A primeira coisa que Ethan Downey notou
assim que acordou era que havia algo errado. Ainda estava naquele estagio em
que se está meio desperto, meio dormindo, não sabendo ao certo se ainda está
sonhando, mas com certeza, havia algo errado. Estava com frio, isso foi uma das
primeiras coisas que sentiu. Passou a mão no colchão á procura do cobertor, e
com estranheza percebeu que não havia cobertor, nem lençol, nem travesseiro, e
aquele colchão era estranho, era mole demais, ele tinha um cheiro para lá de
esquisito, não sabia o que era, parecia suor misturado com urina e alguma
bebida fermentada, definitivamente não era o cheiro do seu colchão, então se
mexeu um pouco, e nesse momento sentiu dor, uma dor bem real, então abriu os
olhos, despertando de vez.
O susto inicial durou pouco, dando lugar ao
pânico que veio a seguir. Realmente aquela não era sua cama, não era seu
quarto, não era sua casa. Era um colchão de espuma velho, fedido, com uma cor
que ele não conseguia descrever, jogado no chão de um lugar não menos
preocupante, igualmente velho, frio e caindo aos pedaços.
Com cuidado por causa da dor, colocou-se
sentado e olhou em volta, em pânico: estava num quarto de hotel ou pensão bem
barato. Sabia disso, mas como sabia disso? Não havia quase nada no quarto, além
do colchão, um sofá e uma mesinha de centro caindo aos pedaços, com no mínimo
dez garrafas de cerveja e vodca ice. Chutava esse numero, por que não queria
contar, pois se contasse, seriam bem mais que dez. Havia muita sujeira: papeis amassados
e jogados como se o chão do quarto fosse uma grande lata de lixo, e a julgar
pelo cheiro, lixo do banheiro; algumas caixas de pizza com o interior verde de
bolor e viu no canto uma coisa peluda se mexendo. Se era um gato ou um rato
muito grande, Ethan não queria ficar ali para descobrir. Com muita dificuldade,
ele conseguiu se por de pé, agarrando-se na parede, a dor que sentia era no
corpo todo, mas principalmente na barriga e no rosto, passou a mão no rosto
aonde doía, perto da sobrancelha, e sentiu a mão grudar. Assustado retirou a
mão rapidamente e olhou, havia sangue coagulado em sua mão. Horrorizado olhou
de novo para o colchão, havia uma roda vermelha aonde devia ter encostado a
cabeça.
- Meu Deus! – sua mão tremeu e ele quase
caiu, perdendo momentaneamente as forças das pernas.
Dando a si mesmo um tempo para se
recuperar, foi colocando os pensamentos em ordem, parando para pensar
racionalmente: não fazia a menor ideia de onde estava, ou por que estava, como
havia ido parar lá, estava obviamente ferido e estava com medo. Olhou outa vez
para as garrafas, outra vez recusando-se a conta-las, então uma coisa lhe
ocorreu: levou a manga da camisa que usava ao nariz e a cheirou, então com
espanto percebeu que o cheiro ruim que sentia vinha dele. Nesse momento
sentiu-se enjoado e colocou a mão na boca para não vomitar em si mesmo. Olhou
em volta, viu uma porta entreaberta dentro do quarto e de relance viu um vaso
sanitário. Com a velocidade que lhe era permitida, correu em direção á ele, escancarando
a porta e quase caindo de cara no vaso. Vomitou muito, parecia que não ia parar
nunca. Quando terminou, ficou estendido no chão daquele banheiro que conseguia
ser mais xexelento que o resto do quarto, sentindo aquele gosto horrível na
boca e aquele cheiro azedo no ar, só não vomitava por não ter mais o que
vomitar. Com mais dificuldade do que da primeira vez, levantou-se apoiando-se
com nojo no vaso e foi apoiando-se no que via e assim chegou á pia. Abriu a
torneira e bebeu um pouco de agua, olhou no espelho junto a pia e viu que seu
supercilio direito estava cortado e havia outro corte na face esquerda,
deixando seu rosto quase totalmente sujo de sangue. Lavou o rosto com agua
corrente, lavando bem os cortes e voltou a se olhar no espelho.
- O que você fez? – disse em voz alta,
olhando para o homem de cabelos negros desgrenhados, o olho direito azul e o
esquerdo verde e pele muito branca, com as marcas do sangue coagulado se
prendendo na linha do couro cabeludo e olheiras roxas refletido no espelho.
Respirou fundo, pois outra vez sentiu seu
estomago embrulhar e virou-se de costas para o espelho, não queria ver mais
aquela imagem decadente. Passou a mão tremula no cabelo e saiu cambaleante do
banheiro. Olhou o quarto de outro ângulo e viu que na verdade era um pequeno
apartamento, uma pequena mureta dividia o lugar com uma cozinha (ou o que
deveria ser uma cozinha) com uma geladeira que devia ter a sua idade, um fogão
velho e um armário de cozinha de madeira com duas portas penduradas e uma gaveta
faltando. Olhou para si mesmo, usava uma calça jeans de lavagem escura, um
sapato preto muito brilhante e aparentemente caro e uma camisa que tinha um
design de sobreposição nas mangas e na barra, em tons de xadrez roxo e preto.
Estranhou, aquela roupa não era dele, não era seu estilo nem de perto, sempre
acostumado á se vestir de forma um tanto mais simples. Sentiu uma coisa
estranha na nuca e passou a mão, era um pedaço de papel duro, mas estava preso
ao tecido. Forçando, ele arrancou o pedaço de papel e viu que era a etiqueta da
camisa. Seu look era novo, e se considerasse a marca da loja, era caro.
Olhou em volta procurando alguma coisa que
fosse sua, e caído ao lado do colchão ele encontrou sua carteira, pequena e de
couro marrom escuro. Ansioso ele a abriu e lá encontrou sua identidade, seus
cartões, pelo menos duzentos dólares em dinheiro, e o mais aterrorizante, as
notas das roupas, seu visual havia custado quatro mil dólares.
- Mas que droga! – disse ele espantado. –
Mas como. . .?
Parou. Não queria pensar nisso agora, não
aguentaria pensar nisso agora, não ali. Aquele lugar lhe dava nojo, lhe causa
um mal estar, não queria ficar mais nenhum segundo ali. Levantou-se e caminhou
na direção da porta de saída do quarto depois de ter certeza que não deixara
nada de seu naquele lugar, (na verdade
isso se resumia na carteira) e saiu com um único pensamento na cabeça: “Eu te odeio, Nathan!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário