quinta-feira, 27 de setembro de 2012

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Trecho de "O Padre e a Bruxa" de Natalia de Oliveira




     "Ethan despertou devagar, enquanto abria os olhos, ainda estava naquele momento entre o sonho e o despertar, tudo meio que em névoa. Estava deitado, nu, numa cama que não era a sua. Então sua visão foi entrando em foco e o que viu foi o rosto adormecido de Samantha que ainda dormia de frente á ele, seu cabelo ruivo espalhado pelo travesseiro e uma expressão de paz tão linda que Ethan sorriu. Sentiu o perfume dos cabelos dela e a lembrança do que havia acontecido lhe ocorreu em uma fração de segundos, aquecendo seu coração e mais uma vez sorriu. Naquele momento, não pensava em seus deveres, nas consequências, na igreja, se era errado ou não, em nada, tudo o que queria era que aquele momento durasse para sempre. Sempre havia se perguntado como seria estar apaixonado por uma pessoa á ponto de arriscar tudo por ela, agora sabia.

Olhou para a janela que ficava perto da cama, estava escuro lá fora. Por quanto tempo dormira? Já devia ser muito tarde, mas para a sua surpresa não se importava. Sentia-se feliz como nunca se sentira na vida e nada mudaria isso.

Ele se aproximou mais de Samantha e beijou de leve seus lábios. Ela se mexeu um pouco, mas não acordou.

- Eu te amo. – ele sussurrou acariciando seu rosto e ela pareceu sorrir. Era verdade, naquele momento, oque Ethan sentiu pela primeira vez foi amor.

Ethan ouviu um barulho lá fora, como de farfalhar de folhas secas no chão. Ele virou-se em direção á porta por um instante intrigado, mas como o barulho não continuou ele voltou á sua posição inicial de frente para Samantha, ignorando o perigo que se anunciava. Demorou alguns minutos até que outra vez ouvisse o barulho, dessa vez mais perto da casa. Dava a impressão de que eram passos, não de uma, mas de varias pessoas. O som parecia rodear a casa, lentamente, como se estivessem tomando cuidado para não serem percebidos. Ethan intrigado colocou-se sentado e passou á prestar atenção e ficou olhando para a janela, quase soltando uma exclamação de susto ao ver um vulto passar por ela. Sentiu uma sensação terrível nesse momento, de que algo estava terrivelmente errado. O que estava acontecendo? Ele estendeu a mão para acordar Samantha, mas isso não foi preciso, pois nesse momento, a porta da cabana abriu-se com um estrondo, acordando Samantha com um pulo. Ella abraçou Ethan por trás, para também esconder sua nudez. Um homem grande, de jeans, boné e camisa de flanela entrou, ele havia aberto a porta no chute! Mais cinco homens entraram, todos no mesmo estilo grande e mal encarado, caipiras valentões, digamos assim. Não os conhecia, mas podia jurar que já os tinha visto nas “rodas de orações” de Annabeth, e agora eles estavam invadindo a cabana.

- Ele está com a bruxa! – um deles disse com uma voz vacilante, como se ele tivesse tomado um litro de energético Red Bull – Pega ele!

- Quem são vocês?! – Ethan protestou ao ver essa invasão. Como resposta, levou um tapa na cara.

Dois dos homens pegaram Ethan pelos braços, arrastando-o para fora da cama e da casa, como se ele fosse um animal, pouco se importando com o fato de que ele estava nu.

- Não! – ele protestou, tentando desvencilhar-se, debatendo-se como um gato, mas eles eram maiores e mais fortes. – Me solta! – ele continuava. – Samantha! – ele gritou, pois estava temendo oque aqueles homens pudessem fazer com ela, mas Samantha veio logo atrás, sendo arrastada do mesmo modo gentil por dois daqueles homens, estranhamente, um deles ainda ficou na cabana, aquele que havia arrombado a porta.

- Por favor! – Samantha gritava, chorava, eles a arrastavam pelos cabelos, e também não se importaram que ela também estivesse nua. – Não! – eles a jogaram no chão. Ethan podia ver seu olhar aterrorizado.

Os fanáticos os arrastaram até o gramado do lado de fora da cabana, onde muito mais gente esperava. Toda a congregação de Annabeth, aqueles fanáticos estavam ali, eram dezenas, com tochas, como um levante medieval, um comitê de linchamento.

- Não toquem nela! – ele gritou.

Os fanáticos que seguravam Ethan fizeram com que ele se ajoelhasse e começaram a investir socos contra sua face, e no terceiro soco, quando caiu ao chão, começaram á chutar seu estomago de forma violenta.

- Parem, meus irmãos. – ele ouviu uma voz calma dizer atrás dos agressores e eles realmente pararam. Era a voz de Annabeth que havia se aproximado enquanto os brutamontes espancavam Ethan. – Ele é inocente, foi corrompido pela bruxa.

Os agressores o levantaram para que ele olhasse para Annabeth. Ela estava com os cabelos um tanto emaranhados, seus olhos estavam arregalados e as pupilas dilatadas. Seu conjunto de linho lilás não combinava com a bolsa de couro marrom que trazia apertada embaixo do braço como se a bolsa fosse fugir dela. Finalmente havia acontecido, Ethan pensou, a loucura finalmente havia tomado conta de Annabeth. Não havia nenhum ser racional ali.

O homem que havia ficado na casa voltara agora, trazia duas peças de roupa, uma camisola branca de algodão que ele jogou na cara de Samantha que tremia compulsivamente e a calça jeans que Ethan usara aquela tarde, que por sua vez também foi jogada em sua cara.

- Cubram sua vergonha, pecadores. – Ela disse dando uns passos para trás.

Samantha olhou desesperada para Ethan. Ele retribuiu o olhar como que dissesse “Faça oque eles mandarem, eles são loucos, droga!”. Ambos se vestiram com as peças trazidas, no entanto continuavam sob o domínio dos agressores que os seguravam. O rosto de Ethan doía, bem como sua barriga e suas costas e manter-se ajoelhado era difícil.

- Aproveitou bem seus momentos de devassidão, padre? – Annabeth disse aproximando-se agora que eles não mostravam mais suas “vergonhas”.

- Você é louca! – ele disse com ódio.

- Louca? – ela fez uma cara de ironia. –Você dá as costas á Igreja para fornicar com aquela cadela e nós somos os loucos? - uma enxurrada de “Améns” se seguiram á essa frase. – Mas eu entendo, você foi corrompido, todos nós fomos, com palavras doces e olhos de serpente. – ela se aproximou dele e acariciou seu rosto, como faria com uma criança. – O momento da expiação chegou, e eu aposto que vocês não estavam esperando por isso.

- Se encostar em um fio de cabelo dela eu juro por Deus que. . .

- Oque? Jura o que? – ela riu – Você caiu em desgraça aos olhos Dele, Padre. – ela se virou para a multidão dizendo em alto e bom som – Estão vendo, meus irmãos, oque aquela maligna criatura fez?! – ela apontava para Ethan – Esse não era um rapaz qualquer, era um servo de Deus, puro, e ela o escolheu, ela o desvirtuou. Olhem para ele, – ela apontava – a arrogância e a luxuria o tornaram cego. Mas a culpa é dele?

- Não! – a multidão disse em coro.

- De quem é a culpa então, meus irmãos?

- É da bruxa! – responderam mais alto, levantando as tochas.

- Nós podemos deixar que essa cadela continue com o trabalho do Inimigo, que continue á nos afastar do caminho do Senhor?!

- Não!

- Não, não podemos. – Annabeth disse baixo.

Ela se aproximou de Ethan outra vez, com aquele olhar louco que ela tinha.

- Pelo menos nisso você foi muito útil, Padre O’connel. – ela abriu a bolsa que trazia apertada junto ao corpo e de lá tirou um livro. De começo, Ethan achou que fosse uma bíblia, mas percebeu que já tinha visto aquela capa antes.

- Meu Deus, não. . . – ele murmurou.

Ela levantou o livro alto e os detalhes em dourado na capa de couro cintilaram com as luzes das tochas e ouve uma ovação por parte da multidão. Era o “Martelo das bruxas”, o livro errado nas mãos erradas. Isso não podia estar acontecendo, como ela conseguiu o livro? Ele estava trancado em sua gaveta.

- Esse livro, irmãos, abriu os meus olhos.– ela disse com um sorriso macabro. – Obrigada, Padre, por ele. Ethan olhou para Samantha que o olhava com verdadeiro desespero. – Que tal começarmos com o básico? Amordacem-na e joguem-na no rio, se ela boiar, veremos o que faremos.

- Não! – Ethan gritou

Nesse momento, ele sentiu uma dor forte na parte de trás da cabeça, uma pancada, então caiu no chão e desmaiou. . ."

5 comentários:

  1. Oi Natália de Oliveira.
    Sou Romulo de Oliveira... E devo dizer que, primeiramente estou impressionado com o trecho da sua historia.
    A principio eu pensei que a historia se passasse no seculo XII, na época da santa inquisição, mas depois que jogaram uma calça Jeans para ele cobrir sua vergonha, eu imagino que a historia deve se passar depois de 1850.
    Admito que a principio, pensei se tratar de "Mais um Van Helsing Fajuto...", mas peço desculpas.
    Assim que Annabeth sacou o Malleus Maleficarum eu percebi que a coisa iria ficar feia pra Samantha.
    Ha, também sou escritor e por coincidência também tenho uma Samantha que é perseguida.
    Vou acompanhar seu blog pra ver onde essa historia vai dar.
    Até mais!

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    1. Obrigada, Romulo, pelo comentario! Esse é um livro que ainda estou construindo, que bom que gostou desse trecho! Conforme eu for criando, irei postando no blog e espero suas sugestões também! beijusssss

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