domingo, 16 de setembro de 2012

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"Maldita bonequinha de porcelana", de Natalia de Oliveira


Maldita bonequinha de porcelana
 

     "- Jules! Jules! – a voz de Megan ecoava pelos corredores da imensa casa, seguida de um acesso de tosse, como sempre.

     - Já vou, tia! – Jules respondeu gritando da cozinha no andar de baixo, estava muito atarefada preparando a refeição para sua tia.

     Jules era uma garota jovem de vinte e três anos, no auge da juventude, mas que estava perdendo toda essa fase desde que sua tia ficara doente á cinco anos e parara sua vida para cuidar dela.

     Megan era uma mulher vivida, com seus sessenta e poucos anos, de poucos amigos e muitos problemas, fã do cigarro desde os treze anos, o que lhe causara sua atual situação de insuficiência respiratória, e quando o problema se tornou serio o bastante para ficar presa á um cilindro de oxigênio, teve que chamar ajuda.

     Falemos claramente, Jules só cuidava da tia velha por que não havia outro parente vivo que o fizesse, e por esse motivo sentia-se presa á ela, assim como o cilindro. Seus pais haviam morrido num acidente na mesma época em que Megan ficara seriamente doente, então tudo isso acabara se tornando uma troca de favores, “Você cuida de mim, e eu deixo você morar aqui..”. Era mais ou menos assim.

     - Jules! – a voz estridente da velha ecoou mais uma vez.

     É, no começo pareceu boa ideia, ela teria um lugar pare ficar e ainda teria um dinheirinho por cuidar da tia velha, mas com o tempo foi percebendo que não seria assim tão fácil, na verdade, não fazia a mínima ideia de onde estava se metendo.

     A velha era louca! Quando surtava, ficava pior do que criança: não queria tomar os remédios, ficava chamando Jules por motivo nenhum no meio da noite, a comida estava insossa, o radio alto demais, o luz forte demais, tinha travesseiro de menos, e por ai vai. Era um inferno.

     Isso não era tudo, não, havia ainda sua sinistra e empoeirada coleção de bonecas de porcelana da era vitoriana, que ela não permitia que ninguém tocasse com as mãos sujas, em especial, uma bonequinha que ela insistia em manter no criado mudo, sua preferida. Tinha os cabelos avermelhados e grandes olhos cinza, usava um vestidinho lilás com babados brancos de renda, uma coisa pavorosa. Naquela época, os artesãos faziam as bonecas parecidas com sua donas, meninas ricas que pagava praticamente uma fortuna por uma boneca, e a antiga dona devia ter sido uma criaturinha esquisitinha, Jesus.

     A boneca em si era bem comum, o que chamava a atenção dela era sua expressão. Ao contrario das varias bonecas do recinto que tinham um sorrisinho afetado, a boneca do vestidinho lilás tinha uma expressão seria, não, vazia seria uma palavra melhor, com seus olhinhos olhando para o vazio, seu nariz arrebitado e seus lábios rosados sem expressão alguma. Megan era obcecada por ela.

     - Jules! – Megan chamou outra vez.

     - Já estou indo! – Jules respondeu alto e então falou baixo – Sua velha inútil e impaciente, já vou levar sua sopa, espero que se afogue nela.

     A garota arrumou a sopa na bandeja que usualmente levava ao quarto de Megan todos os dias e quando pegou a bandeja nas mãos um pensamento lhe ocorreu: Odiava Megan, simplesmente isso, odiava Megan, odiava que ela estivesse atravancando sua vida, odiava sua coleção de bonecas, sua voz, seu cheiro, odiava ela.

     Subiu a escada que levava ao segundo andar da casa, o andar dos quartos, carregando a bandeja com o almoço, e conforme aproximava-se do quarto, sentia o cheiro dos remédios invadindo o ambiente, aquele cheiro enjoativo de hospital.

     A porta estava aberta e Jules entrou direto só para se deparar com aquela imagem tão familiar: uma cama de hospital, o cilindro de oxigênio ao lado da cama a mesinha de cabeceira com os vários remédios e claro, a bonequinha de porcelana também estava lá.

     Megan estava sentada na cama, com seu cabelo grisalho arrepiado, suas olheiras profundas em torno dos olhos e sua costumeira palidez.  O tubo de oxigênio preso em seu nariz.

     - Finalmente, mais um pouco e isso não seria mais um almoço, seria um jantar. – disse com sua boca enrugada e banguela.

     Jules ajeitou a bandeja no suporte ao lado da cama e o empurrou em direção á cama de forma que se encaixasse. Enquanto Megan se alimentava, Jules sentou-se na poltrona ao lado da cama, esperando que ela terminasse e também, caso ela se engasgasse estaria ali para socorrê-la.

     Enquanto Jules esperava sua mente vagou. Pensou que Megan era uma pessoa ruim, que tratava mal a única pessoa que ela tinha, isso não era normal. Pensava se ela não tinha medo de terminar seus dias sozinha. Não, claro que não, Jules estaria lá, limpando sua baba até o ultimo momento.

     “. . . até o ultimo momento. . .”, essa frase ecoava em sua mente, e de repente teve consciência de que talvez isso demorasse muito, muito mesmo. Começou a imaginar quanto tempo mais Megan viveria daquele jeito, quem sabe por anos, sugando sua juventude como uma vampira. Haveria alguma diferença? Alguém poderia dizer com certeza qual das duas estava agonizando em um mar de sofrimento?

     - Nunca vi comida mais insossa. – Megan afastou o prato violentamente fazendo um pouco da sopa derramar no lençol que, adivinhe só, Jules teria que lavar.

     Como sempre, Jules se segurou, fechou os olhos e respirou fundo.

     - O medico disse que pelo seu problema de pressão alta, você teria que diminuir o sal.

     - Se eu quisesse comer comida de hospital eu estaria em um e não precisaria de você, sua inútil. – disse mais ríspida.

     Outra vez Jules se segurou, essa era sua vida: ouvir essas barbaridades calada só pelo fato de morar de favor naquela casa. Era cada humilhação que ás vezes sentia vontade de. . .

     Respirou fundo e olhou em seu relógio de pulso, eram uma e meia da tarde, hora dos remédios de Megan. Jules levantou-se da poltrona, retirou a bandeja e o suporte, encostando-os na parede. Foi em direção á gaveta dos remédios mais fortes, pegou-os e levou até a cômoda, do outro lado do quarto para preparar a medicação. Naquele momento, ela tinha que tomar três comprimidos e uma injeção de um remédio que á muito havia desistido de pronunciar o nome. Primeiro deu á Megan os comprimidos que ela tomou com uma careta, mas tomou, então Jules voltou á cômoda para preparar a injeção.

     “Eu odeio essa velha!” Jules gritava dentro de si. Por quanto tempo mais aguentaria isso? Olhou para a seringa lacrada no pacotinho e de repente um pensamento a assaltou. Lembrou-se de certa vez ter assistido um documentário, “Os crimes quase perfeitos”, sobre crimes que teriam passado batido pelas autoridades se apenas um detalhe não tivesse dado errado e lembrou-se de um em particular, um homem que matara a esposa com uma injeção de ar, sim, uma injeção de ar. Na época se perguntou como que uma injeção de ar podia matar, e o especialista do documentário disse que realmente teria sido um crime perfeito, se o assassino não tivesse confessado, pois é limpo, fácil, não deixa rastro químico e no máximo, a necropsia diria que fora um ataque do coração. A arma é facilmente descartada, realmente, um crime perfeito.

     E se Jules fizesse isso? Como o perito disse, era limpo, seu lixo estava cheia de seringas com o mesmo DNA, uma a mais, uma a menos, não faria diferença. Megan era uma velha doente, presa a um cilindro de oxigênio que poderia muito bem morrer de “causas naturais” á qualquer momento.

     Tudo isso Jules pensou numa fração de segundo. Meu Deus, como pôde, era a vida de alguém, alguém miserável, mas era alguém.

     - Vamos logo, com isso. Nossa que garota lerda! Não faz nada direito, nada que presta.

     Decidiu-se. Abriu o pacotinho da seringa e puxou o ar. Sentiu uma espécie de embrulho no estomago, mas agora que tinha começado não iria parar. Se aproximou de Megan, aquela criatura deplorável com o cabelo grisalho arrepiado e sua cara feia de sempre. Megan se virou de lado, de costas para Jules para que ela aplicasse a injeção.

     - Vê se aplica isso direito, você esta aplicando uma injeção, não esta atirando dardos num elefante.

     - Pode deixar, não vai nem sentir.

     Tudo o que Jules pensava naquele momento era que aquela era sua única chance, que se não desse certo agora, nunca mais teria a coragem de fazer. Não era a razão que a motivava, era o impulso.

     Quando teve certeza de que pela posição ela não estava vendo a seringa, Jules aplicou a injeção vazia. Já estava feito, não tinha como voltar atrás e então tudo aconteceu.

     Megan se virou e olhou para Jules com uma expressão aterrorizada, e mesmo que ela não tivesse dito nada, Jules sabia que ela sabia o que tinha acontecido, então ela começou a se debater na cama, como se estivesse tento um ataque epilético, deixando Jules desesperada, isso não estava em seus planos. A garota virou-se de costas, não queria ver aquela cena horrível, tampou os ouvidos com as mãos e esperou um tempo, até que tomou coragem e virou-se para ver o que tinha acontecido.

     A velha estava estendida na cama, os lençóis estavam no chão de tanto que ela se debateu, os olhos abertos esbugalhados olhavam em direção á bonequinha de vestidinho lilás. Jules se aproximou e colocou dois dedos no pescoço da velha para certificar de que ela estava mesmo morta. Estava, finalmente.

 

     Não foi difícil fingir tristeza no funeral de Megan alguns dias depois. Realmente fora o crime perfeito. Ninguém desconfiara da sobrinha dedicada que perdeu anos de sua vida para cuidar da tia. Pela primeira vez em anos, pode dormir sem que fosse chamada a cada quinze minutos. Claro, como única parente viva, Jules herdou a casa e uma boa quantia em dinheiro. Não que estivesse interessada nisso de começo, mas encarou a herança como um bônus.

     A casa era muito antiquada, precisava de um visual novo, e o mais rápido que pode, Jules começou algumas mudanças, ou seja, iria retirar da casa tudo o que lembrava Megan. Primeiro, esvaziou o quarto de Megan, já fazia um mês desde o trágico passamento da tia e ainda não tivera coragem de entrar naquele quarto. Toda vez que passava por ele sentia uma coisa estranha, talvez um rastro de culpa, mas abanava a cabeça e espantava esses pensamentos. Naquele dia, foi até lá munida de algumas caixas de papelão e começou á fazer uma limpa. Lotou algumas com roupas e sapatos, outra com as roupas de cama e uma, essa ela fazia questão de encher, iria colocar a preciosa coleção de bonequinhas de porcelana e sem o menor cuidado, amontoou uma vinte dentro de uma caixa media. Olhou para o lado e deteve-se pois viu a bonequinha de vestidinho lilás, no criado mudo, tal qual havia visto pela ultima vez, mas com uma camada de poeira á mais.

     Aproximou-se da boneca, havia algo estranho com ela, Jules não sabia explicar o que era. Antes, quando a via, era uma boneca feia e sem expressão. Olhou bem e percebeu algo diferente nela, algo bem sutil que não teria percebido se sua maior característica fosse exatamente não ter expressão, mas agora Jules via um suave cerrar de olhos e um sorrisinho, estranhamente muito parecido com a cara de empáfia de Megan.

     Esse pensamento lhe causou um calafrio, pois lembrava-se perfeitamente que Megan morrera olhando para aquela boneca horrorosa.

     - Se me faltava motivo para me livrar de você, - disse ela pegando a boneca na mão – não falta mais.

     Jogara a boneca sem cuidado algum na caixa com as outras bonecas e lacrou com fita adesiva. Não queria aquela coisa ali, pois ela lhe faria lembrar do acontecido e não queria isso. No fim da tarde, Jules carregou as caixas uma por uma para fora, para que o caminhão do lixo levasse e a cada caixa que colocava no gramado sentia-se mais leve. Sentia que agora sim, seria o começo de uma nova etapa em sua vida, livre, sem nenhuma corrente ligando-a ao passado, só conseguia pensar nas possibilidades que se abriam á sua frente. Faria Faculdade? Viajaria? Investiria em um negocio próprio? Talvez fizesse tudo isso, mas cada uma á seu tempo. Envolta em paz, Jules dormiu naquela noite sem que nenhum fiozinho de culpa passasse por sua cabeça.

    

     Jules acordou na manhã seguinte, empolgada com todas as mudanças que aconteceriam daquele dia em diante. Preparou seu café da manhã com a maior calma, saboreava sua torrada sem a menor pressa. Os aromas, os sabores eram todos diferentes agora.

     Depois do dejejum, a garota subiu ao quarto de Megan, ele era bem maior do que o seu, pretendia mudar-se para ele, mas primeiro iria trocar todos os moveis e essas coisas, iria comprar moveis planejados, e iria tirar as medidas do quarto. Abriu a porta e ao olhar em seu interior soltou uma exclamação de susto, pois, colocada sentadinha no criado mudo como se nunca tivesse saído dali, a bonequinha de porcelana do vestido lilás olhava para ela. Sem entender nada, Jules aproximou-se da boneca e a pegou nas mãos novamente.

     - Mas como? Eu joguei você fora! – ela disse sozinha.

     Tinha certeza de ter colocado ela na caixa e de ter lacrado a caixa com fita adesiva. Tinha que se livrar dela. Desceu a escada correndo segurando a boneca, saiu pela porta, atravessou o gramado e a jogou dentro da lata de lixo.

     - Você não vai escapar do lixo.

     Fechou a tampa com um estrondo, virou nos calcanhares e voltou para dentro, tentando ignorar que aquilo era muito esquisito.

     Depois do almoço, tranquilizou-se um pouco, mas sua tranquilidade durou pouco. Quando foi tomar banho ás seis horas, entrou em seu quarto e viu a bonequinha sentadinha em sua cama. Jules soltou um grito quando a viu.

     - Se isso é uma brincadeira é de muito mau gosto! – ela gritou para as paredes em seu quarto. – Se tem alguém aqui, eu vou chamar a policia. – mas ela sabia que não havia ninguém na casa.

     Um tanto descompensada, ela atirou a boneca da janela e saiu pela casa trancando portas e janelas. Mas o que estava acontecendo? Será que alguém descobrira o que ela fizera e agora a estava assustando com aquela boneca horrorosa? Esse pensamento a acompanhou noite adentro na qual não conseguiu dormir.

     Na manhã seguinte, descia a escada para a cozinha, estava ainda no alto da escada quando pisou em algo duro e irregular, sentiu uma dor aguda no tornozelo, desequilibrou-se e rolou a escada, indo parar na sala estatelada no chão. Enquanto se recuperava ali no chão, tentando se levantar viu que seu tornozelo estava machucado, com dois pequenos furos que sangravam, fora isso não se machucara muito. O abalo maior ficou por conta de quando olhou para cima para ver no que tinha tropeçado e soltou um grito de horror. Bem no degrau em que se desequilibrara estava a boneca, com seu vestido lilás e sua carinha de porcelana, mas havia algo horrível, ela sorria, mostrando vários dentes e um filete de sangue escorria por seus lábios rosados. Monstruosa.

     Durante o tempo que se seguiu, Jules tentou livrar-se da boneca diabólica de varias formas, cada uma mais fracassada do que a outra. Tentou quebra-la com um martelo, no outro dia ela estava inteirinha na sua cabeceira; tentou queima-la, igualmente inútil; jogou-a num rio, não; deu a boneca para um Pittbull brincar, deu-a de presente para uma criança da vizinhança, mas todos os dias a boneca estava lá, em algum lugar da casa, esperando para ser encontrada.

     Jules sabia que de alguma forma Megan estava naquela boneca e agora ela atormentaria para o resto da vida."

    

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

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1º capitulo do livro "Sebastian"

Parte I
Capitulo I
"Forasteiros"
 

       1983

 

       Aquela era, sem dúvida, uma das mais lindas primaveras que os habitantes daquela pequena cidade já haviam visto. Flores cresciam nas cercas e por toda a parte via-se vida. As crianças brincavam na praça assistidas por mães zelosas e atentas, mas para Chandler Desmont, o melhor naqueles dias quentes era nadar no rio.

       O rio da pequena cidade de Aaron River era lindo: águas cristalinas, árvores que o rodeavam e o mais interessante do lugar, uma pequena cachoeira, que era na realidade, sua nascente. A nascente recebera o nome de seu colonizador, Aaron Murphy, e a descendência dessa família ainda permanecia por aquelas bandas, mandando e desmandando, sempre se achando os donos do lugar. Se havia discordância quanto a isso? Sim, mas ninguém iria espalhar isso aos quatro ventos. Não era segredo para ninguém que os Murphys forçavam sua vontade desde que o primeiro por lá se instalou e, por aquelas bandas, sua palavra era lei.

       Voltando ao garoto Chandler, ele adorava nadar no rio, ainda mais num dia quente como aquele, a água deveria estar ótima. Ao chegar à beira do rio, ele tirou sua camisa, sua calça jeans e pulou na água. Chandler era um garoto bonito, e embora tivesse apenas treze anos de idade era o retrato de seu pai: cabelos negros, os olhos de um verde vivo muito raro davam um ar sonhador ao menino, além de contrastar com sua pele branca. Kevin Desmont, seu pai, sempre o achara parecido com sua falecida mãe, Sissy.



       Ele era um garoto quieto, sempre foi. Odiava escândalos e alguns até o chamavam de apagado e esquisito. Naquela cidade as pessoas adoravam cuidar da vida dos outros, principalmente da sua. Tinha que reconhecer, os Desmont não eram muito queridos em Aaron River.

       Tudo começara quando Sissy deixara a cidade pequena, se aventurando em New Orleans, onde conheceu Kevin Desmont. Casaram-se e um tempo depois voltaram para Aaron River, com um bebê nos braços. Eles eram forasteiros, má influência, má companhia, até mesmo Sissy começou a ser vista como estranha. Não era raro ouvir certos comentários quando passeavam nas ruas, algo do tipo “Por que voltou pra cá? Deveria ter ficado onde estava, onde as vadias devem ficar. Longe de gente de bem e decente. Longe daqui.”.

       Quando três anos depois Sissy morreu, as coisas só pioraram. Não eram mais sussurros disfarçados. Algumas pessoas jogavam indiretas para Kevin, mas para Chandler era pior; as outras crianças da rua e da escola eram simplesmente cruéis. Batiam nele e diziam que ele era filho de uma vadia e que deveria ir embora com seu pai, deveria voltar para New Orleans, de onde nunca deveria ter saído. Então, quando começou o primeiro grau na escola, entendeu o que a palavra solidão significava. Percebeu que iria sempre ser posto de lado, por todos. Percebeu que nunca seria convidado para as festas, percebeu que ninguém gostaria dele, e o pior, percebeu que seria sempre assim. Jamais se encaixaria, sempre seria o estranho.

       Então Chandler chorou, chorou muito por causa disso. Durante muito tempo chorava e se perguntava por que as coisas eram assim. Porém, depois de um tempo tomara uma decisão de não se importar mais. Oque ele poderia fazer? Nem que ele chorasse um oceano de lágrimas mudaria o fato de que ninguém estava nem ai para ele. Se ninguém gostava dele, por que ele iria se dar ao trabalho de gostar de alguém? Começara a achar que aquela cidade era um buraco e seus habitantes, pessoas de mente pequena e limitada, ignorantes. Chegara aos treze anos sem nenhum amigo, e nem fazia questão de ter, eram todos desprezíveis, não mereciam o mínimo de sua atenção. Todos, menos uma.

       April Murphy, ao contrario do resto do povo, sempre lhe dirigira um sorridente “oi”, toda vez que um cruzava o caminho do outro e nunca participara de nenhuma das brincadeiras sem graça que aprontavam para ele de tempos em tempos. Certa vez, quando ficara muito doente e ficou sem ir para a escola durante uma semana, surpreendentemente, April levou os trabalhos de escola e as lições perdidas para ele. Desde então April era sua única amiga em Aaron River, tirando claro Kevin, seu pai.

       Sempre que nadava no rio, esquecia-se de seus problemas e era isso o que queria naquele momento. Adorava a sensação de estar flutuando na água, era como se não houvesse mais ninguém no mundo, sentia-se em paz, no entanto, havia mais alguém. Ouviu passos nas folhas da trilha que levava ao rio, tirando-o de seu devaneio, afinal, naquela floresta não dava para ser sorrateiro. Havia rochas nas margens, então decidiu nadar até lá, não queria que ninguém o visse. Aquele era seu lugar, seu momento.

       Os passos aproximavam-se e logo pode ver uma sombra através das árvores que continuou vindo e a sombra revelou-se April Murphy. Tinha a idade de Chandler, os cabelos loiros compridos, olhos azuis radiantes, usava um conjunto azul: um short jeans e uma bata de tecido mole e fino. “Linda, radiante. . .” pensou de repente.

       Sim, já havia gostado dela como amiga, mas de uns tempos para cá, começava a se sentir estranho perto dela, era como se ela mexesse com de alguma forma, e no momento estava confuso sobre tudo o que sentia e pensava, tentava se convencer de que isso era só coisa de adolescência, mas não conseguia tirá-la da cabeça.

       April notara Chandler ali, tentando em vão se esconder atrás das pedras e se aproximara.

       - Olá. - saudava o garoto com um sorriso.

       - Se você quiser nadar eu saio, não tem problema. - Chandler disse ainda meio escondido, estava só de cueca.

       - Não é para tanto, eu não quero te atrapalhar.

       Droga!” pensou, essa situação estava ficando muito constrangedora, por que, além de tudo, April calmamente sentou-se numa das rochas da margem.

       - Vai ficar ai? – perguntou confuso.

       - Algum problema?

       - É que é meio constrangedor. . . – queria disfarçar, mas também já não havia mais clima para continuar nadando ali e levantou-se - . . . Quer saber, vou sair. Pode se virar?

       - Por quê? – April perguntou inocente.

       - Não sei se reparou, mas as minhas roupas estão ai do seu lado. – ele objetou.

       - Ah, - sorriu – tudo bem, não me importo.

       Não era segredo para ninguém que ela era liberal demais para a sua idade. Esse também era um dos motivos pelos quais gostava dela, por que era diferente como ele. Mas a diferença entre os dois era que April era da família Murphy, ou seja, ninguém achava ruim que ela fosse um pouco excêntrica, já Chandler era outra história.

       Já tinha entendido que April não iria arredar o pé dali. Não tinha outra saída e não iria ficar ali o resto da tarde. Saíra andando pela água lentamente, deu a volta nas rochas sob o olhar atento de April. Era uma situação desconfortável ser observado assim. Chegando ao lugar onde deixara suas roupas, (bem perto de April, aliás) pegou a calça jeans e vestiu, depois pegou a camisa e vestiu. Chandler acabara de sair da água e não se enxugara, seu corpo molhado fez com que a camisa grudasse em seu corpo, seu cabelo negro pingava e April o olhava fixamente.

       - Oque está olhando? – perguntou brusco.

       - Você é bonito, sabia? – disse com a maior naturalidade.

       Essa frase mexeu com algo dentro dele e Chandler ruborizou.

       - Não, não sou.

       - Ficou vermelho. – dizia zombeteira.

       - Eu vou embora, pode ficar a vontade. – perdera completamente a vontade de nadar, não gostava do modo como ela o olhava, e além do mais, não era certo ficar sozinho com uma menina no rio. Virou-se e começou a andar.

       - Não vai. Fica. – sua voz o chamou suave, fazendo-o parar.

       Houve algo naquele chamado que o fez parar, algo diferente no jeito de falar, um jeito que só costumava ver vindo de Kevin, como se houvesse carinho naquelas palavras, então se voltou para ela.

       - Se você gosta de ver as pessoas tomarem banho no rio, eu não gosto. – brincou.

       - Eu não venho aqui para isso. – sorria. – Venho para ficar sozinha.

       - É um pouco sem sentido querer que eu fique se quer ficar sozinha.

       - Depende, se eu quiser ficar sozinha com você?

       Nesse momento Chandler sentiu que havia borboletinhas em seu estomago, se debatendo.

       - Por que você quer ficar sozinha comigo?

       - Quero conversar com você. Vem cá, senta aqui. – com um sorriso, April deu palmadinhas na rocha em que estava sentada, convidando-o.

       Sem saber exatamente o porquê, Chandler obedeceu, aproximou-se e sentou-se ao lado de April.

       - Oque é?

       - Sabe, Chandler, eu percebi uma coisa, nós dois somos iguais, por isso nos damos tão bem. Somos diferentes do povo dessa cidade, já deve ter percebido isso também.

       - Mais do que imagina.

       - Nós dois somos os extremos do que essa sociedade não gosta: eu sou expansiva demais, você é fechado demais.

       - Só para constar, isso não foi escolha minha. – pela primeira vez falar disso não era doloroso. – Tem muita coisa envolvida.

       - Eles não gostam da gente porque não somos hipócritas e tomamos a decisão de agir do nosso jeito.

       - Pelo menos nossa sociedade não está perdida.

       - Então formaríamos um belo par.

       Ao ouvir isso Chandler sentiu algo estranho e desviou o olhar, olhou para o chão, mas April continuava á observa-lo, estudando seus traços.

       - Daríamos inicio a uma nova geração de esquisitos para mudar o mundo. – disse Chandler brincando para quebrar o silêncio.

       - É uma boa ideia. – sorria – deveríamos começar agora mesmo. Que tal com um beijo?

       Os dois se olhavam, Chandler sentiu-se estranho, um reboliço no estomago, o coração batia rápido, ela estava tão perto, será que isso era normal? Queria sair dali, mas ao mesmo tempo queria ficar. Estava confuso, nunca havia passado por isso antes. April aproximou-se, tão perto que Chandler pôde sentir sua respiração. Respirava ofegante, estava nervoso. Mais nervoso ficou quando April colocou a mão em sua cintura, trazendo ele mais para perto, olharam-se um tempo em silêncio, em total silêncio, como se até os pequenos animais do bosque tivessem parado para observar, que April beijara seus lábios de repente, sem aviso.

       A sensação dos lábios se tocando era incrível. Chandler queria soltar-se, mas April era tão linda e estava ali com ele, enfeitiçando-o com seu beijo. Perdera a noção de tudo, o que sabia era que não havia outro lugar no mundo que desejasse estar, senão ali. Então, para a sua surpresa ela se afastou, deixando-o confuso.

       - Oque foi? – perguntou.

       - Eu tenho que ir. – April respondeu.

       - Mas já?

       - Para que apressar as coisas? – sorria – Temos todo o tempo do mundo.

       - Vamos nos ver amanhã? – perguntou esperançoso.

       - Claro.

       Beijaram-se mais uma vez. Sem dizer mais nada, April levantou-se e saiu, deixando Chandler sozinho com a lembrança e a esperança.

       Nossa! April Murphy gostava dele! Isso era irônico, já que os Murphy não gostavam de ninguém. E o beijara, seu primeiro beijo. Começou a rir sozinho, era um ótimo dia, pela primeira vez sentiu-se especial.

       Foi tudo de repente, mas adorou, ele e ela não eram convencionais, logo, nada que partisse deles seria normal. Essa ideia pareceu a ele maluca. Oque estava fazendo? Ela era a mais jovem descendente da família mais importante de Aaron River, que futuro isso teria? Mas não queria pensar nisso, estava alegre demais para deixar esses pensamentos pessimistas desanimá-lo. Levantou-se das pedras e foi para casa lembrando-se do beijo e imaginando os beijos que viriam. Só veria April de novo anos depois.

 

       A casa dos Murphy era grande, porém, afastada da cidade, uma bela casa de campo que seu ancestral havia levantado á base do chicote e, no quesito ruindade, o novo regente não ficava devendo. Robert Murphy estava no escritório, tratando dos negócios. Era dono de boa parte dos estabelecimentos comerciais da cidade, tendo assim, um controle de tudo.

       Robert Murphy era um homem de aparência, distinto, sempre bem vestido com ternos bem costurados, tinha o cabelo negro espesso, olhos cinzentos ameaçadores (lembravam muito olhos de lobo) que o ajudavam naquilo que era sua especialidade: intimidar. Era alto e de bom porte, sedutor e perigoso. Também não era novidade que cobrava taxas absurdas dos comerciantes em troca de segurança, e que também estava envolvido com o trafico. Seu lema era: “Não mexa comigo, que eu não mexo com você.”. E era assim que funcionava.

       Tinha seus capangas que fazia o trabalho sujo, um trio em questão: Ted Kent era loiro, usava sempre um chapéu de vaqueiro e tinha fixação por facas de caça. Consta que aos nove anos de idade matara o cachorro da família com uma faca de cozinha e dai para frente sua carreira só deslanchou; Barry Willis, meticuloso, concentrado, frio com gelo quando a questão era cobrar dívidas; e o ultimo, mas não menos canalha, o pior de todos, importado da Escócia, Ike McDowell: ex-presidiario, com todos os requisitos necessários para se tornar o braço direito de Robert. Sem remorso, sem caráter, sem consciência. Esse trio fazia o terror necessário para obter obediência.

       Naquela tarde, Robert havia chamado os três ao seu escritório que era bem decorado com móveis trabalhados em madeira de lei, tapete importado da Arábia, tudo muito chique e bonito, excluindo, claro, as pessoas que o ocupavam.

       - Então, como foi à coleta do dia? – Robert disse de sua mesa quando os três entraram pela porta.

       - Foi um bom dia. – Ted adiantou-se contente, entregando-lhe um pacote desses de papel bege, com maços de dinheiro. – Na minha área, a cooperação é ótima.

       Robert recebeu o pacote com satisfação.

       - Muito bem Ted, está se superando.

       - Da minha área também. – Barry disse sério tirando de seu paletó um pacote igual e o entregou ao chefe.

       - Diz, não é melhor quando todo mundo entende e coopera? É tão mais civilizado.

       - Nem todos cooperam, chefe. – Ike lhe entrega um pacote menor.

       - Como assim?

       - Um comerciante se recusa a pagar.

       - Qual deles? – perguntou esfregando as têmporas.

       - O da oficina de carros. – falou sério.

       - O Desmont está criando problemas de novo? – disse sarcástico – Corrija-me se eu estiver errado, mas eu acho que você é pago para evitar que esse tipo de coisa aconteça. Dê um jeito nele.

       - Já o ameacei senhor, - disse com cuidado – mas ele afirma ter certas informações sobre o senhor, - notou que Robert o fuzilava com os olhos – e parece disposto a ir até os Federais.

       - Meu Deus, criatura, será que vou ter que ir eu mesmo até lá para resolver isso? – disse irritado – É como meu pai dizia: “Se quiser algo bem feito, faça você mesmo.”. – disse levantando-se e pegando o casaco da cadeira.

 

       A noite já tinha caído fazia tempo quando Kevin e Chandler sentavam-se para jantar.

       - Como foi seu dia hoje? – Kevin perguntou depois de uma garfada na comida.

       Essa pergunta pegou o garoto de surpresa, mas soube disfarçar bem.

       - Foi. . . ótimo. – riu – E o seu?

       Aquele capanga do Murphy veio me torrar a paciência de novo.

       Chandler perdeu a fome na hora e deixou o garfo cair no prato com um tilintar. Agora estava numa posição difícil: gostava da filha do homem, isso seu pai não poderia saber nunca. Porque esses dois não podiam ficar em paz? Era tão difícil assim chegar a um entendimento?

       - O que queriam?

       Kevin olhou para o filho com ternura, já era crescido, tinha que saber o que se passava na cidade, era mais que um simples autoritarismo.

       - Filho, Robert Murphy cobra propina dos comerciantes da cidade, em troca de proteção, eles tem que pagar caso contrário os capangas acabam com tudo.

       Chandler ficou boquiaberto.

       - Não acredito!

       - Para você ver como são as coisas por aqui. Eu não sei por que não voltamos para New Orleans depois que Sissy... – hesitou.

       - Às vezes eu acho que teria sido melhor. – disse com tristeza – Não pertencemos a esse lugar, aquele Murphy não nos quer aqui, e o senhor não ajuda provocando ele quando pode.

       - Eu não o provoco, Chandler, ele que vem caçando assunto. Só não abaixo a cabeça para ele. – Kevin olhou no fundo dos olhos do filho – Aquela família é amaldiçoada, guiada pelo mal. Lembre-se: nenhum Murphy presta.

       Chandler olhava para o pai ponderando essas palavras. Que Robert Murphy era ruim, isso era de conhecimento geral, mas April, não, ela era diferente dele, tinha que ser. Bem, se já não tinha planos que contar para Kevin o encontro que teve com ela naquela tarde, agora então seria um segredo que levaria para o tumulo. Mas então começou a pensar que talvez April só quisesse brincar com ele. Será? Ficou intrigado.

       - Oque foi? – Kevin disse percebendo que o garoto ficara estranho.

       - Nada. – disfarçou – Pai, o capanga queria cobrar do senhor também?

       - Sim. – Kevin respondeu naturalmente.

       - E o senhor pagou, não é?

       - Não. – disse calmo.

       - Oque? – ficou abalado – Como assim “Não”?

       - Não, não paguei. – disse com naturalidade.

       - Está maluco?

       - Não tenho medo. – tentava acalmar o filho – Oque eles podem fazer contra nós? Eu não tenho medo deles, sabe por quê? Sei de muitas coisas mais. Não é a toa que ele está tão rico.

       - Oque o senhor sabe? – ficou curioso.

       - Na hora certa você saberá. O importante é que o FBI adoraria saber o que eu sei. Fique tranquilo.

       Mas Chandler não se tranquilizou, um mau pressentimento o assolou. Isso não era bom, sentiu um aperto no coração, algo lhe dizendo que algo ruim, muito ruim estava pra acontecer, e logo. Nesse momento ouviram uma buzina do lado de fora, que não parava. Nesse momento Chandler sentiu como se estivesse caindo de muito alto e muito rápido, embora estivesse parado sentado na cadeira á mesa de sua cozinha. Uma sensação horrível.

       - Acho que é aqui. – Kevin levantou-se da mesa, seguido de Chandler.

       - Não vai. – implorou agarrando a não do pai e olhando para ele com olhos suplicantes. Algo dentro dele dizia que não deveria deixar o pai sair por aquela porta.

       - Fique aqui, volto logo. – Kevin aproximou-se do filho e beijou-lhe a testa antes de sair da cozinha, deixando o garoto sozinho intrigado e assustado.

       Kevin desceu as escadas, (moravam em cima da oficina), abriu a porta e deparou-se com duas caminhonetes, uma preta, outra vermelha. Os indivíduos estavam do lado de fora e Kevin os conhecia muito bem.

       - Vocês não tem desconfiômetro não? – disse apoiando-se no batente. – Estou jantando.

       - Poderia ser mais educado. – Robert disse saindo das sombras. – Há quanto tempo, Desmont.

       - Oh, desceu do Olimpo um dos Deuses para tratar com esse pobre mortal? Estou emocionado. – disse sarcástico.

       - Muito engraçado. – respondeu cínico – Meus empregados me comunicaram que o senhor se recusa á contribuir com a segurança do bairro.

       - Comunicaram certo.

       - Ah, Desmont, você sempre tem que ser o do contra, nunca concorda com nada. Porque não pode aceitar as coisas como elas são?

       - Quem não aceita bem “as coisas como elas são” por aqui é você.

       Robert ficou sério. Kevin havia cutucado onça com vara curta.

       - Sissy era minha. – Robert disse sombrio.

       - Correção, amigo, ela era minha. – provocava – Lembra? Ela fugiu de você e casou comigo, meu caro.

       - Esse garoto podia ser meu filho.

       Após ouvir isso Kevin correu na direção de Robert disposto á esganá-lo com as próprias mãos, mas foi detido pelos braços fortes de Barry.

       - Jamais diga isso de novo! Coitado dele se tivesse esse seu sangue imundo!

       Robert ficara sério, os olhos cinzentos de lobo, terrivelmente ameaçadores, fuzilavam Kevin.

       - Não viemos até aqui para discutir paternidade. Tem dividas comigo, deve pagá-las agora.

       - Quer saber, pegue essas dividas e enfie no rabo! Não pode fazer nada comigo, não tenho medo de você. – disse decidido.

       - Pois deveria ter.

       Ike investiu-lhe um soco contra a barriga, fazendo Kevin contorcer-se de dor, ainda segurado por Ted e Barry. Nesse momento, Chandler, que via tudo pela janela correu desesperado ao socorro seu pai.

       - O seu problema, Desmont, é que acha que pode se dar ao luxo de me enfrentar porque é de fora, que as regras não se aplicam a você. – Robert o rodeava – Não compreende que por aqui, eu sou a lei, e quem não se adequa a lei, é punido. – sorria.

       Chandler chegara á porta, mas aquela cena o deixara paralisado, por mais que quisesse não conseguia se mover, era como se algo o prendesse á porta. Estava aterrorizado vendo o pai ser espancado.

       - Vai para o inferno! – disse Kevin com rancor.

       - Vá guardando meu lugar. – Robert tirou de seu casaco uma pistola prateada reluzente, apontou para a cabeça de Kevin e sem mais, atirou.

       Chandler não podia acreditar na imagem de Robert tirando a arma de dentro do casaco; não podia acreditar que ele apontara a arma para a cabeça de Kevin. Mas acreditou no estampido surdo que o tiro provocou que ficou ecoando ainda enquanto o corpo de Kevin envergava para traz e caia no chão, sem vida.

       - Viram? – ele disse – É assim que se faz. Bando de inúteis.

       - Não! – Chandler gritava, atraindo a atenção dos criminosos.

       Sem pensar, o garoto correu desesperado em direção a eles, ignorando o perigo, ajoelhou-se ao lado do corpo do pai. Não, não podia ser, não podia estar morto!

       - Pai! – começou a berrar mexendo nele, esperando alguma reação, mas ele havia levado um tiro na cabeça, estava morto.

       - Oque significa isso? – Robert perguntou ainda com a arma na mão.

       - É o filho dele. – Barry disse.

       - Eu sei que é o filho dele, seus idiotas. Peguem ele!

       Barry e Ted adiantaram-se em sua direção, o garoto nem se lembrava de que eles estavam ali de tão desesperado que estava. Só percebeu quando sentiu as mãos dos capangas de Robert o agarrarem pelos braços e o puxarem.

       - Me larga! – protestava desesperado, tentando desvencilhar-se das mãos dos criminosos.

       - Ora, ora, ora. Desmont filho. – Robert aproximava-se dele – Viu alguma coisa?

       - Desgraçado, matou meu pai! – gritava esperneando.

       Robert ficou observando o garoto se debater nos braços de seus capangas com um sorriso sádico.

       - Você é arisco como sua mãe. – disse aproximando-se e tomou seu rosto na mão – E é bonito como ela.

       - Me solta! – Chandler gritava.

       - Não, você sabe demais.

       - Então me mata! Eu juro por Deus, se você me deixar vivo eu te mato! – disse alucinado de ódio.

       - Quando sua mãe morreu, eu cheguei a oferecer dez mil dólares por você. Seu pai não aceitou, claro. - riu – Imaginou que vida poderia ter tido, sendo meu filho?

       Chandler cuspiu na cara dele.

       - Preferia estar morto! – disse com nojo.

       Robert pegara um lenço branco de dentro do bolso do casaco e limpara o rosto, recolocando calmamente o lenço de volta, antes de esbofetear o garoto.

       Tenho algo melhor pra você.

       Robert virou a arma e deu uma coronhada em Chandler, fazendo-o cair inconsciente no chão.

       - O que vamos fazer com ele? – Ike perguntou.

       - Depende. - disse sério – Quanto acham que pagariam por ele no mercado negro?

       Os três capangas se entreolharam.

       - Está falando sério?

       - Mas é claro.

       Ficaram em silêncio. Eles já sabiam qual seria o destino do garoto, mas não sentiam pena dele.  Robert ia voltando para a caminhonete preta quando Ike o chamou.

       - E quanto á oficina?

       Robert virou desdenhoso, olhou deu de ombros.

       - Queime tudo.

 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

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100 seguidores no blog!!!!!

     Olá Leitores!!

     Hoje eu estou muito feliz! Hoje o blog Natalia de Oliveira escreve. . .  chega ao número de 100 seguidores!
     Mesmo o blog sendo novo e pequeno, necessitando de melhorias, ele chega á essa marca incrível. Esse blog tem sido uma ótima ferramenta para mim, onde conheci pessoas incríveis, novos escritores como eu, que eu espero ter ajudado á começar a caminhada no mundo da literatura com as minhas postagens e os textos de amigos que eu postei para ajudar na divulgação do trabalho pois sabemos como essa parte é dificil. (e como!).
     Esse espaço é meu e de todos vocês, é de quem ama livros e a escrita. Suas opiniões e sugestões serão bem vindas á todo momento, preciso da ajuda de vocês para saber oque pode ser melhorado para uma melhor interação com vocês!!
     Espero que eu possa levar esse blog ainda por muito mais tempo e agregar muito mais amantes da escrita!
                                                                                                     
                                                                                                           Natalia de Oliveira
                                                                                                           criadora do blog

sábado, 8 de setembro de 2012

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"Celular" , de Stephen King



Sinopse

      Em uma calma tarde de Outubro, quando Clay Riddell achava que sua vida enfim daria uma guinada para melhor a as oportunidades lhe pareciam tão promissoras com o seu trabalho finalmente sendo reconhecido depois de tantos anos, tudo o que ele quer naquela tarde ensolarada é um sorvete. Mas antes que pudesse saborea-lo, as pessoas ao redor que por acaso estavam falando ao telefone de repente enlouquecem. Ele é pego de suspresa pelo fim do mundo. O mundo em volta dele se transforma em um cenario de carnificina quando as pessoas que antes eram normais se transformam em zumbis bem no centro de Bostom, com o unico instinto de matar, com os dentes, depois de receberem uma especie de pulso eletro magnético através de seus telefones celulares.
     Os sobreviventes tentamse acostumar á nova ordem mundial, dormir de dia, fugir á noite, para chegarem onde suas familias estão. Clay, mais do que seus companheiros, pois ele quer ver seu filho Jhonny, que infelizmente tinha um celular. Ele tenta se manter forte e manter o grupo unido, mas seu maior medo é de chegar lá e não encontrar seu filho, ou pior, de encontra-lo como eles.

Impressões

     Uma historia cheia de suspense e as tiradas inteligentes que só Stephen King consegue. Realmente, depois de gatos mortos, cães raivosos, palhaços assassinos, videntes, fantasmas, lobisomens e milharais, estava faltando mesmo que ele abordasse esse assunto que está bem atual e que causa um frio na barriga por que não sabemos como lhe daríamos com eles ainda, os zumbis. Descrita com sua forma irônica e sarcástica de sempre, celular faz o que se propôe, causar medo.

Por quê você deve ler?

     Pelo amor de Deus, é Stephen King! Todo mundo deveria ler pelo menos um livro dele na vida. Claro que eu recomendaria também os mais antigos, como "Carrie a estranha", "O Cemitério", mas todas as obras dele são incriveis e merecem sua atenção.
     Observação: tenho certeza que as pessoas que torçem o nariz para Stephen King, já viu um filme baseado num livro dele, adorou e nem sabe disso.