e Luigi. Esse trio jamais se separaria, estariam sempre juntos, numa amizade que perduraria por anos.

 

       A delegacia de Aaron River estava um forno de quente e a sala do Delegado Piston não era nada confortável com arquivos por todos os lados e a mesa abarrotada de papéis. A única ventilação era a janela aberta atrás da mesa, mas mesmo assim o Delegado Piston suava como um porco, dentro de seu terno marrom.

       Naquele momento, lia um dos vários boletins de ocorrência feitos por moradores sobre os macacos de Robert Murphy. Roubo de gado em um rancho era a bola da vez. Resmungou algo como “filhos da mãe” quando ouviu uma batida na porta de sua sala.

       - Entre!

       A porta abriu-se e um homem entrou. Era alto, bom porte e jovem, tinha os cabelos de um castanho claro e os olhos do mesmo tom. Tinha um olhar petulante, é verdade, curioso até. Usava um terno preto impecável e ostentava um alvo sorriso de superioridade como se dissesse: “Você está num pardieiro, seu idiota.”.

       - Em que posso ajudar? – Piston disse colocando calmamente o boletim de ocorrência sobre a mesa.

       - Delegado Piston? – adiantou-se em estender a mão para cumprimentá-lo. – Deixe-me apresentar, sou Clark Davis.

       Acolhedor, o delegado sorriu e aceitou o cumprimento, apertando a mão daquele homem.

       - Sou do FBI. – o sorriso era tão cínico.

       Neste momento, o sorriso acolhedor de Piston esvaneceu-se, dando lugar a uma expressão comicamente assustada. Clark Davis adorava causar esse espanto nas pessoas logo de cara, costumava agir assim, pois quem se assustava ao saber que era um Federal, era por que tinha algo a esconder.

       - Mas eu só estava esperando você daqui algumas semanas. . .  – dizia nervoso.

       - Digamos que esse caso já esperou demais.

       Passeava pela sala, olhando tudo de cima á baixo analisando toda aquela desordem.

       - Estamos cuidando do caso Desmont. . .

       - Estou vendo, e espero que o estado dessa delegacia não reflita sua obstinação. Nem mesmo tem uma assistente. Antes de entrar nessa sala, eu andei dando uma olhada no recinto, é um milagre que ninguém tenha entrado aqui ainda e dominado o delegado.

       - O que está insinuando?

       - Que há uma administração relapsa aqui. – disse com todas as letras – Sorte sua que eu não sou da corregedoria e não é isso que eu estou investigando, ainda. Vim cuidar de um acidente mal explicado e um desaparecimento de menor, quanto antes cuidarmos disso melhor. – disse sério.

       Como aquele garoto mal saído das fraldas vinha se intrometendo assim em sua delegacia? Tinha vontade de ponha-lo para fora á ponta pés, mas ele era do FBI e tinha que obedecer.

       - Por onde quer começar?

       - Que tal exumando o corpo de Kevin Desmont? No meu relatório não foi mencionado nada referente á uma necropsia no cadáver. Por quê?

       - Por que não houve necessidade, ele morreu carbonizado num incêndio. – o delegado afirmou – A causa da morte parecia bem clara para mim.

       - Mas não para mim. Não há nenhum laudo médico comprovando o que disse.

       - Não temos médico legista aqui. – insistia em dificultar.

       - Está olhando para um. –sorria vitorioso – Os exames necessários serão feitos, Delegado Piston, de um modo ou de outro.

       - Só com uma ordem judicial. – Piston o enfrentou desesperado enquanto via-o mexer dentro da pasta que trazia consigo. – Não pode chegar aqui e ir desenterrando nossos mortos á torta e á direita. . .

       Davis tirara um papel de dentro da pasta e o colocara com firmeza á frente do delegado.

       - O que é isso?

       - A sua ordem judicial. Não sei por que, eu tinha uma leve impressão de que ia precisar. Eu não sou policial, senhor, sou um Federal. Pensa que eu não sei lhe dar com gente como você? Eu conheço o seu tipo. Velho, desatualizado e provavelmente corrupto. Eu só lhe aviso uma coisa, não tente me distrair ou atrapalhar essa investigação de qualquer modo. A coisa pro seu lado não está boa. Agora, se não se importa, vamos começar logo com isso.

       Piston ficara boquiaberto, aquele pentelho tinha resposta para tudo, logo de cara o desarmara e agora ia ficar mais difícil impedir se trabalho. Tentara, mas não conseguira, e agora, se desesperava, estava sem saída, tinha que pensar logo num modo de contornar isso ou estaria frito. Mas que droga! Com a rede policial fervilhando de incompetentes, eles tinham que lhe mandar justo o mais esperto.

       - Vamos, então. – disse vencido por final.

       Robert Murphy vai me matar!”, pensava enquanto caminhava para a porta de saída.

 

       Era um dia realmente quente, e era uma tortura ficar ali de terno debaixo de um sol escaldante num campo aberto sem sombra como era aquele cemitério. Davis tinha dó dos coveiros que foram chamados às pressas para desenterrar um caixão que eles mesmos tiveram o trabalho de enterrar dias antes. O delegado acompanhava a exumação ao lado de Davis com certa impaciência, afinal, já que estava ali, que fosse depressa.

       - Então, - Piston puxou conversa. – além de policial também é medico?

       - Correto. – disse mecânico.

       - Washington deve ser interessante.

       - É corrido, temos muito trabalho.

       De modo algum Clark Davis se parecia com um policial comum, parecia mais um ator de Hollywood, esbanjando charme e juventude no papel de bom policial. Tinha vinte e sete anos e já estava á dois anos no FBI, entrara assim que saíra da faculdade de Stanford, com a ajuda de um tio senador. Não fazia questão de esconder isso, odiava hipocrisia, e era isso que o atraia no Boreau, adorava pegar os outros na mentira.

       Fora designado para o caso Desmont por não estar bem explicado, havia muitas contradições no relatório: o gritante fato da criança ter sumido, o mistério de como o fogo começara e a falta de uma necropsia no cadáver de Kevin Desmont, tudo isso contribuía para que seu instinto lhe dissesse que tinha algo mais nessa história, e o que o corroía, onde estava Chandler Desmont?

       - Pronto chefe! – um dos coveiros gritava de dentro da cova.

       - Até que enfim. – Piston levantou as mãos para o céu.

       Um dos coveiros saiu da cova e jogou uma corda para o que ficou, este a amarrou no caixão, deixando duas pontas que pudessem puxar para cima. O coveiro então saiu também da cova, deu uma das pontas para o companheiro e os dois começaram a puxar o caixão para fora do buraco com grande esforço.

       Davis ouvira então ,nesse momento, o som de um carro se aproximando um pouco longe ainda, mas conseguiu distinguir o som do motor de um carro grande. Desviando sua atenção dos coveiros que tão arduamente trabalharam ao seu chamado, começou a procurar, olhando para os lados, de onde vinha o carro. De fato, viu vindo pela estrada sul do cemitério, uma caminhonete vermelha adiantando-se na direção do pequeno grupo com certa rapidez incomum para um lugar como aquele. Ocorreu que talvez o assunto fosse com eles.

       O veículo parou ao lado do carro do delegado, uma viatura muito velha por sinal. Davis já não prestava mais a atenção á exumação que acontecia, queria ver o que esse cidadão queria durante um procedimento policial delicado demais para ser perturbado como aquele. Do interior da caminhonete um senhor saiu, muito bem apessoado, com um ar extremamente intimidador e ostentando um sorriso zombeteiro que Davis não gostou nada. O Federal dera uma olhada de esguelha em Piston que demonstrava agora certo nervosismo com a chegada daquele homem.

       - Bom dia, senhores! – Robert Murphy aproximou-se do grupo.

       - Está atrapalhando uma ação federal. – Davis já o cortara.

       A essa afirmação, uma nuvem assomou á face de Robert, mas ele soube disfarçar bem.

       - Num cemitério? – zombou.

       - Às vezes, os mortos têm mais a dizer do que os vivos. – disse serio. – E quem é o senhor?

       - Sou Robert Murphy. Moro aqui na cidade.

       - Eu sou o Agente Clark Davis, do FBI. – disse mais serio ainda. – Agora, se me permite saber, o que faz aqui?

       - Vim visitar o mausoléu da minha família ali na frente.

       Davis sabia muito bem quando alguém mentia, e esse Robert Murphy tinha um letreiro luminoso bem grande em sua testa piscando “mentiroso”.

       - Mas o que um Federal faz aqui em Aaron River?

       - Uma investigação difícil demais para a polícia local. – disse cutucando Piston.

       Davis e Robert travavam uma guerra com o olhar. De cara, um não gostou do outro. Estavam em um silêncio súbito quando ouviram o barulho de algo caindo no chão: era o caixão que finalmente fora tirado da cova. Estava com uma grossa camada de terra por cima e os coveiros tinham um ar aliviado e ao mesmo tempo cansado, afinal, era um caixão enorme.

       - E agora, chefe?

       - Levem para o necrotério do cemitério.

       - Mas está desativado há meses, - o delegado insistia – só a funerária funciona na cidade.

       - Você tem as chaves do necrotério? – perguntou direto.

       - Tenho, mas. . .

       - Ele está em ordem, quero dizer, equipado?

       - Está. . .

       - Então me de as chaves. – esticou a mão e esperava as chaves. Ninguém iria obstruir essa investigação.

       Piston olhou para Robert, suplicante, que o fuzilava com os olhos. Não teve outra saída, tirou o molho de chaves que carregava preso ao cinto e dele tirou uma chave media.

       - Abre a porta da frente. Na entrada, num porta chaves do outro lado do balcão da recepção, preso á parede, tem as chaves das salas de necropsia e do escritório. – relutante, entregou as chaves.

       - Obrigado. – sorriu satisfeito. – Senhores, - dirigiu-se aos coveiros. – sigam-me.

       Acenou para Robert com a cabeça e sem mais, saiu do gramado, seguido pelo caixão, indo em direção ao norte do cemitério, onde ficava o necrotério.

       - Seu idiota! – Robert esbravejou indo em direção ao delegado. – Como deixou isso acontecer?!

       - Ele chegou com uma ordem judicial. . . – dava uns passos para trás, amedrontado.

       - Será que é tão difícil entender? – dizia com os olhos injetados de raiva. – Será que eu vou ter que explicar de novo?

       Robert investira um soco contra o estomago do delegado que caíra ajoelhado, sem ar, vermelho como um tomate, os olhos lacrimejando. O agressor puxava a arma do coldre que trazia escondida pelo casaco e apontara para a cabeça de Piston.

       - Quando eu digo para impedir uma investigação, você impede.

       - Eu não pude fazer nada, esse cara é esperto, muito esperto, veio com um mandado de Washington, claro que se ele tivesse requisitado o mandado aqui, ele não o teria. – suplicava.

       - Eu estava ocupado, tratando dos meus negócios quando Ike me disse que te viu sair da delegacia com aquele Federal filho da mãe. – rodeava Piston. – Agora ele vai abrir o bastardo. Me diz, por que eu ainda mantenho um estorvo como você vivo e me aborrecendo?

       - Você precisa de mim para encobrir seus rastros! – tinha a voz trêmula. – Há quantos anos eu trabalho para você, limpando a sujeira dos seus macacos?

       - Mas parece que não anda fazendo seu trabalho direito. – encostava a arma na testa de Piston. – Seu inútil.

       Seu coração batia descompassado, chorava agora, podia ver claramente a morte dizendo “oi”. Fechou os olhos quando começou a rezar. No entanto, Robert abaixou a arma.

       - Você disse que ele é esperto, eu também sou. – andou em direção ao tumulo aberto de Kevin.

       Confuso, Piston levantou-se do chão, estranhava essa mudança repentina, sabia que quando Robert sacava sua arma, ele a usava.

       - Tem razão, Jake, preciso de você. – disse enigmático.

       - Por quê?

       - Está vendo essa arma? – sorria.

       - Claro.

       - É a arma que usei no Desmont.

       - Por que será que não estou surpreso? – deu de ombros.

       - Observe.

       Robert esticou o braço e deixou a arma cair no túmulo.

       - O que está fazendo?

       - Estou usando minha cabeça para algo mais do que segurar o pescoço.

       Pegara uma pá que os coveiros haviam deixado sobre o monte de terra que haviam tirado da cova. Pegara um pouco de terra com a pá e jogara dentro do tumulo, por cima da arma, enterrando-a, jogou mais duas pás de terra e jogou a pá de lado, em cima do monte. A arma sumira dentro do tumulo e agora Robert vinha em sua direção.

       - Agora é isso o que você vai fazer: vai voltar para a delegacia correndo e vai redigir um boletim de ocorrência informando o roubo da minha arma, mas com data de três dias antes do incidente com aqueles infelizes. O resto deixa comigo. Vou mandar esse cara de volta para Washington em dois tempos. Quanto a você, - voltou-se para Piston – tô marcando tudo no meu caderninho, lembre-se disso.

 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

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"Mundo Insano", de Gabriel Farré

 

Olá gente, esse é mais um texto de um amigo blogueir, Gabriel Farré, criador do blog, http://blog.visioncorporationbr.com/ , muito bom!!!

Mundo Insano

Eu estava pensando nesse mundo insano
No qual todos tentam fugir
Especificamente eu

Fiquei dias sem dormir
Na irrealidade e agora
Como vamos conseguir viver

Nesse mundo insano
Que todos tornam-se
Irreais e inquietante

O que agora poderemos
Fazer para voltar a
Nossa realidade


Read more: http://blog.visioncorporationbr.com/2012/10/mundo-insano.html#ixzz285O3iR2D
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"As Crônicas de Tricksters" capitulo 28, de BC Carvalho

Olá Leitores, esse é um trecho de um livro de um parceiro, BC Carvalho, escritor do "Clube de Autores". Vocês podem se informar mais no blog bccarvalho.blogspot.com e ver mais sobre essa obra no link https://clubedeautores.com.br/book/130649--As_cronicas_de_Tricksters
boa leitura!!!


Capitulo 28 – Hermes.
Thobias havia comido a erva que Steve havia recebido de Faarael e finalmente tinha parado de se decompor no liquido gosmento e cinza causado pelos encantamentos mágicos do tártaro na qual Thobias não fora suficientemente forte o bastante para ser capaz de se imunizar. Ele ainda estava muito frustrado, mas não mais completamente deprimido como estava antes de receber a planta. Estava sentado cabisbaixo e calado ao lado de Steve que estava em pé demasiadamente apreensivo com tudo que havia se desprendido desde que chegaram ali, trazidos pelo Necrhomancer.

-Ei Thobias, eu me lembrei de Faarael, este ser que acabou de vir aqui trazer o seu remédio e ele nos ajudou a escapar daqui na nossa fuga há tempos atrás. Acho que ele poderá nos ajudar – Encostado na parede e ainda com muita esperança comentou em tom bem discreto, Steve.

-Eu não consigo me lembrar, de qualquer forma acho pouco provável algum anjo-renegado ou qualquer criatura deste lugar nos ajudar – Disse Thobias ainda sentado e cabisbaixo e com a voz rouca.

-É, talvez. O que acha que vai acontecer conosco?

Perguntou Steve, com certa inocência no seu tom de voz.

-Decerto a pior das punições já recebidas por qualquer ser que veio até este local. Fizemos o que qualquer um jamais teve coragem de fazer, e neste momento Hades deve estar pensando em qual a melhor forma de nos fazer sofrer.

No mesmo tom de antes, continuou Thobias.

Steve e Thobias já não mais aguentavam de fome e sede, seus corpos estavam completamente castigados pelas necessidades fisiológicas. Seus lábios mostravam desidratação profunda, a pele suja, estavam fétidos e o estomago não parava de roncar. Já ia completar quatro dias que estavam presos, seriam esses os piores quatro dias de suas vidas.

Algo bateu nas grades da cela onde estavam os dois humanos. Steve olhou, Thobias manteve-se cabisbaixo fitando o chão, era um demônio que viera trazer alimento. Numa bandeja alguns pedaços de carne e algumas bolas de arroz acompanhado de dois copos de água.

-Comam, humanos malditos, senão morrerão de fome e o Senhor Hades ficaria muito furioso se a fome permitissem que morressem tranquilamente – Disse ao jogar a bandeja sem o menor pudor em cima de Steve que caiu no chão esparramando o alimento nos seus pés e em seguida saiu dando tenebrosas gargalhadas.

-Tome Thobias, tome água – Ofereceu Steve a seu companheiro um copo d’água.

Thobias olhou de lado quase sem mover a cabeça, e com muito nojo aceitou beber daquela água, só por que já estava insuportável a sede que sentira. Steve também bebeu e comeram o que havia para comer quando ele abaixou e colocou novamente os pedaços de carne dentro da bandeja.

Passou-se mais um dia, até que finalmente um Anjo-renegado veio até a cela anunciar que seus dias de prisioneiros haviam chegados ao fim e Hades queria a presença de ambos para anunciar suas punições diante de uma horda de demônios e anjos.

Subiram acompanhados, com as mãos amarradas para trás, pelo anjo que não reconheceram, passando por uma escada de pedra que parecia interminável. Nas paredes havia algumas faces petrificadas encrostadas, algumas mostrando pânico e outras de olhos fechados e serenas, Steve não se lembrara daquilo e fez face de nojo ao observá-las.

-Parece que hoje será um péssimo dia para vocês – Zombou o anjo-renegado, dando risos de ironia enquanto puxava Steve preso a Thobias pelas mesmas cordas que mantinha suas mãos para trás.

-Saiba que péssimo dia será quando Zeus souber o que estão fazendo conosco – Ameaçou Steve, sem temer as conseqüências de suas palavras.

-Zeus está pouco se lixando para humanos perdedores e fracassados.

O Steve ignorou e não quis debater com o ser divino, pois sabia que Zeus os amparava fossem quais situações estivessem e continuou a subir as escadas até que finalmente chegou ao fim, revelando um salão imenso repleto de ornamentarias como um imenso lustre de pedras preciosas raríssimas e diversas estátuas feitas de esmeralda, jade, diamante e outros tipos de materiais. Havia também um tapete vermelho estendido por todo o chão e uma escada que levava até o trono de Hades. Ele não estava e nem sua esposa, Perséfone.

Dentro do hall, havia dois outros anjos no portão de entrada que guardavam a entrada do castelo do senhor dos tártaros.

-Me sigam – Ordenou um anjo que os recebera deixando aquele que os carregara até o momento para trás.

Sairam pelo portão principal e se deparam com uma multidão de anjos-renegados e demônios e alguns deuses que aguardaram muito tempo pelo retorno dos traidores e anseiavam pela sua mais cruel punição.

Por dias não viam a luz da claridade, embora não houvesse um sol lá, o céu emitia uma iluminação natural como se fosse uma iluminação de tochas de fogo, então a luz era fraca, mas permitia enchergar muito bem e um percebera o quanto o outro estava destruído pelo tempo aprisionados. Steve viu os lábios de Thobias rachados e completamente desidratrados, sua pele pálida e várias escoriações demonstravam o quato ele havia sofrido durante nesses últimos dias.

O anjo que mantinha preso os dois humanos os levou para cima de um tablado de madeira onde havia um demônio mascarado que segurava uma chave imensa nas mãos, e os deixou a sós com o demônio.

Abaixo, a multidão de anjos-renegados e demônios gritavam pela mais terrível punição aos dois. E uma voz estrondosa acalmou os nervos das criaturas raivosas.

-Calem-se agora! – Gritou a voz que ecoou dos fundos da porta principal do castelo revelando a presença de Hades, acompnhado de um lado por Gohko e do outro por Faarael.

-Olha Thobias, é Faarael! – Exclamou Steve bem baixinho para Thobias assumindo certa alegria em sua expressão, Thobias o avistou e não disse nada.

-Hoje teremos a ilustre presença desses dois grandes traídores, Kimael e Haazael, que agora respondem pelo nome humano de Thobias e Steve – Dizia Hades enquanto vinha se aproximando dos dois por entre a multidão, agora calma – E é com uma grande honra que eu anuncio o retorno dos meus adoráveis e queridos anjos!

Hades mantinha uma aparência serena e tranquila, talvez feliz por ter conseguido novamente conquistar os dois e demonstrar quem era o todo poderoso naquele local. Seu cabelo estava louro-claro e bem comprido, uma tiara dourada reluzia com pedras preciosas de todas as cores possíveis, não usava o traje de guerra que costumava usar ao lado da túnica, e somente uma vestimenta de seda branca com alguns entalhes bordados vermelhos. Sua pele clara e seus olhos azuis, além de sua voz serena e seu corpo mirrado significavam que ele estava de bom humor naquele dia, pois sua aparência vivia em constante mudança conforme seu humor.

Ele se aproximou do palanque onde estavam presos com as mãos acorrentadas para trás.

-Sejam bem vindos, caro Kimael e caro Haazael. Acho que vocês adorariam ser chamados por este nome novamente, certo? – Hades soltou um leve riso de lado, mostrando sua mais profunda irônia.

Ainda ao seu lado, Gohko e Faarael mantinham uma postura séria e Faarael hora ou outra disparava uns olhares estranhos e profundos a Steve cujo ele não conseguira compreender o que signicava.

Hades virou-se para a multidão e bradou:

-O que vocês acham que devo fazer com os traídores?

E os gritos mostraram novamente o que deveria ser feito. Alguns gritaram para queimarem por toda a eternidade, outros dizendo para torturá-los, foram diversas as idéias, mas Hades não estava disposto a fazer esse tipo de tortura, queria algo nunca feito antes e nem pensado, algo que iria surpreender a todos.

-Vocês são realmente pouco cruéis – Ironizou o deus virando-se novamente para os dois humanos - Eu tenho planos para algo mais sutil e gentil para estes dois. – Ele se afastou de Steve e Thobias e caminhou pela multidão enquanto sua voz ecoava – Pretendo fazê-los sofrer, claro, além do mais mentiram pra mim, me traíram, foram correndo até o pátife Zeus e me entregaram arruinando para sempre os meus planos. Definitivamente, eu deveria enforcá-los com suas próprias tripas, fazê-los caminharem sobre suas próprias cabeças, penetrá-los com milhares de arpões em seus corpos enquanto sofrem por toda eternidade sem o alívio da morte, mas, infelizmente não poderei fazer nada disso.

Para a surpresa de todos, que cochiram entre si coisas como: “Como assim”, “Impossível”, “Por quê?” mostrando a frustração do povo que aguardava algo mais sangrento. Para o alívio de Steve e Thobias.

-Eu simplesmente os jogarei no nono inferno para que Lúcifer decida o que será melhor a eles.

O silencio habitou. Todos mantinham faces de surpresa e estavam chocados com a decisão de seu deus. Ninguém disse nada e Hades finalmente voltou a ficar próximo dos dois.

-Eu só poderei jogá-los, ainda vivos no inferno para que sofram a crueldade milhares de vezes pior do que a minha com demônios e anjos infinitamente mais terríveis do que aqui – Ele disse e riu de forma sutil.

Antes que pudessem dizer algo, Hades virou-se imediatamente com a mão extendida gritou:

-Belzebul, leve-os para o Cócitos!

Imediatamente surgiu do ar uma criatura que trajava uma capa preta que cobria todo seu corpo, segurou os dois com umas mãos esqueléticas ainda voando e antes que pudesse sumir levando consigo Steve e Thobias, um imenso clarão fez com que Belzebul desaparecesse e todos ali presentes não pudessem enchergar nada, mas Hades se adiantou e gritou com a maior potência que seus pulmões puderam:

-Liberar! – E imediatamente o clarão sumiu revelando que Thobias, Steve e Faarael não estavam mais em seus devidos lugares.

Hades, agora assumiu um par de imensos chifres, sua pele ficou escura e rachada como um couro, e sua altura aumentou até ficar com uns cinco metros, seu nariz expelia fumaça e seus olhos disparavam braça incadescente, seus braços tinham enormes musculaturas e adquiriu uma postura esguia. Seu cabelo ficou preto e curto e sua tiara desapareceu juntamente com sua túnica que se trasformou numa armadura de guerra preta e vermelha. Hades agora assumira a forma de um verdadeiro demônio completamente enfurecido com a segunda traição que acabara de acontecer perante seus olhos com as mesmas pessoas de antes.

-Peguem eles – O seu grito ecoou por todo o tártaro mostrando o mais puro ódio que sentia.

Todos os anjos e demônios que estavam ali imediatamente partiram atrás de Faarael, que já estava muito distante segurando Thobias e Steve pelas mãos enquanto suas asas batiam o mais depressa possível em direção as montanhas de Corvéia.

ººº

-Grande Zeus – Gritou Athena, antropomorfotizada à enquanto corria desesperada pelo palácio de seu a procura do mesmo.

Imediatamente após ouvir seus chamados ele assumiu a forma de um velho barbudo e cabeludo como gostava de apresentar a sua filha.

Athena adentrou a sala particular de Zeus aos gritos para anunciar que Thobias e Steve estavam em perigo, pois ela seria a que mais se importava com os dois humanos, sendo antes a responsável por fazer com que Zeus realizasse os desejos dos dois humanos, quanso ambos traíram pela primeira vez Hades.

-Eu sei Athena – Ecoou com uma tempestade de trovões a voz tenebrosa e cavernosa de Zeus. Ele disfarçou escondendo algo que ele não queria que ela decobrisse e então fez aparecer novamente ás imagens no espelho que mostrava a fuga dos três seres dentro tártaro.

-Por favor, meu pai, não permita que eles sejam capturados! – Disse ela, aos prantos na presença de seu pai.

-Eu não posso fazer nada Athena, não posso adentrar nos tártaros, isso poderia causar uma guerra interminável entre nossas forças e as forças tartarianas.

-Não os deixe que eles caiam nas mãos do terrível Hades – Implorou Athena, sem sucesso.

–Eu vou descer até lá e salvá-los!

-Não – Gritou Zeus com muita fúria no momento em que virou a sua atenção a ela – Não permitirei que se arrisque por esses dois humanos – Ele fez uma face de muito ódio e seus olhos chegaram a disparar faíscas elétricas e com muito pesar ele foi obrigado a dizer - Eu providenciarei que Hermes os ajudem.

Zeus usava uma armadura de guerra feita por Hefesto em prata com diversos detalhes de pedras preciosas e ouro. Uma capa de seda branca jogada por cima de seu corpo o dava uma aparência ainda mais fantástica. Suas asas saiam pela capa e eram imensas.

Hermes sempre usara a mesma forma humana cujo tinha a aparência de um adolescente, usava uma túnica azul clara e um par de botas de ouro com pequenas asas grudadas nas laterais. Suas asas eram brilhantes e sempre andava com um tipo de bastão que permitia ficar ainda mais rápido em conjunto com suas botas mágicas e suas asas diferenciadas das dos outros deuses. O bastão também poderia usado em combates, conjurando tempestades e feitiços extremamente poderosos. Era um deus belo e sedutor e seu cabelo louro e seus olhos azuis eram fatais nas suas conquistas femininas, além de sua voz serena e calma que combinava com seu charme.

-Quero que desça agora aos tártaros e me tragam os dois humanos que estão lá dentro junto ao anjo-renegado que os mantém a salvo.

Ordenou Zeus quando Hermes surgiu dentro do seu quarto pessoal.

Imediatamente, Hermes voou o mais rápido possível até a entrada do tártato atravez do próprio olimpo.

Passou pelo flagetonte, atravessou sem ser percebido, devido sua velocidade, pelo cão Cérbero e finalmente subiu até o topo até encontrar um saída dentro de algo que parecia ser uma caverna. Ao passar por essa entrada, já estava no tártaro. Aguçou sua visão até perceber uma multidão se movimentando intesamente a uma distância considerável.

-Parece que temos um pequeno problema aqui – Ironizou.

Saltou num vôo alucinado em direção a multidão, ao seu redor estava tudo escuro por que Hermes estava voando na velocidade da luz, dentro de alguns segundos chegaria ao seu objetivo.

-Ares – Gritou Hades.

E então, no mesmo instante Ares surgiu ao seu lado, pomposo e glorioso de seu poder.

-Pois não, senhor.

-Temos visitas de deuses, vamos agora! – Então os dois partiram também voando na velocidade da luz.

Hermes percebera que logo atrás, os dois vinham extremamente furiosos e pensou que poderia estar se metendo num grande problema, ele não era poderoso suficiente para dar conta de dois grandes deuses, além de centenas de anjos-renegados e outras centenas de demônios.

Faarael ainda não tinha percebido a presença de Hermes, e quando olhou para trás viu a multidão querendo sua vida, não hesitou, virou-se para trás e disse:

- Kátharsi!

E disparou um flash que reluziu por todo o tártaro, atrasando um pouco as criaturas que vinham logo atrás, mas não as duas fumaças negras que vinham bem lá atrás, que eram Hades e Ares.

-Faarael, Hades e Ares estão vindo lá atrás, não devia ter feito isso! – Disse Steve, sendo carregando pelo braço pelo companheiro.

Faarael olhou para ele e disse:

-Eu sei que vamos conseguir. Eu te prometi entregar o seu pingente quando fosse humano. Eu quero ser como vocês, quero ser humano, foi por isso que os resgatei de Nechropoles!

Imediatamente Thobias tomou um choque e disse:

-Não pode ser, você era aquele necrhomancer? – Completamente indignado perguntou Thobias.

-Sim, as coisas eram para serem piores, eu soube que o velho nechromancer desejava mata-los e entregar a suas almas a Hades, então o matei primeiro e tomai seu lugar para trazê-los vivos para cá para que me tirassem daqui. Eu sei que agi de má fé com ambos, mas não se preocupem, eu farei de tudo pra sairmos vivos daqui.

Agora tudo fazia sentido e Thobias e Steve não sabiam o que deveriam sentir, se era raiva ou alegria por estarem escapadando, mas de qualquer forma, deixariam isso para depois, agora teriam que pensar em como escapar.

-E o que vai fazer agora? Há uma furiosa cavalaria vindo atrás de nós, acha que é só chegar até as montanhas e pronto? – Disse Thobias, enquanto era carregado por Faarael e um pouco raivoso pela atitude do ex-colega de serviço.

-Não. Os planos serão expontâneos, a gente vai pensando – Sem muito se preocupar, respondeu Faarael.

Ainda na metade do caminho, já estavam quase sendo atingidos por esferas de magias disparadas pelo inimgos logo atrás.

E, de forma repentina uma colossal esfera vermelha repleta de energia destruidora passou muito perto de atingir os três que foram obrigados a impulsionar a cima para evitar serem atingidos. Hades havia feito disparo e estava mais próximo do que seu exército.

No momento em que Faarael olhou para trás para analisar outra magia que vinha atrás também disparada por Hades em sua direção, pareceu ser tarde demais, pois a esfera já estava muito em cima para tentar uma esquiva e muito poderosa para ser defendida com uma magia de proteção, mas algo aconteceu, algo se chocou contra a esfera causando uma explosão gransiosa que ricohetceu para todas as direções milhares de glóbulos reluzentes. Uma mão segurou Faarael, e os dois humanos e muito rapidamente com a outra mão que segurava um bastão emitiu uma magia muito reluzente que extremeceu todo o chão e devastou uma área muito extensa.

Porém, dentre a luz que o segundo poder emitira, surgiu Hades em direção de Hermes, que segurava com o braço esquerdo os dois humanos e o anjo. Hades preparou um ataque no seu punho e foi disparar contra Hermes, que muito rapidamente esquivou e aproveitou para disparar um contra-golpe no rosto de Hades que foi ao chão. Mas algo atingira em cheio as asas de Hermes que rugiu de dor e foi obrigado a soltar Faarael e os dois humanos, e em seguida um flash clareou tudo e emitia um som muito agozinazante.

Thobias estava no solo, havia caído de uma altura baixa sendo que Faarael havia soltado sua mão no momento do flash, não havia ferido. Ele não podia enchergar nada. Percebeu o chão extremecer várias vezes, algumas vezes relampejos passavam bem próximos causando destruições em seu arredor.

- Steve – Gritou Thobias, sozinho, colocando um dos seus braços na frente dos olhos na tentativa de enchergar melhor.

Não ouviu respostas. De forma repentina, um anjo surgiu em meio à claridade e se disparou em sua frente pronto para perfurá-lo com uma fina espada. Mas, algo logo atrás de Thobias disparou um raio muito fino de laser branco que aintgiu no peito o anjo que tentara contra Thobias, levando para longe dali.

-Kiamel, você está bem. – Perguntou Faareel vindo em sua direção, revelando que fora ele que salvou o humano em apuros.

-Cadê Steve? – Perguntou Thobias completamente apavorado perante aos tumultos de barulhos de choques de espadas, de chão se destruído e de magia sendo disparadas, ainda na claridade que alguém ainda não havia descoberto quem causara.

Logo a luz começou a diminuir e exibir a luta de Hermes, Hades e Ares acima deles. Embora Hermes fosse muito mais fraco, era bem mais rápido e estava levando vantagem. Os choques dos impactos entre seus corpos emitiam uma onda de energia que ia desvastando o solo do tártato como se estivesse sendo atingido por uma chuva de meteoros, lançando imensos fragmentos de rochas aos ares e obrigando Faarael muitas vezes ter conjurar escudos mágicos para defender Thobias ou disparar contra os pedaços de pedras que eram certeiros em suas direções.

Sem se importar com a batalha que ocorria logo acima de sua cabeça, Thobias corria sem rumo gritando o nome de Steve.

-Kimael – Veio Faarael correndo logo atrás – Ele está lá. Veja – Apontou para um ser que estava jogando no chão, desacordado.

Thobias foi correndo em sua direção usando todas as suas forças que estavam dizimadas e sem se importar com o perigo aos redores de anjos querendo sua morte ou dos choques da batalha dos deuses logo acima. Ainda um pouco longe, viu um anjo descer com sua espada no ar para acertar Steve, mas Faarael, logo atrás de Thobias, disparou de longe uma esfera brilhante que carregou o inimgo para bem distante em seguida explodiu indo aos ares seus pedaços de carne e seu sangue prateado.

- Steve, acorde – Gritou Thobias, ajoelhado perante o corpo imóvel do seu companheiro, na tentiva de elevar sua voz acima do barulho ensurdecedor que vazia entre a batalha dos deuses acima de seus corpos, no ar do tártaro – Acorde!

-Se afaste Kimael, vou ajudá-lo – Faarael retirou Thobias de cima de Steve e em seguida mirou no humano caído e gritou.

-Desperte-se.

E num pulo de susto, Steve se levantou, completamente desnorteado e sem saber o que acontecera e como havia chegado ali, pois havia desmaiado no momento do flash.

-Thobias! – Gritou ao ver Thobias no seu lado – O que está havendo?

Nem precisou que o companheiro abrisse a boca para responder essa questão, ele olhou para cima e então presenciou umas investidas que Hermes disparara contra Ares, mas atingido por Hades no tronco com um murro avassalador e inimaginavelmente poderoso.

-Grande Zeus! Temos que ajudá-lo! Ele veio até aqui para nos salvar – Muito chocado com a surra que o deus mensageiro dos deuses estava levando exclamou aos gritos Steve, se levantando do chão e cerrando os punhos.

Sobre o solo, haviam muitos anjos caídos devido aos ataques de Hermes. Mas alguns, hora ou outra, apareciam para tentar aniquilar os dois humanos, mas sempre protegidos por Faarael que dava o suporte enquanto Thobias decidia o que ia se suceder.

-Eu vou ajudar Hermes, fiquem aqui!

De súbito avisou Faarael e partiu em vôo, penetrou dentro de uma esfera causada pelo choque de Hermes e Ares, sem esperar o consentimento dos companheiros que ficaram para trás indefesos em meio aquele local muito perigoso.

No chão, os dois humanos observavam à grande batalha que se estendera graças a eles sem que nada pudessem fazer para ajudar. Viram, em alguns relances, Hermes combinando ataques formidáveis com Faarael, mas um único ataque que o anjo recebia já lhe causava tenebrosos danos. Hora lutavam no chão, hora lutavam com magia, hora com os punhos, mas o fato era que eram muito rápidos e extremamentes delicados nos seus ataques, sempre disparando um golpe pensando no que poderia ser feito em seguida, utilizando isso como meios de se sobre-sairem e utilizar como vantagens.

Gohko surgiu atrás de Thobias e Steve sem que ambos percebessem, goterava um sangue prateado pela boca, pelas escoriações na face, no pescoço, no tórax e em todas as outras partes do corpo, já que finalmente havia conseguido virar um anjo-renegado. Isso fora uma premiação de Hades por ter traído Kimael, Haazael e Faarael, levando também, essa traição aos três antigos parceiros, a uma punição a Faarael que durou milhares de anos.

-Finalmente terei o meu glorioso sucesso!

Aquela voz fez com que Steve travasse, havia se lembrado daquela voz, era o mesmo que outrora havia traído-o. “Gohko” pensou. Thobias virou-se e deu de cara com o anjo demasiado ferido segurando uma fina espada prateada.

O anjo Gohko nem pensara muito para não dar chance a Faarael surgir e tentar impedir seus palnos, sendo assim, levantou a mão em direção aos dois, e criou uma esfera, fez um sorriso discreto de comemoração e disse:

-A vitoria será minha – E disparou uma esfera escura contra os dois humanos, que somente ficaram parados, sem temer a morte que os aguardava, preferindo isso a serem torturados por toda a eternidade.

O golpe deveria ter atingido Thobias e Steve, porém alguém se jolgou na frente e fora atingido nos seus lugares, e esse mesmo ser aproveitou o momento em que estava sendo impulsionado para trás devido ao choque do poder, levantou a mão direita e ainda no ar e bradou:

-Skoura Spathi.

E uma luz muito fina como uma mira a laser atravessou, como uma fina lâmina, o corpo de Gohko, divindo-o em duas partes que caíram uma para o lado esquerdo e a outra para o direito, e em seguida o corpo que tinha se jogado para salvar os humanos terminou de cair em cima dos dois, brutalmente ferido deixando jorrar muito sangue pretado de seu tronco mutilado.

No mesmo instante, Steve se abaixou para socorrê-lo e reconheceu o ser:

-Uriel! – Gritou diante de seu corpo caído no chão, quase sem vida.

-Você nunca viu bondade em mim, Haazael, como outrora havia dito a Faarael, mas eu tinha que lhe mostrar o contrário – Balbuciou bem baixinho com as poucas energias que lhe restava e deu um riso exibindo que era ao contrário do que Steve havia dito em outros tempos – Eu decidi, naquele dia, não ir com vocês para tentar impedir que Gohko revelasse os planos a Hades, mas em vão – Gaguejava enquanto tentava dizer suas ultima palavras o anjo cujo havia salvado a vida dos dois humanos - Ele me ludibriou e conseguiu vos trair. Porém, minha hesitação não fora em vão. Eu fiquei e permaneci ao lado de Faarael, protegendo-o durante todos os seus dias que eram para ser de sofrimento pela sua traição. Eu fui convocado para fazer a guarda dos seus dias de tortura, Faarael se quer teve um único dia de sofrimento, por que eu não iria permitir, jamais!

-Uriel, vai ficar tudo bem! – Thobias não o reconhecera e estava ao lado de Steve, observando o acontecimento sem nada poder dizer ou fazer.

-Não! Não desejo mais nada! Apenas morrer e ir para o Campo de Elísios e quem sabe poder finalmente ser feliz – Tossiu espirrando seu sangue prateado em Steve.

-Aguente firme, Hermes irá nos tirar daqui e Zeus poderá ajudá-lo e curá-lo, dar a humanidade a você e poderá ser feliz ao nosso lado.

Uriel fez uma face de negação e puxou Steve pelo colarinho e disse bem no seu ouvindo balbuciando e derramando sangue pela boca:

-Zeus? – Ele tossiu, encontrou mais forças e prosseguiu – Eu acho que é ele quem precisa de ajuda por aqui!

Logo em seguida, seus olhos se fecharam e seu corpo subiu aos céus do tártaro, indo a uma explosão que clareou, com uma luz incrivelmente brilhante, juntamente com um fogo tão quente e belo como um sol toda aquelas regiões, inclusive as mais remotas, como o Campo de Élísio.

Outrora, Uriel havia sido um anjo auxiliar da morte e que era responsável por escolher as almas, cujo deus da morte violenta, Queres, iria levar e sempre que uma pessoa morria queiamada era imediatamente relacionada a Uriel, que escolhia as almas e Queres ia à busca fazendo morrerem queimadas.

Imediatamente após o clarão que se fez com a morte de Uriel, Hermes foi disparado ao lado de Steve numa pancada brusca no chão, ele se virou ao humano e exibiu uma face completamente mutilada e desfigurada, estava com um dos olhos furados e sua testa e suas bochechas completamente na carne.

-Eu só irei sair daqui levando vocês, nunca falho numa missão – Antes mesmo que pudesse voltar ao campo de batalha, Hades se jogou em sua direção, mas Faarael se pôs na frente e estendeu os braços dizendo com todas as forças que pôde.

-Kátharsi.

E novamente disparara o mesmo clarão que um dia disparara junto a Haazael para permitir que os companheiros fossem salvos por Zeus. Hermes aproveitou o momento e de forma muito violenta segurou no braço esquerdo de Faarael, puxou Steve e Thobias, e como um trovão, deixou o local.

Hades tentou ser muito rápido, mais rápido que o deus cujo era relacionado a velocidade e passou a mão pelo trovão que se formara com o desaprecimento de Hermes, mas, para sua completa decepção, não conseguira ser rápido o suficiente para pegar Hermes.

ººº

Quando Steve acordou, estava numa calçada de uma cidade que não pode identificar de primeira vista, estava chuviscando e o clima ameno, era noite e estava vazio. Thobias do seu lado estava ainda desarcodado e vestiam os mesmos trajes de quando haviam ingressado no tártaro e ainda mantinham as aparências castigadas pelos péssimos momentos que passara lá dentro.

-Ei Thobias – Steve se levantou e sacudiu o companheiro na tentiva de acordá-lo, mas ele resisitu – Ei Thobias, acorde – Insistiu Steve, novamente sem sucesso.

Pela ultima vez, Steve balançou-o com muita força e Thobias levantou-se num salto cheio de fulgor segurando um globo de luz brilhante na mão diante da face de Steve.

- Steve! – Disse abaixando a mão e fazendo o globo sumir. – Onde estamos? – Questionou também se levantando e percebendo que estavam longe do tártaro.

-Acho que estamos perto de casa.

-O que houve? – Perguntou completamente confuso com os recentes fatos, mesmo sabendo que Thobias não teria a resposta.

-Não sei Steve, mas a gente tem que se apressar e voltar para o QG e ajudar nossos companheiros. – Disse Thobias, adquirindo um riso no rosto que demonstrara sua alegria em finalmente ter voltado a terra.

De cima, lá no Olimpo, Zeus observava pelo espelho no seu quarto pessoal, a alergia dos humanos com muita fúria.

-Esses dois quase me custaram a vida de um dos deuses mais importantes do olimpo.

Bradou muito furioso o deus à Athena dentro do seu quarto, que ouviu todas as reclamações em silêncio, cabisbaixa e entristecida pela situação em que Hermes ficara depois de ter sido subemetido a uma batalha contra outros dois grandes deuses.

-Sorte que aquele anjo-renegado o salvou – Disse referindo-se a Faarael.

-E onde ele está? – Perguntou Athena, ainda cabisbaixa perante a supremacia do seu pai.

-Hermes está bem. Está sendo cuidado por Panacéia. Seus ferimentos já estão sendo curados – Com um tom amargo e rude disse Zeus.

-Eu quis dizer Faarael, onde está?

Perguntou Athena, para a fúria de Zeus que imediatamente virou-se para ela e não falou nada, apenas bradou para que ela se retirasse do seu quarto.

Zeus voltou a olhar para o espelho que exibia a imagem de Steve e Thobias em pé, prontos para continuarem os seus joguinhos incompreensíveis e cruéis. Em um espelho ao lado, era exibido o corpo de Faarael, logo ao lado de um pequeno lago em regiões desconhecidas e vazias, ele estava sem suas asas, o que significava que ele não era mais um anjo.





O livro pode ser conferido nesse link, no site do clube de autores.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

5

Trecho de "O Padre e a Bruxa" de Natalia de Oliveira




     "Ethan despertou devagar, enquanto abria os olhos, ainda estava naquele momento entre o sonho e o despertar, tudo meio que em névoa. Estava deitado, nu, numa cama que não era a sua. Então sua visão foi entrando em foco e o que viu foi o rosto adormecido de Samantha que ainda dormia de frente á ele, seu cabelo ruivo espalhado pelo travesseiro e uma expressão de paz tão linda que Ethan sorriu. Sentiu o perfume dos cabelos dela e a lembrança do que havia acontecido lhe ocorreu em uma fração de segundos, aquecendo seu coração e mais uma vez sorriu. Naquele momento, não pensava em seus deveres, nas consequências, na igreja, se era errado ou não, em nada, tudo o que queria era que aquele momento durasse para sempre. Sempre havia se perguntado como seria estar apaixonado por uma pessoa á ponto de arriscar tudo por ela, agora sabia.

Olhou para a janela que ficava perto da cama, estava escuro lá fora. Por quanto tempo dormira? Já devia ser muito tarde, mas para a sua surpresa não se importava. Sentia-se feliz como nunca se sentira na vida e nada mudaria isso.

Ele se aproximou mais de Samantha e beijou de leve seus lábios. Ela se mexeu um pouco, mas não acordou.

- Eu te amo. – ele sussurrou acariciando seu rosto e ela pareceu sorrir. Era verdade, naquele momento, oque Ethan sentiu pela primeira vez foi amor.

Ethan ouviu um barulho lá fora, como de farfalhar de folhas secas no chão. Ele virou-se em direção á porta por um instante intrigado, mas como o barulho não continuou ele voltou á sua posição inicial de frente para Samantha, ignorando o perigo que se anunciava. Demorou alguns minutos até que outra vez ouvisse o barulho, dessa vez mais perto da casa. Dava a impressão de que eram passos, não de uma, mas de varias pessoas. O som parecia rodear a casa, lentamente, como se estivessem tomando cuidado para não serem percebidos. Ethan intrigado colocou-se sentado e passou á prestar atenção e ficou olhando para a janela, quase soltando uma exclamação de susto ao ver um vulto passar por ela. Sentiu uma sensação terrível nesse momento, de que algo estava terrivelmente errado. O que estava acontecendo? Ele estendeu a mão para acordar Samantha, mas isso não foi preciso, pois nesse momento, a porta da cabana abriu-se com um estrondo, acordando Samantha com um pulo. Ella abraçou Ethan por trás, para também esconder sua nudez. Um homem grande, de jeans, boné e camisa de flanela entrou, ele havia aberto a porta no chute! Mais cinco homens entraram, todos no mesmo estilo grande e mal encarado, caipiras valentões, digamos assim. Não os conhecia, mas podia jurar que já os tinha visto nas “rodas de orações” de Annabeth, e agora eles estavam invadindo a cabana.

- Ele está com a bruxa! – um deles disse com uma voz vacilante, como se ele tivesse tomado um litro de energético Red Bull – Pega ele!

- Quem são vocês?! – Ethan protestou ao ver essa invasão. Como resposta, levou um tapa na cara.

Dois dos homens pegaram Ethan pelos braços, arrastando-o para fora da cama e da casa, como se ele fosse um animal, pouco se importando com o fato de que ele estava nu.

- Não! – ele protestou, tentando desvencilhar-se, debatendo-se como um gato, mas eles eram maiores e mais fortes. – Me solta! – ele continuava. – Samantha! – ele gritou, pois estava temendo oque aqueles homens pudessem fazer com ela, mas Samantha veio logo atrás, sendo arrastada do mesmo modo gentil por dois daqueles homens, estranhamente, um deles ainda ficou na cabana, aquele que havia arrombado a porta.

- Por favor! – Samantha gritava, chorava, eles a arrastavam pelos cabelos, e também não se importaram que ela também estivesse nua. – Não! – eles a jogaram no chão. Ethan podia ver seu olhar aterrorizado.

Os fanáticos os arrastaram até o gramado do lado de fora da cabana, onde muito mais gente esperava. Toda a congregação de Annabeth, aqueles fanáticos estavam ali, eram dezenas, com tochas, como um levante medieval, um comitê de linchamento.

- Não toquem nela! – ele gritou.

Os fanáticos que seguravam Ethan fizeram com que ele se ajoelhasse e começaram a investir socos contra sua face, e no terceiro soco, quando caiu ao chão, começaram á chutar seu estomago de forma violenta.

- Parem, meus irmãos. – ele ouviu uma voz calma dizer atrás dos agressores e eles realmente pararam. Era a voz de Annabeth que havia se aproximado enquanto os brutamontes espancavam Ethan. – Ele é inocente, foi corrompido pela bruxa.

Os agressores o levantaram para que ele olhasse para Annabeth. Ela estava com os cabelos um tanto emaranhados, seus olhos estavam arregalados e as pupilas dilatadas. Seu conjunto de linho lilás não combinava com a bolsa de couro marrom que trazia apertada embaixo do braço como se a bolsa fosse fugir dela. Finalmente havia acontecido, Ethan pensou, a loucura finalmente havia tomado conta de Annabeth. Não havia nenhum ser racional ali.

O homem que havia ficado na casa voltara agora, trazia duas peças de roupa, uma camisola branca de algodão que ele jogou na cara de Samantha que tremia compulsivamente e a calça jeans que Ethan usara aquela tarde, que por sua vez também foi jogada em sua cara.

- Cubram sua vergonha, pecadores. – Ela disse dando uns passos para trás.

Samantha olhou desesperada para Ethan. Ele retribuiu o olhar como que dissesse “Faça oque eles mandarem, eles são loucos, droga!”. Ambos se vestiram com as peças trazidas, no entanto continuavam sob o domínio dos agressores que os seguravam. O rosto de Ethan doía, bem como sua barriga e suas costas e manter-se ajoelhado era difícil.

- Aproveitou bem seus momentos de devassidão, padre? – Annabeth disse aproximando-se agora que eles não mostravam mais suas “vergonhas”.

- Você é louca! – ele disse com ódio.

- Louca? – ela fez uma cara de ironia. –Você dá as costas á Igreja para fornicar com aquela cadela e nós somos os loucos? - uma enxurrada de “Améns” se seguiram á essa frase. – Mas eu entendo, você foi corrompido, todos nós fomos, com palavras doces e olhos de serpente. – ela se aproximou dele e acariciou seu rosto, como faria com uma criança. – O momento da expiação chegou, e eu aposto que vocês não estavam esperando por isso.

- Se encostar em um fio de cabelo dela eu juro por Deus que. . .

- Oque? Jura o que? – ela riu – Você caiu em desgraça aos olhos Dele, Padre. – ela se virou para a multidão dizendo em alto e bom som – Estão vendo, meus irmãos, oque aquela maligna criatura fez?! – ela apontava para Ethan – Esse não era um rapaz qualquer, era um servo de Deus, puro, e ela o escolheu, ela o desvirtuou. Olhem para ele, – ela apontava – a arrogância e a luxuria o tornaram cego. Mas a culpa é dele?

- Não! – a multidão disse em coro.

- De quem é a culpa então, meus irmãos?

- É da bruxa! – responderam mais alto, levantando as tochas.

- Nós podemos deixar que essa cadela continue com o trabalho do Inimigo, que continue á nos afastar do caminho do Senhor?!

- Não!

- Não, não podemos. – Annabeth disse baixo.

Ela se aproximou de Ethan outra vez, com aquele olhar louco que ela tinha.

- Pelo menos nisso você foi muito útil, Padre O’connel. – ela abriu a bolsa que trazia apertada junto ao corpo e de lá tirou um livro. De começo, Ethan achou que fosse uma bíblia, mas percebeu que já tinha visto aquela capa antes.

- Meu Deus, não. . . – ele murmurou.

Ela levantou o livro alto e os detalhes em dourado na capa de couro cintilaram com as luzes das tochas e ouve uma ovação por parte da multidão. Era o “Martelo das bruxas”, o livro errado nas mãos erradas. Isso não podia estar acontecendo, como ela conseguiu o livro? Ele estava trancado em sua gaveta.

- Esse livro, irmãos, abriu os meus olhos.– ela disse com um sorriso macabro. – Obrigada, Padre, por ele. Ethan olhou para Samantha que o olhava com verdadeiro desespero. – Que tal começarmos com o básico? Amordacem-na e joguem-na no rio, se ela boiar, veremos o que faremos.

- Não! – Ethan gritou

Nesse momento, ele sentiu uma dor forte na parte de trás da cabeça, uma pancada, então caiu no chão e desmaiou. . ."

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

2

"Negocios são negocios" por Natalia de Oliveira


Negócios são Negócios
 


     - Põe mais uma dose aqui! – Nathan disse para Russ depois de secar o quinto copo de whisky.

     - Cara, você não acha que já está bom por hoje?- Russ, o barman disse com tom ameno enquanto secava um copo com um pano de prato branquíssimo.

     - Eu to dizendo para encher a porra desse copo. – Nathan disse ríspido.

     Russ olhou com pena para Nathan, seu amigo (freguês) de longa data. O rapaz não tinha mais do que vinte e cinco anos de idade, mas parecia mais, por causa de seu cabelo que exibia já alguns fios brancos, suas olheiras crescentes e sua feição cansada, de quem levou uma surra da vida.

     Nathan não tinha uma vida boa, isso até Russ podia ver e frequentava o Russel’s Bar á um bom tempo, fazendo de lá seu confessionário. Nathan era um bom homem, mas as coisas teimavam em dar errado em sua vida. Fora expulso de casa por seu pai quando era ainda adolescente por ter se metido com amizades erradas. Comeu o pão que o diabo amassou e conheceu Mariene uma das únicas coisas boas que já havia acontecido com ele e se casaram. Um tempinho depois, ele chegou em casa mais cedo e a encontrou com o zelador porto-riquenho do prédio. Ele não disse nada, apenas fechou a porta, saiu do prédio e foi até o Russel’s e entornou sozinho uma garrafa de whisky, quando chegou, ela disse que era culpa dele por ser tão distante e inútil e que queria o divorcio. Como estavam casados á um bom tempo, ela tinha direito á metade de tudo que era dele. Por consequência bebera ainda mais e seu chefe estava prestes á demiti-lo por chegar quase todos os dias bêbado. É, isso que era classe.

     Russ olhou para Nathan e pegou a garrafa de Jack Daniels.

     - Olha, cara, eu vou colocar mais uma pra você mas depois disso você vai para casa. Já passou da hora de fechar, se você não reparou só tem você e eu aqui. Você vai para casa, vai dormir, vai tomar vergonha nessa cara e dar a volta por cima.

     Russ encheu o copo com aquele abençoado liquido dourado com uma expressão muito reprovadora.

     - Assim, você não vai cativar seu clientes.

     Nesse momento eles ouviram o telefone tocando lá longe, no escritório. Russ olhou para trás e olhou para Nathan.

     - Eu vou atender o telefone e quando eu voltar eu vou fechar o bar, está me entendendo?

     - Como você é chato.

     - Cara, quando você fica bêbado, você fica intragável.

     Russ balançou a cabeça, guardou a bebida em baixo do balcão e sumiu por uma porta que ficava atrás do balcão. Nathan ficou sozinho com seu copo de alegria no silencio do bar vazio. Por que as coisas eram assim? Por que tudo dava errado para ele? Imaginava se havia caído da arvore do azar e batera em todos o galhos no caminho. Sua vida era uma droga e essa era a única verdade que conhecia.

     - É uma verdade, mesmo. – uma voz soou atrás dele, grave, fazendo-o se virar.

     Olhou para o bar e viu num canto, havia um homem em uma mesa, na penumbra. Estava muito quieto e ele teria passado totalmente desapercebido se ele não tivesse falado, tanto que Russ achou que só estavam ele e Nathan no bar.

     - O que? – Nathan disse forçando a vista para poder ver melhor o homem.

     Ele ficou em silencio, então ele se levantou e veio caminhando na direção do balcão, onde estava Nathan. O homem era alto e com boa aparência, se vestia muito bem, com um terno que Nathan teve certeza que era mais caro do que todas essas biritas juntas. Era muito bonito e tinha uma expressão serena. Ele se aproximou e se sentou ao lado de Nathan.

     - Dia difícil? – ele disse com sua voz macia. Seus olhos eram faiscantes, mas Nathan não conseguiu identificar a cor.

     - Parece? – Nathan bebeu um gole da bebida.

     - Quem nunca passou por isso, não é?

     - Eu te ofereceria uma bebida, mas. . .

     - O que é isso, faço questão.

     Do nada, apareceu na mão do homem, uma garrafa de vidro estranha, não fazia parte do acervo de Russ e parecia velha e o estranho homem completou o copo de Nathan. Bem, ele estava bêbado, mas ele percebeu que isso foi para lá de estranho.

     - Obrigado. – ele disse ressabiado.

     Nathan sorveu um gole do liquido que lhe desceu queimando mais do que o normal. O homem riu e com o rabo de olho ele viu que os dentes dele eram um tanto pontudos.

     - Mas o que é isso?

     - Uma coisinha da minha terra. – ele sorriu e fez uma pausa – Para beber desse jeito, você deve estar com algum problema.

     - Você sempre chega assim nas pessoas?

     - Só quando elas precisam de mim.

     - E eu preciso?

     - Todo mundo precisa, mais cedo ou mais tarde. – ele disse com um sorriso compreensivo.

     - Qual o seu nome? – Nathan disse ressabiado.

     - Eu tenho vários, mas meu nome, Nathan, não é importante. O importante, - ele tornou a encher o copo de Nathan que só então reparava que não tinha dito qual era seu nome. – é que estamos tendo uma ótima conversa. Agora, me diga o que aflige seu coraçãozinho?

     Nathan achou aquilo estranho, mas a voz daquele homem era tão convidativa, que quando percebeu estava fazendo uma dissertação sobre a sua vida, que pareceu durar horas. Contou tudo sobre sua vida miserável, a esposa infiel, o chefe marosco e como tudo dava errado em sua vida.

     - Mas então, diga-me, o que você quer? – o homem disse.

     - Que as coisas fossem diferentes, ué. – disse em tom irônico. – Que eu acordasse um dia e tudo estivesse diferente, que a vagabunda da minha esposa não me causasse mais problemas, que meu chefe não me perturbasse mais e que eu não tivesse que me preocupar se vou ter um lugar para morar amanha. Daria qualquer coisa por isso.

     - Feito.

     - O que? – nesse momento o copo que estava em sua mão se quebrou em lascas, fazendo um corte em sua mão.

     - Droga!

     - Permita-me.

     O homem tirou um pedaço de pano de linho de dentro do bolso e colocou sobre o corte somente, tirando logo em seguida.

     Ele se levantou e colocou o pedaço de pano de volta no bolso.

     - Mas. . .

     - Agora me vou, foi um prazer fazer negócios com você.

     - Mas que negócios? – ele disse mais interessado em pegar um guardanapo que estava ali no balcão para estancar o sangue que saia de sua mão.

     Quando ele virou-se outra vez, o homem não estava mais lá e não ouvira o som da porta se abrir. Olhou para o bar e uma sensação horrível lhe passou, um frio na espinha, uma sensação horrorosa.

     - Tudo bem? – Nathan ouviu a voz de Russ atrás de si e deu um pulo com o susto.

     - Russ, onde você estava? Você viu aquela cara? Ficamos conversando por horas.

     - Do que esta falando? Só sai por um minuto. E que cara? Não tem ninguém aqui. – disse com um tom intrigado.

     - Mas. . . – ele tentou dizer mas estava tão confuso quanto poderia estar.

     - Você está bêbado, isso sim, vai para casa. Ele disse por fim.

     Sem dizer mais nada, Nathan saiu do bar e voltou para casa com um sensação estranha no estomago, com se algo muito errado tivesse acontecido, só não sabia o que. Ele voltou para casa e dormiu no sofá como fazia desde o dia que pegava a esposa com o zelador. Teve um sonho muito estranho com aquele homem do bar, onde tudo o que via eram os dentes e os olhos faiscantes.

     Acordou na manhã seguinte com uma dor de cabeça muito forte, tanto que não abriu os olhos de começo. Esperou alguns minutos e abriu os olhos relutantemente. Colocou-se sentado e ia esfregar os olhos, mas deteve-se pois viu que sua mão estava vermelha, não vermelha, empapada de sangue. Olhou para a outra mão, também estava cheia de sangue. Levantou-se de um pulo e viu que sua camisa e sua calça de dormir também estavam cheias de sangue. Apalpou-se á procura de algum ferimento e não encontrou nada.

     - Ah, meu Deus!

     Afastou-se e olhou para o chão, havia uma trilha de sangue que levava até o sofá. Com o coração aos pulos foi seguindo a trilha de sangue e percebeu que ela vinha da escada lá de cima.

     - Não, por favor não. – ele tremia enquanto subia a escada.

     Lentamente ele foi seguindo a trilha de sangue e com uma dor no peito viu que a trilha vinha do quarto de Mariene. Ele abriu a porta e olhou lá dentro e caiu de joelhos desesperado. Mariene estava deitada na cama, havia sangue por toda parte, ela fora atacada no meio da noite e a faca ainda estava lá jogada no meio do quarto.

     Ele se aproximou da esposa, ela estava nua na cama, com os braços amarrados na cabeceira, o corpo estava todo perfurado, estava morta, bem morta.

     - Você não pode morrer agora, não pode! – ele pulou na cama e começou a tentar a desatar os nos que prendiam os braços de Mariene, mas não conseguia. Nesse momento ele ouviu o som de sirenes de policia se aproximando. Mas que droga!

     Os policiais que o encontraram disseram que ele estava totalmente descontrolado, banhado em sangue e não dizia coisa com coisa. Fora preso e acusado do assassinato de Mariene, pois a faca tinha suas digitais, ele estava na cena do crime e o pior, ele tinha motivo.

     Ele não se lembrava do que acontecera, estava bêbado demais para se lembrar, mas uma coisa sabia, ele não tinha feito aquilo. Por mais que odiasse Mariene, não teria coragem para mata-la, se o tivesse, teria matado ela no dia em que flagrara a traição, tentara argumentar isso, mas só piorara as coisas.

     Alguns dias depois, um guarda foi á sua cela, alguns dias antes do julgamento. Nathan estava deitado olhando para o teto.

     - Ai, estripador, tem visita pra você.

     Ele se levantou e seguiu o guarda através dos corredores da delegacia até a sala de visitas e quando entrou não tinha ninguém lá dentro.

     - Ei, não tem ninguém aqui. – disse para o guarda que não lhe deu atenção e fechou a porta, trancando-o. Ele caminhou pela sala estranhando tudo isso. Passou pela mesa comprida e voltou até a porta para chamar o guarda quando ouviu algo.

     - E então, as coisas estão diferentes? – ouviu uma voz familiar e virou-se.

     Sentado numa das cadeiras da mesa, estava aquele homem do bar. Ele deu um pulo e se bateu na parede com o susto.

     - O que você tá fazendo aqui? – disse exasperado.

     - Eu vim te ver.

     - Guarda! Me tira daqui! – ele gritou se batendo na porta.

     - Que falta de educação. Eu faço o que me pediu e não recebo nem um obrigado.

     Ele parou e virou-se, ele estava ofegante.

     - Foi você? – disse por entre dentes e por resposta recebeu um sorrisinho.

     - Ela gritou um pouco, muito, - ele riu. – Devia ter visto a sua cara enquanto você esfaqueava ela, quantas vezes? Trinta?

     - Eu não fiz aquilo!

     - Ah, fez sim. Tudo o que eu fiz foi insuflar um pouco de coragem e criatividade nessa sua cabeça.

     - Quem é você?

     - Vai me dizer que você não sabe? – ele disse exibindo um sorriso odioso.

     Nathan caiu de joelhos encolhido no canto tremendo.

     - Isso não é verdade, isso não é verdade.

     O homem levantou-se e veio caminhando em sua direção com passos lentos.

     - Lembra do que você disse aquela noite?  - ele então imitou a voz de Nathan, não era parecida era a voz de Nathan – “Que as coisas fossem diferentes, ué”. – disse em tom irônico. – “Que eu acordasse um dia e tudo estivesse diferente, que a vagabunda da minha esposa não me causasse mais problemas, que meu chefe não me perturbasse mais e que eu não tivesse que me preocupar se vou ter um lugar para morar amanha. Daria qualquer coisa por isso.”

     - Eu não. . .

     - Fizemos um trato, lembra? – do bolso, ele tirou o pedaço de pano de linho o jogou na cara de Nathan que o pegou com nojo e o leu com desespero o conteúdo que estava escrito em uma caligrafia finíssima.

     Era um contrato, realmente, dizendo que em troca dos serviços do Diabo, ele ficaria com sua alma. Isso mesmo, com a alma, um contrato muito bem elaborado alias, com uma mancha de sangue no espaço da assinatura. O mesmo pano de linho com o qual ele limpara sua mão cortada.

     - Você é o Diabo?! – ele exclamou.

     - Que nome antiquado! – ele meneou a cabeça.

     - A minha alma. . . você quer a minha alma?

     - Como você pode ver no contrato, é isso mesmo.

     - Você trapaceou! – Nathan esbravejou.

     - Negócios são negócios. – ele sorriu. – O mundo gira em torno das oportunidades, você vê uma e agarra.

     - Meu Deus!

     - O nome não é exatamente esse.

     - Você matou a minha esposa.

     - Era isso o que você queria.

     - Não era, você distorceu minha palavras.

     - Eu não tenho culpa que você não especificou exatamente o que você queria. Mas veja por esse lado, na atual situação, você não tem mais a vagabunda, nem chefe, e nem vai mais se preocupar se vai ter uma casa amanha.

     - Seu desgraçado!

     - Tenha uma boa, vida. Daqui alguns meses virei buscar o que me pertence, sabe, os advogados serão osso duro no seu julgamento.

     Ele sumiu esvanecendo-se no ar. Nathan começou a gritar como um louco e a se bater na porta. Os guardas chegaram e foram necessários cinco deles para controla-lo. Nathan foi internado na ala psiquiátrica da penitenciaria, esperando o dia do julgamento, no qual seria pedida a pena de morte.