sábado, 1 de setembro de 2012

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"O mistério das pegadas", por Natalia de Oliveira

O mistério das pegadas

 Não que Alice não gostasse de viagens em família para o campo, mas é que havia um limite entre campo e Terra Media, aquele lugar parecia, como os antigos diziam, o fim do mundo conhecido.

     Era uma cidadezinha no interior do Estado, Pilar, zona rural, com sítios e chácaras. O centro da cidade era tão pequeno que você o cruzava em dois minutos (á pé) e as casas ficavam em estradinhas de terra que saiam da estrada principal. O lugar era tão ermo, que o vizinho mais próximo ficava á um quilometro de distancia, ou seja, se você tivesse um piripaque dentro de casa, ninguém saberia á menos que o vizinho precisasse de um pouco de milho da sua plantação.

     No caso de Alice, seu pai Rafael tinha um sitio na zona rural, onde ele plantava vários tipos de plantas e árvores frutíferas, era seu orgulho, e embora morasse na cidade de São Paulo, aos fins de semana sempre pegava o carro e ia para lá, desfrutar da calma do interior. Alice não gostava muito (entenda não gostava nada), de ir para o mato. Em primeiro lugar, seu celular não pegava; em segundo lugar, a internet não pegava; em terceiro lugar, era chato pra caramba. Mas como já fazia muito tempo que não ia, e havia pegado folga prolongada por conta da semana santa, seus pais fizeram a proposta de viajarem durante o feriado. Teria preferido ficar em casa, mas ah, pelo menos colocaria sua leitura em dia. Na quinta feira á tarde Rafael, Helena sua mãe e Alice arrumaram as malas e pegaram a estrada e chegaram ao sitio ás dez da noite, debaixo de uma chuva daquelas.

     Não havia praticamente nada na dispensa do sitio, levando-se em conta que Rafael só comprava coisas mais “sofisticadas” quando Alice e Helena iam ao sitio, logo se depararam com apenas macarrão e sardinha para o jantar. Na sexta feira de manhã, Alice e Helena pegaram o rumo da estrada de terra. Havia uma pequena vendinha á três quilômetros de distancia, na qual os agricultores que não quisessem se abalar até a cidade poderiam abastecer suas provisões.

     As duas andavam á pé pela estrada deserta, uma vez que seu Rafael havia saído com o carro para buscar mudas de limoeiro no sitio de um vizinho. Eram dez da manhã, mas o sol já estava alto e forte, não havia lama na estrada, apenas terra seca.

     - Ah, mas que droga! – Alice disse pela terceira vez segurando seu celular no alto, procurando rede sem sucesso. – Estamos em Lost, só pode. – disse, fazendo alusão á uma famosa serie de tv em que um avião caia em uma ilha que seus sobreviventes se descobrem em uma realidade paralela.

     - Acho que o fim do mundo para você seria a queda da rede mundial. – Helena zombou.

     - Com certeza, se eu ver mais uma vaca, eu tenho uma sincope.

     - Não seja tão dramática. – a mãe sorriu – Sinta o ar puro.

     As duas continuaram o caminho conversando sobre banalidades, apenas deixando que os pés as levassem. O caminho não era difícil, não tinha como se perder: á partir da porteira, se caminhava reto por um quilometro e meio até uma encruzilhada, lá se virava á esquerda e continuava seguindo reto por mais um quilometro e meio até a vendinha. Era uma boa caminhada, mas mãe e filha eram acostumadas á caminhar longas distancias, então acordaram cedo, colocaram um boné na cabeça, uma garrafinha de agua na sacola e pé na estrada (literalmente).

     - Que horas são? – Helena perguntou á filha que estava com o celular em mãos.

     - Dez horas.

     - Será que conseguimos chegar em casa antes do meio dia? O almoço vai sair muito tarde se. . .

     Nesse momento elas chegaram á encruzilhada e teriam virado á esquerda como de costume, se algo não tivesse chamado sua atenção.

     A chuva da noite anterior fora tão forte que criara enxurradas na beira da estrada, conforme a agua escoava, aquela parte virou um lamaçal. As pegadas deixadas em um local como esse, são bem marcadas e como o sol estava forte e secou o chão rapidamente, as marcas ficam como fosseis, endurecidas e preservadas.

     - Nossa, que pegadas enormes esse cachorro deixou! – Alice comentou olhando uma serie de pegadas no chão endurecido.

     Aparentemente, um cão enorme havia passado por ali, deixando pegadas do diâmetro de uma mão humana. Helena parou para olhar e ficou meio que pasma. Voltou alguns passos para observar com um olhar que pareceu estranho para Alice. Ela parou com um olhar interessado e disse ainda olhando para o céu.

     - Isso não é coisa de cachorro. – ela disse e sorriu. – Vem ver isso.

     Sem entender nada, Alice se aproximou da mãe e procurou no chão o que ela via tão interessada. Não havia reparado quando passara por ali de começo, mas agora via que havia muitas pegadas, que aparentemente vinham de lá de trás, sempre pelo lado esquerdo da estrada. O barro agira como cimento se solidificando e isso foi o que viram:

     Pegadas humanas descalças vinham lá de trás até a encruzilhada, chegando lá, quem quer que tenha formado aquelas pegadas começara á andar em círculos, desesperado, e era aqui que a coisa ficava estranha: as pegadas voltavam á se concentrar no lado esquerdo da estrada, e era uma pegada muito estranha. Quando viu de relance, pensou que fosse uma pegada humana, mas quando observou mais atentamente, percebeu que era bem diferente, era maior, bem maior, a parte que deveria ser o calcanhar, redondo como deveria ser, era triangular, comprida e reta, sem a curvatura da planta do pé, e os dedos eram compridos como dedos da mão e haviam buracos profundos, cinco deles, um na frente de cada dedo, indicando a presença de garras. A pegada era funda, como se o que a tivesse marcado tivesse uns duzentos quilos, bem no centro da encruzilhada. Então, as pegadas se tornavam as de um cachorro enorme e seguiam em frente.

     - Que coisa estranha. – Alice disse espantada.

     - Você não entendeu, não é? – Helena disse olhando bem nos olhos da filha – Um Lobisomem passou por aqui.

     Alice olhou bem para o rosto da mãe e então começou a rir.

     - Criativa a senhora. – a garota disse virando as costas e se afastando.

     - Eu estou falando serio, essas coisas existem! – ela disse apertando o passo para alcançar a filha – Observe, - Helena a puxou pelo braço de volta onde as pegadas humanas estavam. – nesse ponto ele ainda era humano, então a transformação começou, – apontava aonde as pegadas formavam o circulo – e aqui, é ele transformado. – apontou onde as pegadas eram as de cachorro.

     - Que besteira! - ela riu da mãe – Um cara descalço deve ter passado por aqui e depois um cachorro estupidamente grande passou por cima das pegadas dele.

     - Então por que as pegadas humanas de repente somem e só ficam as de cachorro?

     - Sei lá, você tá dando muita importância para uma coisa tão pequena. – ela virou de costas e começou a andar.

     - Se você tivesse ouvido as historias que meu avo contava, você também daria importância. – disse já a alcançando e seguindo de braços dados como eram acostumadas.

     - Mãe, fala serio, isso não faz sentido.

     - Como não? Quer que eu liste as evidencias? Em primeiro lugar, estamos na quaresma, além de ser um período de jejum e penitencia é um período em que os antigos acreditavam que coisas ruins andavam soltas para atrapalhar as orações; em segundo, hoje é sexta, sexta em uma quaresma; em terceiro, é lua cheia; em quarto, as pegadas estavam em uma encruzilhada. . .

     - Tá bom, tá bom. – ela interrompeu, ela não queria discutir, pois sabia que a mãe teceria um monólogo sobre as historias de seus antepassados dos confins de Minas Gerais.

     Porem, instintivamente, foi acompanhando a trilha feita pelo Lobisomem ao longo da estrada. Num certo ponto, a pegada desviava do lado esquerdo, atravessando para o lado direito e sumia num pasto cheio de vacas.

     - Aposto que haviam mais vacas ai ontem. – Helena disse com um sorrisinho, querendo dizer que a criatura teria dado cabo de alguma vaca no meio da noite para matar sua fome.

     Continuaram seu caminho e abruptamente as pegadas apareciam de novo, seguindo dessa vez pelo lado direito da estrada. Faltando uns oitenta metros para chegar á venda que já estava visível com suas inconfundíveis paredes roxas, passaram por uma casa pequena, estava abandonada á muito tempo, pois o teto havia caído e as portas e janelas pendiam quebradas em seus batentes. Essa casa, tão simples, teria passado desapercebida se não fosse o fato das pegadas desaparecerem de novo para dentro do mato, bem na frente da casa.

     - Ele deve estar dormindo ai, depois de se fartar com a pobre vaca.

     - Para com isso mãe! – Alice a repreendeu.

     - Meu avo dizia que eles gostam de dormir em casas abandonadas, onde ninguém vem encher o saco dele até de noite, quando ele acorda para caçar. – disse com um tom forçadamente sombrio.

     Helena gostava de provocar Alice, assustando-a com essas historias do Além Minas, e ria. Sinceramente, nesse aspecto, Alice achava sua mãe muito infantil, querendo assustá-la como se as duas fossem ainda estudantes de quinta serie.

     - Beleza, então vamos entrar ai e ver. – Alice disse parando em frente a casa com um ar desafiador. – Vamos ver se tem um Lobisomem mesmo. Estou com meu celular, se ele estiver ai, eu tiro uma foto, vendemos e ficamos ricas. – disse fazendo pouco.

     - Seria uma atitude pouco inteligente. – Helena se aproximou da filha e a pegou pelo braço gentilmente, puxando-a pela estrada, para longe da casa abandonada. – Se um Lobisomem é descoberto por alguém, ele mata a pessoa que descobriu, para guardar o segredo. E não queremos isso.

     - Você realmente acredita no que está dizendo? – Alice já estava achando aquilo tudo ridículo.

     - Já te disse, se tivesse ouvido as historias do meu avô, também acreditaria.

     Finalmente chegaram á vendinha num lugar tão ermo que, fora a vendinha, o único lugar habitado ali era uma pequena igreja que ficava do outro lado da rua, bem em frente. Compraram tudo o que tinham que comprar e voltaram pelo mesmo caminho, conversando sobre temas mais amenos e chupando um sorvetinho, tentando deixar essas ideias sobre lobisomens e coisas do além para trás. No entanto, toda a convicção que Helena demonstrara deixara Alice intrigada e mesmo que não quisesse, não conseguiu evitar de acompanhar as pegadas com os olhos durante a volta para o sitio.

     Chegaram em casa exatamente ao meio dia e o resto do dia se seguiu normal: Helena ocupada com os afazeres domésticos e Alice em seu quarto, lendo “A hora do Vampiro” de Stephen King. Sim, era um livro de vampiros, nada haver com lobisomens, mas mesmo assim, de tempos em tempos, olhava através da janela de seu quarto, para o matagal.

     Lá pelas seis horas da tarde, os cachorros da propriedade, dois vira-latas de nome Saddam e Mina, começaram á latir. Era Rafael que chegava com cinco peixes que havia passado a tarde inteira para pescar no lago lá embaixo, depois do pomar, estava desapontado por não ter pegado mais peixes.

     Durante o jantar, o assunto doas pegadas surgiu do nada, e não criou outra reação em Rafael senão um ataque de riso.

     - Mas que besteira! – disse por fim, depois de se recuperar das gargalhadas.

     - É, besteira. – Alice comentou cética como o pai, porem com um certo balanço na voz.

     O assunto terminou por ali. Alice ajudou a mãe com a louça e depois foi levar comida para os cães. Nossa, como a noite caía rápido no interior. Colocou a comida nos pratos do Saddam e da Mina, colocou a panela encima da casinha deles e tirou do bolso da calça um maço de cigarros. Fumava fazia alguns meses, escondida da mãe, claro, mas também era bem de vez em quando. Tirou o cigarro e o isqueiro do maço e ascendeu o cigarro, soltado longamente a fumaça. Olhou para o céu escuro, cheio de estrelas, como não dava para ver na cidade. Olhava para as estrelas e sua atenção foi atraída para a lua que realmente estava cheia, redonda e branca. Um calafrio a acometeu. Olhou para os lados e a fraca luz da varanda não iluminava muito além da varanda em si, deixando as arvores á frente sombrias, tortas e enegrecidas. Ouviu o som além delas, o som do farfalhar das folhas caídas, como se algo se movesse ali. Olhou para trás, Saddam e mina estavam mais interessados em seu jantar do que em folhas farfalhando.

     - Que droga! – jogou o cigarro fora e abanou a fumaça.

     Aquele papo de cosas rondando na escuridão deixara Alice impressionada. Pegou a panela em cima da casinha, entrou em casa e trancou a porta, era cedo ainda, mas ninguém mais iria sair (ou entrar).

     Ficou um tempo sozinha em seu quarto, lendo o livro que estava muito interessante e quando deu por si, já eram dez e meia, hora de seu seriado preferido, CSI – investigação criminal, o qual não perdia um capitulo sequer. Foi até a sala onde ficava a única tv da casa e sentou-se ao lado de sua mãe que também apreciava o programa.

     - Eu já ia te chamar. – Helena disse oferecendo á Alice uma bacia com pipoca.

     Mesmo que tentasse, Helena parecia ser a única á prestar atenção aos investigadores que procuravam um assassino que atuava nos cassinos de Las Vegas, á todo momento, Alice olhava por cima do ombro, em direção á janela. Fala serio, sua mãe tinha conseguido deixa-la paranoica. Quando terminou o CSI, começou outro seriado, que sua mãe assistia, mas que Alice não gostava muito, mas como Helena havia pedido para que ela ficasse, só para não assistir tv sozinha, ela ficou, ainda intrigada com a janela. Havia um relógio de parede na sala que dizia que eram onze horas e cinquenta e cinco minutos da noite. Mais tarde, ela descobriria que o relógio estava cinco minutos atrasado.

     - Pra mim já chega! Vou dormir. – Alice disse de repente.

     - Não vai ver o final do Monk?

     - Se segundo Stephen king sete horas é a Hora do Vampiro, meia noite deve ser a Hora do Lobisomem e eu não quero estar aqui para ver.

     Nesse exato momento em que Alice proferiu essas palavras, acreditem ou não, um uivo fez-se ouvir alto, agudo e horripilante. Nunca tinham ouvida nada parecido com isso, e olha que tiveram cachorros a vido toda. Tinham uma vizinha que tinha um Husky Siberiano, e aquele bicho uivava, mas aquilo que escuraram era dez, vinte vezes mais alto e agudo, não se comparava. Então Saddam e Mina começaram á latir enraivecidos, como se quisessem pegar algo, pegar e matar. Mãe e filha se olharam assustadas.

     - Eu te disse. – Helena disse baixo.

     - Mãe. . . – Alice começava á ficar apavorada.

     - Calma, todos nessa casa são batizados, e nenhum de nós está sangrando. Ou está?

     - Claro que não. – disse estranhando a pergunta.

     - Então, não tem com oque se preocupar. – ela disse controlando a voz para parecer calma.

     Outro uivo mais medonho do que o primeiro cortou a noite e os cachorros latiam com fúria do lado de fora e Alice dava graças á Deus por eles estarem ali protegendo a casa. Por Deus, algo queria entrar!

     - É melhor irmos dormir. – Helena disse tentando parecer lógica.

     - E´ ruim que eu vou conseguir dormir com seja lá o que for tentando entrar! – protestou.

     - Os cachorros não vão deixar entrar, mas se você se sente mais segura, vou colocar alho nas janelas e portas. Tá bom pra você? – disse tentando convencê-la.

     - Alho é para vampiros, mãe.- Alice disse confusa

     - É para proteção contra espíritos malignos em geral. – justificou – Até lobisomem.

     Helena foi até a cozinha e pegou no suporte de temperos o pote de alho e uma a uma ela foi colocando alguns dentes de alho nas janelas e nas portas. O latido dos cachorros lá fora continuava e elas não entendiam como Rafael não acordava.

     O quarto de Alice foi o ultimo á ser lacrado com alho.

     - Agora durma, vai ver, isso tudo não passa de imaginação fértil e vamos rir muito disso amanhã. – disse com voz calma.

     As duas abraçaram-se e helena deixou a filha sozinha. Alice trocou de roupa, colocou o pijama, apagou a luz e deitou-se. Naquela escuridão tudo parecia mais sinistro, a luz da lua entrava pela fresta da janela, projetando um jogo fantasmagórico de luz e sombra á frente da cama. É incrível como só reparamos nesse tipo de coisa nas horas mais improprias.

     Alice tentava dormir, mas não conseguia, assim como aquelas pessoas que não conseguem dormir se algo esta fora do lugar, ou não fica sossegado até verificar pela quinta vez que as trancas estão trancadas. E o barulho daqueles cachorros? Sentiu vontade de sair e brigar com eles, mas não era louca de por o pé para fora até que estivesse dia claro.

     Havia um rosário do criado mudo ao lado da cama, Alice o pegou e quando percebeu, estava rezando. Não se lembrava de ter sentido tanto medo em sua vida. Tudo bem, não era exatamente medo, era mais uma espécie de desconforto com uma situação, e o sentia forte, como nunca. Talvez se sentia uma tola pela manhã, mas por hora não soltaria o terço.

     Realmente não o soltou. Não lembrava-se de quando havia pego no sono, só sabia que os cães ainda latiam quando dormiu e quando acordou, ainda segurava o terço na mão. Ainda estava meio sonolenta, esfregava os olhos com a costa da mão quando ouviu batidas na porta.

     - Alice, acorda! Você tem que ver isso! – a voz de Helena soou do outro lado da porta, agitada.

     Num pulo, Alice levantou-se e abriu a porta do quarto, sua mãe esperava em frente, também com roupa de dormir.

     - O que aconteceu?

     - Essa você tem que ver!

     Helena a pegou pelo braço e foi puxando pelo corredor da casa, passaram pela cozinha e saíram da casa. Caminharam rápido pela entrada de carros e seguiram pelo caminhozinho que levava á porteira, onde Rafael e mais dois vizinhos que Alice nunca lembrava o nome estavam, olhavam alternadamente para o chão, para a porteira e cochichavam coisas.

     Quando mãe e filha chegaram perto o suficiente, os homens deram passagem e Alice quase caiu para trás: ali, na porteira, haviam as mesmas pegadas da encruzilhada, além de arranhões na terra e na madeira da porteira, mas não eram simples arranhões, eram talhos na madeira, feitas por garras afiadíssimas ou por um formão.

     As duas entreolharam-se espantadas e no meio de tantas ponderações que os vizinhos faziam, elas sabiam a verdade.

     Com o tempo, Rafael e os vizinhos convenceram-se de que quem tinha feito aquelas marcar teria sido o Mastife do vizinho japonês, Kioshi, que tentara entrar no sitio para comer as galinhas, mas nada tiraria da cabeça de Alice que se tratava de algo muito, muito pior. Ela nunca mais voltou para o sitio depois dessa, pelo menos, não durante a quaresma.

   

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

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Como escrever - "Como construir um personagem?"

    Olá Leitores!
    Espero que essa série de posts estejam sendo úteis para quem quer começar á escrever. Hoje vou dar umas dicas de como construir personagens que sejam cativantes.

Como construir um personagem?

     Agora que você já sabe construir um texto e não cair na besteira do tema batido, vamos dar vida áqueles que carregam o enredo nas costas, os personagens.
     Existen personagens básicos que toda historia deve ter bem detalhados para que o leitor não se confunda (a não ser que você opte pelo estilo de reviravoltas)
  •  Protagonista - Mocinho(a) , herói, personagem principal sobre o qual a historia vai ser contada
  • Antagonista - Vilão(a) , que faz tudo para atrapalhar os planos do herói.
  • Amigos do Mocinho(a) - personagens coadjuvantes que ajudam o mocinho em sua cruzada-plano-busca-qualquer coisa. São amigos do peito que não o abandonam.
  • Capangas do Vilão - como o nome já diz, á mando do vilão são capazes de fazer qualquer coisa.
  • Personagens secundários - são personagens que são secundários, mas que em algum ponto terão uma importância para a história.
  • Personagens Elenco-de-apoio - personagens sem nome (ou não), que estão lá apenas para denotar uma presença, uma mutidão, sem importãncia isolada para a história.
     O protagonista deve causar empatia no leitor, deve ser bem descrito, bem como seus motivos, assim como seu opicional par romântico. O leitor deve comprar a idéia de que ele é o heroi, com quem o leitor deve se identificar. Um herói fraco não leva o enredo para frente, por mais que seja original. Personagens fortes e de opinião são muito bem recebidos. Mas não caia na besteira de deixá-los muito arrogantes. Normalmente estão em busca de algo, como realizações pessoais, um grande amor, uma vingança, tipo "Preciso reencontrar meu _________"(preencha com Pai, irmã, irmão ou grande amor), kkkkkkkkk. São ativistas, acreditam na causa pela qual estão lutando, e algumas vezes tem sérios problemas com dilêmas morais, mas de alguma forma conseguem resolver tudo no final.
     O Vilão é uma faca de dois gumes, ele tanto pode ser odiado quanto amado. Sim, quem não ama Hannibal Lecter? E voltamos ao problema do herói fraco ou chato, isso pode direcionar a empatia para o vilão. (Coringa, te amo!!!!!!!!!!!!!!!!) Em sua maioria, eles são muito espertos, eloquentes, sedutores e não tem o velho problema da barreira moral na qual os heróis empacam. Eles fazem oque é preciso para ter o que querem, enquanto que o dilêma corroe o mocinho. O melhor do vilão, é que ele mesmo não acredita que é o vilão, ele acredita em sua causa de modo até mais fervoroso do que o mocinho, isso o faz atingir os extremos que lhe conferem o status de vilão.
     Os amigos e capangas são personagens coadjuvantes de grande importancia, pois tanto o herói quanto o vilão não chegariam á lugar nenhum sem uma mãozinha amiga. Se bem desemvolvidos também podem ganhar um espaço no coração do leitor e em determinados casos, uma história só para ele.
     Personagens secundários são necessários quando á a necessidade de uma fonte de informação que não possa ser encontrada pelo núcleo do heroi ou do vilão, eles tem uma unica função que é direcionar, um espaço pequeno e depois disso dificilmente voltam á aparecer na trama.
     Os personagens Elenco-de-apoio aparecem só encher linguiça. Tipo,
   
     "Mike estava na fila do caixa naquele mercadinho de beira de estrada, havia só uma pessoa na sua frente, um homem alto e forte, usava calça jeans e uma camisa de flanela vermelha por baixo do casaco de couro marrom, ele tinha um cheiro forte de gasolina, devia ser um caminhoneiro, um dos muitos que utilizavam aquela parada no fim do mundo. A operadora de caixa passava sua compra com uma lerdeza que mike jamais tinha visto, tanto que Mike já estava ficando meio enjoado com o cheiro de gasolina."

     Repare que apenas Mike tem nome. Mike é o personagem principal e o caminhoneiro um elenco-de-apoio, pois só vai aparecer uma vez, sem nenhuma relação com o resto da historia, e podem ser vários ao longo da trama, são equivalentes aos figurantes em um filme.

     Espero que tenham gostado deste post, já já tem mais!


    

terça-feira, 28 de agosto de 2012

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Como escrever - "Como desesnvolver um tema?"

Olá Leitores!

     Espero que tenham gostado do post anterior, o Como escrever - "Como construir um texto?" , onde falo sobre como construir um texto, sem cair em alguns erros típicos. Hoje, dando seguimento á esse post, vou falar sobre os temas mais utilizados, os que não dão muito certo e sobre publico alvo.

Como desenvolver um tema?

     Muito, bem, agora que você já sabe como construir um texto, que ele deve prender o leitor e deve ter começo, meio e fim, agora deve escolher o tema que a sua historia deverá seguir.
     Os gêneros variam de acordo com a predileção do autor.
  • Romantico
  • Suspense
  • Terror
  • Biográfico
  • Humor
  • Infanto-juvenil
  • Erótico
  • Aventura
  • Outros
     Uma vez escolhido o gênero, agora deve escolher o tema, o que é completamente diferente. Há varios temas no gênero aventura, (por exemplo piratas, guerra, busca por alguma coisa, uma jornada) e á partir do tema escolhido se desenvolve o enredo.
     Cuidado quando escolher um tema, você deve considerar o seu estilo e o publico alvo. Crianças gostam de historias em que se está em busca de alguma coisa; Adolescentes gostam de ficção, uma mistura de terror e romançe ou algo assim, Mulheres mais velhas gostam de romançe, Eu gosto de suspense, mas aí cabe ao autor descobrir em qual genero se sente mais á vontade e saber quem quer atingir. Como eu já disse no outro post, temas da moda nem sempre dão certo, uma vez que os leitores já estão de saco cheio da mesma coisa e uma historia original chama atenção exatamente por isso. Mas também, cuidado para não viajar na maionese. Uma ficção pode ser plausível e isso prende o leitor, ele deve se espelhar na história.
     Eu particularmente, prefiro começar com um "E se..." . Sim, uma pessoa normal, humano como qualquer um que de repente vê suas vida modificada por um determinado evento que muda tudo, até seu modo de ver o mundo, e em certo momento da historia, ele se pergunta, "Como vou continuar sendo eu mesmo depois disso?". Esse ponto de partida funciona muito bem para a maioria dos gêneros e dá um bom começo, para quem tem dificuldade de começar. Começe pelo evento que muda tudo e daí continue descrevendo suas consequencias, dá certo.

Por hoje é só pessoal. fiquem ligados para o proximo post!
bejus!
    

    
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Como escrever - "Como construir um texto?"

     Ola Leitores, hoje eu vou tentar passar um pouco do que eu sei, esse é o primeiro de uma serie de postagens que eu pretendo colocar aqui sobre como escrever um texto, para quem tem dificuldade.
     Em primeiro lugar, esse é o modo como eu escrevo, logo isso não é uma regra que devam seguir á risca, eu mesma acho que tenho muito o que melhorar na minha maneira de usar as palavras, mas lá vamos nós.

Como contruir um texto?

     Eu gosto de antes de tudo, escolher o gênero e me ater é ele, por exemplo, um suspense deve ser um suspense do começo ao fim.
     O tema deve ser sólido, o autor deve saber do que está falando. Pesquisas ajudam e o google está ai para isso. Não adianta querer viajar muito na batatinha, que um leitor mais atencioso vai perceber os erros, que na maioria das vezes são bestas. Se a sua história não se passa na Terra Média, na Terra do Nunca, no País das Maravilhas ou em Hogwarts, sua historia deve seguir as leis da física, unidade de medidas e datas historicas caso coincida com uma.
     O autor tem poucas paginas para prender a atenção do leitor. Não que ele deva já fazer um resumo da historia no primeiro paragrafo, mas sim, deve instigar no leitor a curiosidade aos demais capitulos e simpatia pelos personagens. Reviravoltas mirabolantes são desnecessárias e muitos leitores não gostam, como o mocinho que do nada vira o vilão, ou a mocinha que de repente coloca uma galhada no mocinho, e uma historia que deveria seguir um tema determinado começa á girar em torno da duvida dela em com que ela fica, desviando a atenção do tema original da historia.
     A historia deve ter começo, meio e fim. Parece besta, mas é mais dificil do que pensa. Perder um detalhe ou outro no meio do caminho causa uma grande lacuna na historia e deixa o leitor com cara de idiota. O começo deve apresentar o tema, os personagens e suas intenções, o meio deve explicar o por que e deve ser dinâmico, o fim deve ser a conclusão da historia com suas consequências. Há quem goste desse tipo de historia que não termina nunca, em serie, e voltamos á questão do perder um detalhe que o autor não percebe, mas o leitor percebe, fora que uma historia assim acaba por se tornar enfadonha.
     O português correto é importante, claro, mas dependendo da sua temática, pode ser usado sim uma forma mais coloquial de escrita, dependendo também do publico que se quer alcançar. Não vale á pena encher uma história de girias que os mais velhos não vão entender, nem usar o pretérito mais que perfeito que só a sua vó vai entender. Tem que dosar, uma dica é escrever de uma forma que você mesmo falaria naquela situação.
     Originalidade? Se possivel. Não vou ser hipócrita á ponto de dizer que DEVE ser original, os temas mais aceitos estão tão batidos quanto maionese, e se eu ver mais um livro de vampiro adolescente eu grito. Não é por que está na moda que vai dar certo. Mas o autor deve sincero quando escreve, mesmo se for sobre um tema batido. Lembrando que um original pode não agradar a maioria, mas cativa um grupo fiel.

Por enquanto é isso. Fiquem ligados para os próximos

domingo, 26 de agosto de 2012

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"Eles estão vindo!" de Natalia de Oliveira


Eles estão vindo!
 
     Suzana olhava para seu relógio de pulso de cinco em cinco minutos. Eram dez e quinze da noite e ela espera que mais cinco minutos se passassem para que finalmente pudesse dar o expediente por encerrado e ir para casa. Suzana trabalhava em um mercadinho não muito longe de sua casa, o que era bom, pois podia ir e vir á pé, o problema era que fora escalada para o último turno, das duas horas da tarde até as dez e vinte da noite. Tudo bem que o mercadinho em si era fechado ás nove, mas tinha que ficar até as dez e vinte para organização reposição de mercadoria e essas coisas. Embora já tivesse terminado tudo já fazia uns quinze minutos, não podia ir embora por conta do sistema de banco de horas, ou seja, minutos á menos, pagamento á menos, e isso, ao contrario de outras coisas nessa empresa em que trabalhava, era seguido á risca.

     Estava sentada no sofá da salinha dos funcionários, de braços cruzados, com a bolsa no colo, olhando para o nada, esperando os minutos se arrastarem. Ouviu o som dos passos das suas colegas subirem a escada que levava ao segundo andar do pequeno prédio, onde fica o escritório, sala da gerencia e sala de funcionários. As vozes soavam animadas enquanto se aproximavam e entravam na sala.

     - Ah, mas aquela caixa de geleia estava mais do que vencida. – Carol disse entrando pela porta, ao mesmo tempo que tirava o crachá do pescoço.

     - Eu sei, mas você tinha que chamar um dos meninos para ajudar você a levar para a lata de lixo. – Jaqueline, a gerente da loja, disse em tom de reprovação. – Machuca as costas, ai eu quero ver trazer atestado.

     Jaqueline era gerente da loja, mas era tão humilde e companheira das outras operadoras de caixa que era impossível usar o termo chefe quando se referiam á ela.

     - Ah, já está ai? – Jaque disse olhando para Daniela – Vida boa né? – disse indo em direção aos armários para pegar sua bolsa.

     - Eu terminei de lavar a cozinha e os banheiros faz tempo. – Suzana argumentou com um meio sorrisinho. – Vocês que ficam ai, fazendo hora.

     - Fala, ligeirinha. – Carol disse chicoteando a perna de Suzana de leve.

     Todas usavam o uniforme do mercadinho, que se consistia de calça jeans e uma camisa polo verde com o logotipo do mercado. Só restavam as três para ir embora, e depois que as duas que faltavam pegaram suas bolsas, ficaram todas em frente ao relógio de ponto esperando dar a hora.

     Depois de terem passado o cartão, desceram a escada e saíram pela porta de aço que Jaque fechou com a chave que lhe era confiada. Depois das despedidas habituais, cada uma foi para um lado: Jaque iria pegar o ônibus sentido bairro Esperança, Carol iria pegar o ônibus sentido Centro, onde ela pegaria o ônibus para o seu bairro, já Suzana, como já foi dito, morava perto, por isso iria embora á pé.

     Perto é modo de dizer, o mercado ficava na avenida principal da cidade, Avenida Barão de Mauá, ela morava no bairro do Jardim Mauá, que começava na segunda entrada vindo em direção centro a partir do mercadinho. O motivo pelo qual Suzana não pegava ônibus era por que não havia ônibus que viesse sentido centro que virasse na entrada do seu bairro. Se quisesse, poderia pegar um, descer no centro, pegar outro que voltasse e nem desceria em sua rua, além de gastar no mínimo uma hora nisso, logo, ela preferia gastar vinte minutos e ir á pé.

     Pegou o celular em seu bolso, do outro bolso pegou os fones de ouvido, acoplou um no outro, selecionou uma musica, colocou os fones e saiu andando pela noite.

     Suzana tinha que admitir, quando fazia isso realmente não prestava atenção no que acontecia á sua volta. Não prestou atenção nos carros que passavam á toda velocidade na avenida, não prestou atenção em uma viatura que quase bateu em um carro bem perto dela, nem em varias outras coisas que estavam acontecendo á sua volta que estavam dando pistas do que estava acontecendo. Só prestava atenção na musica que ouvia.

     Atravessava a rua, mesmo no sinal vermelho, um carro quase a pegou. Ela xingou e continuou seu caminho estranhando o acontecido, afinal, era ela quem estava com a razão. Quando começou á subir a ladeira, percebeu que os estudantes que deveriam estar saindo da escola no mesmo horário não estavam nas ruas. Estranho. Então tirou o fone do ouvido e começou á prestar atenção. A noite estava muito quente e quieta, como se houvesse algo pesado no ar. Ouviu o som da sirene de uma ambulância que corria á toda velocidade na avenida lá embaixo, fazendo-a se virar para olhar. Achou muito estranho, pois lembrou-se de ter ouvido um carro de policia passar e aquele carro que quase a atropelou, será que estava todo mundo doido hoje?

     Continuou seguindo seu caminho e chegou á avenida Joaquin Chavasco, a avenida que antecedia sua rua, estava deserta, como nunca a tinha visto, até o bar, que sempre ficava aberto ao longo da noite estava com pessoas de menos e meia porta baixada. Ela passou olhando e reparou que as cinco pessoas que estavam dentro do bar estavam assistindo tv, mas não o canal de esportes, como era de costume, mas sim, o jornal. Todos tinham um ar muito estranho, e um deles veio até a porta e olhou para os dois lados da rua, procurando por alguma coisa que ele não queria ver. Quando ele viu Suzana ele fez uma cara de espanto.

     - O que você tá fazendo na rua, moleca?! Vai pra casa e se tranca! – ele gritou para ela.

     Como assim?! Quem era aquele cara? Nem o conhecia e ele estava mandando ela ir para casa como se ele fosse seu pai. Ela ficou tão bestificada com isso que nem respondeu, apertou o passo continuou seu caminho, sua casa estava á menos de cinco minutos.



     Sua casa era a primeira, quando a Joaquin Chavasco se bifurcava com a Albino Bianchi, do lado direito. Ela andava rapidamente e percebeu que uma pessoa vinha em sentido contrario ao dela, pela Joaquim Chavasco, a única pessoa que andava na rua além dela, mas havia algo estranho. Parecia ser um homem, pois parecia alto e forte, mas andava de forma estranha, meio cambaleante, torto, como se estivesse bêbado. “Ah, não! Um bêbado!” pensou. Outra vez apertou o passo, pela distancia que ele estava, ela estaria dentro de sua casa quando ele alcançasse a sua rua. Ajeitou a bolsa no ombro e caminhou rapidamente, quase como a marcha olímpica e como previra, descia a escada de sua casa antes que ele entrasse na rua.

     No momento em que descia a escada, o telefone celular em seu bolso tocou e ela atendeu quase se desequilibrando na escada.

     - Alô?

     - Suzana? Você tá em casa? – a voz de sua mãe soou do outro lado da linha.

     - Oi mãe, como vai mãe?

     - Responde menina, onde você está? – a voz de sua mãe soou nervosa.

     - Estou descendo a escada mãe.

     - Corre logo para dentro e se tranca.

     - Mas, oque. . . ? Como assim? – era a segunda pessoa que falava para ela se trancar.

     Nesse momento ela abria o portão de casa, mas como estava conversando com sua mãe no telefone de distraiu.

     - Oque está acontecendo?

     - Se tranca!

     - Mas. . .

     O telefone da casa tocou nesse momento, ela entrou e sem que percebesse deixou o portão entreaberto.

     - Espera um pouco mãe. – ela disse correndo através da cozinha e entrando na sala de estar para atender o telefone que ficava no canto da sala. Jogou a bolsa no sofá e atendeu o telefone. – Alô.

     - Suzana? – a voz de Jaqueline – Você já chegou em casa?

     - Já.

     - Você tá bem? – ela parecia nervosa.

     - Meu Deus, o que é que tá acontecendo afinal? Tá todo mundo dizendo para eu entrar em casa. – disse já irritada.

     - Liga a tv! Agora!

     Suzana sentiu um frio na barriga. Aquela sensação de que algo estava terrivelmente errado. O celular ainda estava em sua mão, então colocou o telefone de casa de ladinho na mesinha na qual ele ficava, pegou o controle remoto da tv que estava jogado no sofá e ligou a tv, que já estava sintonizada num canal de noticias. Uma repórter a qual não sabia o nome tinha uma expressão consternada, ela segurava um papel e era notável que ela tremia assim como sua voz.

     - . . . acaba de chegar da central de redação. - ela deu uma pausa e engoliu em seco, olhando para o papel em sua mão – O numero de ocorrências é impressionante, os telefones da policia e da emergência estão congestionados, mas. . . fontes em nossos blogs afirmam ser mais de 2000 ocorrências no Estado. As noticias ainda são controversas, mas todos os veículos de informações são unanimes em afirmar que. . . – a repórter leu, olhou para o lado, como se para confirmar se o que estava lendo era o que ela tinha que falar para o pais, e como se a resposta fosse afirmativa, ela tremeu mais uma vez e disse pausadamente - . . . os ataques á civis que começaram no começo dessa noite no Aeroporto de Congonhas foram causados por Mortos.

     - O que? – Suzana disse sozinha.

     - Mortos que, de alguma forma, levantaram e atacaram os vivos. A precaução recomendada é que de forma alguma os civis tentem interagir com os agressores, eles são extremamente perigosos, fortes e qualquer tentativa de conversa não funcionara. Sua intenção parece ser apenas a de causar danos com violência e. . . dentadas. Eles são extremamente violentos e acreditasse que também sejam portadores de alguma doença contagiosa, pois as vitimas, depois de atacadas, adquirem o mesmo comportamento.

     - Meu Deus do céu. – Suzana disse espantada com oque estava ouvindo. Isso não era possível.

     Ela assistia a isso boquiaberta. Será que isso era alguma pegadinha, alguma brincadeira de mau gosto? Os mortos estavam atacando os vivos? Não, isso era irreal demais. Mas aquela repórter tinha uma expressão de medo no rosto. Então começaram á exibir imagens dos acontecimentos: Pessoas que pareciam normais, mas estavam feridas, como se tivesse tido um acidente de carro gravíssimo, correndo atrás de outras que corriam em desespero; em alguns casos, um grupo de dez cercava uma garota e avançava nela, o resto da imagem era borrada, mas dava pra deduzir o que acontecia.

     Suzana até esqueceu o telefone, estava tonta com o que via na tv. Esqueceu até de que havia deixado o portão entreaberto. Ouviu uns passos na cozinha, mas ela morava sozinha. Virou-se, olhou para a porta da sala que levava á cozinha e viu que um homem estava entrando na sala, mas não era um homem normal, era um morto!    

     Ele era o mesmo homem que andava cambaleante na rua á pouco. Talvez ele tivesse visto Suzana, talvez ele tivesse sentido seu cheiro, a questão era que ele havia descido a escada, sabe Deus como, e agora estava ali, na sua casa. Ela não o conhecia, era branco, com uma camisa azul muito escura e uma calça jeans, seu lado esquerdo estava lavado de sangue, a cabeça, o pescoço tinha um ferimento enorme, e parecia que faltava um pedaço e de lá, jorrava o sangue que molhava sua roupa e fazia uma trilha no chão. Ela gritou e caiu no chão. A criatura soltou um guincho alto, como um animal enraivecido e avançou em direção á ela, mas ela foi ágil e escapou por baixo de seu braço que estava aberto para agarra-la. Ela saiu correndo pela cozinha, trombando na mesa de jantar. A cozinha era o cômodo central da casa, ao qual os demais cômodos estavam ligados, assim como seu quarto. Ela entrou em seu quarto com a criatura vindo cambaleante em seu encalço. Ela correu e entrou em seu banheiro, trancando-se, em seguida caiu no chão, batendo as costas na parede.

     Alguns segundos depois, ouviu a criatura soltar o guincho hediondo outra vez para em seguida começar á bater e á chutar a porta.

     - Meu Deus! – ela chorava. Ainda na mesma posição estatelada.

     A criatura continuava a bater, insistindo.

     A porta do banheiro estava ali desde que se lembrava, desde que era criança. Era de madeira boa e forte e mostrava poucos sinais de desgaste, mas isso não era motivo de alivio. Ela não sabia quanto tempo a porta aguentaria.

     Suzana respirava descompassadamente, nervosa. Tremia dos pés á cabeça, isso não podia estar acontecendo. Durante toda sua vida, assistira á filmes de zumbis, era fã de George Romero, mas ver essas coisas, essas criaturas na vida real era. . . era horrível.

     A criatura fez silencio e tudo ficou quieto, a não ser pela respiração de Suzana. Ela se ajeitou e ficou escutando. Nada. Se levantou, sufocando o choro com as mãos. Ela tremia mas foi se aproximando da porta. Ela encostou o ouvido na porta, tentando ouvir alguma coisa e nesse momento, a criatura bateu mais forte, chutando e esmurrando, arranhando com as unhas loucamente e guinchando daquele modo grotesco.

     Outra vez Suzana caiu no chão desesperada. Encolheu-se, abraçando as pernas e balançando como uma criança.

     - Pai nosso, que estais no céu, santificado seja vosso nome, venha á nos o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. . .

 

     Suzana abriu os olhos, a luz entrava pela pequena janela quadrada do banheiro. Sentiu uma dor horrível na barriga e se colocou sentada, o banheiro estava diferente, estava claro com a luz do sol. Levantou a polo verde e viu um hematoma como um traço na barriga, o encontro com a mesa na hora da fuga. Parou para ouvir. Percebera ao longo da noite que a criatura ficava quieta de proposito esperando que ela se aproximasse da porta, agora sim sabia que a criatura sentia seu cheiro, ela sabia que Suzana estava ali e não iria embora. De vez em quando Suzana o ouvia arranhar a porta com as unhas e respirar como se estivesse constipado. Suzana chorara tanto que dormira com tanta dor de cabeça, se bem que a pancada que levara na cabeça quando caíra de encontro a parede do banheiro contribuía muito.

      Levantou-se caminhou lentamente até o vaso sanitário. Se aliviou e em seguida foi até a pia, lavou as mãos e bebeu um pouco de agua. Olhou para a porta, a criatura que estava quieta voltara a bater na porta com violência, mas Suzana não tremia mais. Tivera bastante tempo para perceber que o morto não derrubaria a porta, por mais perigoso que fosse, não derrubaria uma porta de madeira maciça, seu problema era outro agora. Estava em um banheiro, mesmo que tivesse agua por um certo tempo, não tinha comida. Se não desse um jeito de sair de lá, morreria de inanição em pouco tempo. Não tinha para onde correr.

 

     O dia corria lento. Era o terceiro dia dentro do banheiro, Suzana estava encostada na parede, com as pernas estiradas no chão. Estava sem a camisa, só de sutiã, pois a camisa pendia molhada na pia, depois de ter se lavado precariamente na pia. Ela jogou um pedaço de azulejo que havia se soltado da parede com o seu impacto, e sua maior diversão era ficar jogando esse caco para lá e para cá. Ela jogou o azulejo na porta e outra vez a criatura se manifestou.

     - Cala a boca! – ela disse sem paciência esfregando as têmporas doloridas.

     Pior do que morrer de inanição era ficar ouvindo aquele ruído irritante até a hora derradeira. Ela devia ter imaginado que o fim seria assim, morrer de fome e de tedio.

     - Meu pai, você era chato assim quando você era vivo?

     Nesse momento ouviu um barulho, como de vários passos dentro de casa e a criatura guinchou. Pronto, agora sim, um monte desses e derrubariam a porta. Levantou-se apreensiva, no entanto algo estranho aconteceu.

     - Pode deixar, chefe, ele é meu! – Suzana ouviu a voz de um homem dentro do quarto.

     Ouviu um som metálico, como de o engatilhar de uma arma e então vários tiros. Suzana se agachou se encolhendo no canto do banheiro. Ouviu o som de alguma coisa pesada e mole caindo no chão, depois sangue escuro entrou por baixo da porta do banheiro. Suzana se levantou, não queria que aquele sangue tocasse nela pois lembrou-se do que a repórter disse três dias atrás.

     - Chefe, - a mesma voz disse outra vez – Tem alguma coisa ali dentro, eu vi sombra por baixo da porta.

     Suzana prendeu a respiração quando forçaram a maçaneta e constataram que a porta estava trancada por dentro.

     - Tem alguém vivo aqui?!

     - Tem! – ela gritou e abriu a porta, deparando-se com uma imagem que nunca imaginou ver na vida:

     Haviam cinco homens em seu quarto, com farda do exercito, portavam rifles e calibres 12 e outra gama de armas que ela não identificava mas que estavam apontadas para ela. A criatura estava jogada no chão praticamente sem a cabeça e seu sangue inundava o quarto e entrava no banheiro. Ela tinha os braços levantados mostrando que era inofensiva, pois estava assustada com aqueles soldados.

     - Moça, você está ferida? – o que parecia ser o líder disse com voz imponente.

     - Não.

     - Foi mordida ou atacada?

     - Não. – sua voz tremeu, eles apontavam a arma para sua cabeça.

     - Esse sangue entrou em contato com a senhora?

     - Não.

     Um dos soldados se aproximou dela e olhou bem no fundo de seus olhos. A pegou nos braços com uma delicadeza que ela estranhou e relutou um pouco.

     - Calma, amor.

     Ele a carregou até a cama, tirou a jaqueta da farda e a colocou sobre os ombros dela, cobrindo sua semi-nudez, um toque de cavalheirismo.

     - Qual seu nome? – ele disse tirando uma mecha de seu cabelo que caia em seu rosto.

     - Suzana.

     - Meu nome é Lucas. Há quanto tempo estava trancada no banheiro, querida? – ele disse com voz macia.

     - Três dias. – ela respondeu mais calma. – O que vocês estão fazendo aqui?

     - Somos desertores.  – ele sorriu - O mundo acabou, o governo, foi pelo ralo, estamos tentando achar algum lugar seguro e enquanto isso, vamos fazendo umas paradinhas.

     - Estão saqueando a minha casa? – nesse momento ouviu o som de vidro se quebrando na cozinha e percebeu que três soldados não estavam mais no quarto, apenas Lucas e o Chefe continuavam lá.

     - Ainda bem que estamos, não é? – ele sorriu naturalmente. – Está com fome? Claro que está. Vou trazer alguma coisa pra você comer.

     Com um olhar terno, ele se levantou e saiu do quarto, deixando apenas o Chefe com Suzana. Ela continuava ouvindo o barulho pela casa, das portas dos armários sendo abertas e seu conteúdo sendo saqueado. Isso era realmente o fim do mundo. Ela percebeu que os olhos do chefe estavam fixos nela, mais precisamente na jaqueta aberta. Inconscientemente ela se encolheu e fechou o zíper da jaqueta.

     - Desculpe se parecemos grosseiros, mas as coisas estão confusas no mundo. – ele disse com tom ameno

     - Eu agradeço pela ajuda, se não fosse por vocês eu teria ficado trancada naquele banheiro até morrer de inanição. – ela disse moderando a voz e tentando ignorar o fato de que estavam depenando sua casa.

     - Bem, como Lucas disse e você também já deve ter percebido, querida, o mundo foi pelo ralo. Não há mais governo, não há mais policia, nem criminosos, só existem sobreviventes. – ele disse com um tom estranho. – Espero que esteja me entendendo.

     - Estou. – não estava.

     - Pessoas nessas condições se transformam e agem de forma que não agiriam em sã consciência. Elas podem ser perigosas. Pode vir com a gente, se quiser. Uma garota novinha como você não pode ficar por ai desprotegida, podemos proteger você.

     - Como?

     - Ou você prefere ficar e voltar para o banheiro.

     Eles se olharam por um tempo.

     - Muito bem, to vendo que isso vai ter um preço.

     - Você é esperta. – ele disse com um meio sorriso.

     Ele tirou a jaqueta e a camisa camuflada e se aproximou de Suzana.

     - Vai ter o meu preço. – ela disse impedindo ele com a mão. – Você vai me dar uma dessas armas também, vai me ensinar a usar e vamos até a cidade de Pilar, ver se minha mãe está viva.

     - Justo.

     - Justíssimo. – Suzana concordou abrindo a jaqueta.