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terça-feira, 2 de outubro de 2012

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"Sebastian", Capitulo IV, de Natalia de Oliveira

Parte I
Capitulo IV
"O Agente Clark Davis"
 

       - O que você pensa que está fazendo? – Francesco dizia exasperado – Já faz um mês que está com a gente e não traz nada! – estava furioso. – Nada de dinheiro, é um inútil.

       - Sim, eu trago. – Sebastian protestava ofendido.

       - As mixarias que arranja esmolando não são suficientes. – ele sibilou.

       - O que quer que eu faça? Ainda não sei falar sua língua direito, as pessoas não me entendem, como espera que eu me dê bem? – protestou.

       Francesco riu, os outros riram junto, menos os irmãos Luigi e Pietro, que pareciam ser os únicos que demostravam ter certa pena dele e não tomavam parte nas brincadeiras sem graça dos demais.

       - Acho que você não pegou o espirito da coisa, deixe-me explicar para que entenda: ou traz dinheiro, ou vai se entender com o chefe. – aproximou-se de Sebastian – Acredite em mim, não vai querer saber o que ele faz com maus investimentos.

       Sebastian queria se afastar, mas Francesco aproximava-se cada vez mais, fazendo-o encostar-se à parede. Francesco colocara uma mão de cada lado de Sebastian, prendendo-o. Estavam naquele beco em que fora deixado por Don Giovanni, não havia como escapar. Não gostava de Francesco desde o começo, do jeito que ele o olhava, que se dirigia a ele, era um jeito estranho meio lascivo, como se o quisesse, e isso lhe causava calafrios. Ele aproximou o rosto bem perto do rosto de Sebastian, sussurrando:

       - Eu sugiro que caçe algo para fazer, roube, furte algo, continue esmolando se quiser, mas tenho certeza que se daria muito bem em outra área. Você é bonito demais para ser desperdiçado. – aproximou-se tanto que Sebastian podia sentir sua respiração e se não tivesse virado o rosto, Francesco teria o beijado. – Mas isso é só minha opinião. – afastara-se – Faça o que tem que fazer e não me crie problemas.

       Francesco olhou-o de cima abaixo com desdém e caminhou em direção ao resto do grupo. Esforçava-se em lucrar, porém era difícil conseguir qualquer coisa, e não tinha a intenção de cometer nenhum crime, tentava manter o resquício de dignidade que ainda tinha.

       Alterado, furioso, Sebastian foi para um canto afastado do grupo, onde havia uma porta verde com um degrau na base, resolveu sentar-se lá.  Ficou com a cabeça baixa, pensando em algum modo digno de trazer dinheiro, sem ter de apelar para a prostituição ou criminalidade quando ouviu passos. Levantou a cabeça, eram os gêmeos que vinham em sua direção. Eram idênticos: cabelos pretos, olhos castanhos, usavam roupas simples, calça jeans e camiseta. Aproximavam-se, sabia que vinham falar com ele, tudo bem, eram legais, pelo menos não riam dele durante a provocação de Francesco á pouco. Chegaram e deliberadamente colocaram-se cada um de um lado de Sebastian, apoiando-se na parede.

       - Não é bom ficar sozinho. – começou Luigi.

       - É, um garoto sozinho chama atenção das pessoas erradas. – Pietro completou.

       - Você é americano, não é? – Luigi perguntou puxando conversa.

       - Sou.

       - Deve ter uma impressão horrível da Itália. – Luigi ponderou.

       - Mais ou menos.

       - Esse Francesco, não é boa pessoa. – Pietro disse olhando em direção onde o resto do grupo estava reunido. – Não confie nele.

       - Isso já deu pra perceber. Além do mais, já fui alertado a não confiar em ninguém.

       - Não é para tanto, pode confiar nas pessoas certas. - Luigi dizia sério, deixando Sebastian confuso. – Podemos te ajudar a ficar de boa. O que importa é entregar o dinheiro e ficar em paz. Agora, você aceita nossa ajuda?

       Naquela altura do campeonato, poderia aceitar, qualquer ajuda era bem vinda.

       - Claro. - respondeu – Mas eu não vou ter que fazer nada ilegal ou criminoso, eu vou?

       - Não, - Pietro riu – nós trabalhamos no porto, ajudamos no embarque e desembarque de mercadorias e de vez em quando como guias turísticos. Já vou dizendo, não é muito, mas dá pro Francesco não encher o saco, e acho que pra você já está de bom tamanho.

       - Eu sei, já estava começando a ficar desesperado. – respondeu agora já mais a vontade com os gêmeos. – Se eu não arrumasse dinheiro. . .

       - Você não tem nenhuma experiência, não é? – Pietro perguntou de repente olhando fixamente para Sebastian.

       - Como assim?

       - Nas ruas, você não tem malícia, não sabe agir como menino de rua. – explicou Luigi.

       - É porque nem sempre fui um. – disse sério, lembrando-se de seu pai. – E vocês?

       - Nós sempre fomos da rua. – Luigi respondeu com certo pesar.- E é por isso que estamos aqui, para ajudar você a pegar o jeito.

       Luigi aproximara-se de Sebastian e sentara-se ao seu lado no degrau.

       - No começo vai ser difícil, você vai sentir raiva, medo, ódio por tudo, mas depois de um tempo você se acostuma e tudo o que vai importar é ficar vivo.

       - É, - Sebastian parecia triste. – Parece que eu vou ter que me acostumar.

       Os irmãos o olhavam abaixar a cabeça e começar a chorar, o que aguçou a curiosidade deles.

       - Como veio parar aqui?

       Sebastian levantou a cabeça tinha uma expressão assustadoramente séria e os irmãos perceberam que ele tremia.

       - Um homem amaldiçoado matou meu pai na minha frente e achou que seria mais divertido me vender do que me matar também. Mas eu digo uma coisa: - sua voz soava forte – antes que minha hora chegue, eu vou matá-lo. Eu juro!

       Pietro e Luigi se entreolharam, nunca viram ninguém nutrir tanto ódio por outra pessoa, no entanto, entendiam seus motivos. Assim nasceu a amizade entre Sebastian, Pietro e Luigi. Esse trio jamais se separaria, estariam sempre juntos, numa amizade que perduraria por anos.

 

       A delegacia de Aaron River estava um forno de quente e a sala do Delegado Piston não era nada confortável com arquivos por todos os lados e a mesa abarrotada de papéis. A única ventilação era a janela aberta atrás da mesa, mas mesmo assim o Delegado Piston suava como um porco, dentro de seu terno marrom.

       Naquele momento, lia um dos vários boletins de ocorrência feitos por moradores sobre os macacos de Robert Murphy. Roubo de gado em um rancho era a bola da vez. Resmungou algo como “filhos da mãe” quando ouviu uma batida na porta de sua sala.

       - Entre!

       A porta abriu-se e um homem entrou. Era alto, bom porte e jovem, tinha os cabelos de um castanho claro e os olhos do mesmo tom. Tinha um olhar petulante, é verdade, curioso até. Usava um terno preto impecável e ostentava um alvo sorriso de superioridade como se dissesse: “Você está num pardieiro, seu idiota.”.

       - Em que posso ajudar? – Piston disse colocando calmamente o boletim de ocorrência sobre a mesa.

       - Delegado Piston? – adiantou-se em estender a mão para cumprimentá-lo. – Deixe-me apresentar, sou Clark Davis.

       Acolhedor, o delegado sorriu e aceitou o cumprimento, apertando a mão daquele homem.

       - Sou do FBI. – o sorriso era tão cínico.

       Neste momento, o sorriso acolhedor de Piston esvaneceu-se, dando lugar a uma expressão comicamente assustada. Clark Davis adorava causar esse espanto nas pessoas logo de cara, costumava agir assim, pois quem se assustava ao saber que era um Federal, era por que tinha algo a esconder.

       - Mas eu só estava esperando você daqui algumas semanas. . .  – dizia nervoso.

       - Digamos que esse caso já esperou demais.

       Passeava pela sala, olhando tudo de cima á baixo analisando toda aquela desordem.

       - Estamos cuidando do caso Desmont. . .

       - Estou vendo, e espero que o estado dessa delegacia não reflita sua obstinação. Nem mesmo tem uma assistente. Antes de entrar nessa sala, eu andei dando uma olhada no recinto, é um milagre que ninguém tenha entrado aqui ainda e dominado o delegado.

       - O que está insinuando?

       - Que há uma administração relapsa aqui. – disse com todas as letras – Sorte sua que eu não sou da corregedoria e não é isso que eu estou investigando, ainda. Vim cuidar de um acidente mal explicado e um desaparecimento de menor, quanto antes cuidarmos disso melhor. – disse sério.

       Como aquele garoto mal saído das fraldas vinha se intrometendo assim em sua delegacia? Tinha vontade de ponha-lo para fora á ponta pés, mas ele era do FBI e tinha que obedecer.

       - Por onde quer começar?

       - Que tal exumando o corpo de Kevin Desmont? No meu relatório não foi mencionado nada referente á uma necropsia no cadáver. Por quê?

       - Por que não houve necessidade, ele morreu carbonizado num incêndio. – o delegado afirmou – A causa da morte parecia bem clara para mim.

       - Mas não para mim. Não há nenhum laudo médico comprovando o que disse.

       - Não temos médico legista aqui. – insistia em dificultar.

       - Está olhando para um. –sorria vitorioso – Os exames necessários serão feitos, Delegado Piston, de um modo ou de outro.

       - Só com uma ordem judicial. – Piston o enfrentou desesperado enquanto via-o mexer dentro da pasta que trazia consigo. – Não pode chegar aqui e ir desenterrando nossos mortos á torta e á direita. . .

       Davis tirara um papel de dentro da pasta e o colocara com firmeza á frente do delegado.

       - O que é isso?

       - A sua ordem judicial. Não sei por que, eu tinha uma leve impressão de que ia precisar. Eu não sou policial, senhor, sou um Federal. Pensa que eu não sei lhe dar com gente como você? Eu conheço o seu tipo. Velho, desatualizado e provavelmente corrupto. Eu só lhe aviso uma coisa, não tente me distrair ou atrapalhar essa investigação de qualquer modo. A coisa pro seu lado não está boa. Agora, se não se importa, vamos começar logo com isso.

       Piston ficara boquiaberto, aquele pentelho tinha resposta para tudo, logo de cara o desarmara e agora ia ficar mais difícil impedir se trabalho. Tentara, mas não conseguira, e agora, se desesperava, estava sem saída, tinha que pensar logo num modo de contornar isso ou estaria frito. Mas que droga! Com a rede policial fervilhando de incompetentes, eles tinham que lhe mandar justo o mais esperto.

       - Vamos, então. – disse vencido por final.

       Robert Murphy vai me matar!”, pensava enquanto caminhava para a porta de saída.

 

       Era um dia realmente quente, e era uma tortura ficar ali de terno debaixo de um sol escaldante num campo aberto sem sombra como era aquele cemitério. Davis tinha dó dos coveiros que foram chamados às pressas para desenterrar um caixão que eles mesmos tiveram o trabalho de enterrar dias antes. O delegado acompanhava a exumação ao lado de Davis com certa impaciência, afinal, já que estava ali, que fosse depressa.

       - Então, - Piston puxou conversa. – além de policial também é medico?

       - Correto. – disse mecânico.

       - Washington deve ser interessante.

       - É corrido, temos muito trabalho.

       De modo algum Clark Davis se parecia com um policial comum, parecia mais um ator de Hollywood, esbanjando charme e juventude no papel de bom policial. Tinha vinte e sete anos e já estava á dois anos no FBI, entrara assim que saíra da faculdade de Stanford, com a ajuda de um tio senador. Não fazia questão de esconder isso, odiava hipocrisia, e era isso que o atraia no Boreau, adorava pegar os outros na mentira.

       Fora designado para o caso Desmont por não estar bem explicado, havia muitas contradições no relatório: o gritante fato da criança ter sumido, o mistério de como o fogo começara e a falta de uma necropsia no cadáver de Kevin Desmont, tudo isso contribuía para que seu instinto lhe dissesse que tinha algo mais nessa história, e o que o corroía, onde estava Chandler Desmont?

       - Pronto chefe! – um dos coveiros gritava de dentro da cova.

       - Até que enfim. – Piston levantou as mãos para o céu.

       Um dos coveiros saiu da cova e jogou uma corda para o que ficou, este a amarrou no caixão, deixando duas pontas que pudessem puxar para cima. O coveiro então saiu também da cova, deu uma das pontas para o companheiro e os dois começaram a puxar o caixão para fora do buraco com grande esforço.

       Davis ouvira então ,nesse momento, o som de um carro se aproximando um pouco longe ainda, mas conseguiu distinguir o som do motor de um carro grande. Desviando sua atenção dos coveiros que tão arduamente trabalharam ao seu chamado, começou a procurar, olhando para os lados, de onde vinha o carro. De fato, viu vindo pela estrada sul do cemitério, uma caminhonete vermelha adiantando-se na direção do pequeno grupo com certa rapidez incomum para um lugar como aquele. Ocorreu que talvez o assunto fosse com eles.

       O veículo parou ao lado do carro do delegado, uma viatura muito velha por sinal. Davis já não prestava mais a atenção á exumação que acontecia, queria ver o que esse cidadão queria durante um procedimento policial delicado demais para ser perturbado como aquele. Do interior da caminhonete um senhor saiu, muito bem apessoado, com um ar extremamente intimidador e ostentando um sorriso zombeteiro que Davis não gostou nada. O Federal dera uma olhada de esguelha em Piston que demonstrava agora certo nervosismo com a chegada daquele homem.

       - Bom dia, senhores! – Robert Murphy aproximou-se do grupo.

       - Está atrapalhando uma ação federal. – Davis já o cortara.

       A essa afirmação, uma nuvem assomou á face de Robert, mas ele soube disfarçar bem.

       - Num cemitério? – zombou.

       - Às vezes, os mortos têm mais a dizer do que os vivos. – disse serio. – E quem é o senhor?

       - Sou Robert Murphy. Moro aqui na cidade.

       - Eu sou o Agente Clark Davis, do FBI. – disse mais serio ainda. – Agora, se me permite saber, o que faz aqui?

       - Vim visitar o mausoléu da minha família ali na frente.

       Davis sabia muito bem quando alguém mentia, e esse Robert Murphy tinha um letreiro luminoso bem grande em sua testa piscando “mentiroso”.

       - Mas o que um Federal faz aqui em Aaron River?

       - Uma investigação difícil demais para a polícia local. – disse cutucando Piston.

       Davis e Robert travavam uma guerra com o olhar. De cara, um não gostou do outro. Estavam em um silêncio súbito quando ouviram o barulho de algo caindo no chão: era o caixão que finalmente fora tirado da cova. Estava com uma grossa camada de terra por cima e os coveiros tinham um ar aliviado e ao mesmo tempo cansado, afinal, era um caixão enorme.

       - E agora, chefe?

       - Levem para o necrotério do cemitério.

       - Mas está desativado há meses, - o delegado insistia – só a funerária funciona na cidade.

       - Você tem as chaves do necrotério? – perguntou direto.

       - Tenho, mas. . .

       - Ele está em ordem, quero dizer, equipado?

       - Está. . .

       - Então me de as chaves. – esticou a mão e esperava as chaves. Ninguém iria obstruir essa investigação.

       Piston olhou para Robert, suplicante, que o fuzilava com os olhos. Não teve outra saída, tirou o molho de chaves que carregava preso ao cinto e dele tirou uma chave media.

       - Abre a porta da frente. Na entrada, num porta chaves do outro lado do balcão da recepção, preso á parede, tem as chaves das salas de necropsia e do escritório. – relutante, entregou as chaves.

       - Obrigado. – sorriu satisfeito. – Senhores, - dirigiu-se aos coveiros. – sigam-me.

       Acenou para Robert com a cabeça e sem mais, saiu do gramado, seguido pelo caixão, indo em direção ao norte do cemitério, onde ficava o necrotério.

       - Seu idiota! – Robert esbravejou indo em direção ao delegado. – Como deixou isso acontecer?!

       - Ele chegou com uma ordem judicial. . . – dava uns passos para trás, amedrontado.

       - Será que é tão difícil entender? – dizia com os olhos injetados de raiva. – Será que eu vou ter que explicar de novo?

       Robert investira um soco contra o estomago do delegado que caíra ajoelhado, sem ar, vermelho como um tomate, os olhos lacrimejando. O agressor puxava a arma do coldre que trazia escondida pelo casaco e apontara para a cabeça de Piston.

       - Quando eu digo para impedir uma investigação, você impede.

       - Eu não pude fazer nada, esse cara é esperto, muito esperto, veio com um mandado de Washington, claro que se ele tivesse requisitado o mandado aqui, ele não o teria. – suplicava.

       - Eu estava ocupado, tratando dos meus negócios quando Ike me disse que te viu sair da delegacia com aquele Federal filho da mãe. – rodeava Piston. – Agora ele vai abrir o bastardo. Me diz, por que eu ainda mantenho um estorvo como você vivo e me aborrecendo?

       - Você precisa de mim para encobrir seus rastros! – tinha a voz trêmula. – Há quantos anos eu trabalho para você, limpando a sujeira dos seus macacos?

       - Mas parece que não anda fazendo seu trabalho direito. – encostava a arma na testa de Piston. – Seu inútil.

       Seu coração batia descompassado, chorava agora, podia ver claramente a morte dizendo “oi”. Fechou os olhos quando começou a rezar. No entanto, Robert abaixou a arma.

       - Você disse que ele é esperto, eu também sou. – andou em direção ao tumulo aberto de Kevin.

       Confuso, Piston levantou-se do chão, estranhava essa mudança repentina, sabia que quando Robert sacava sua arma, ele a usava.

       - Tem razão, Jake, preciso de você. – disse enigmático.

       - Por quê?

       - Está vendo essa arma? – sorria.

       - Claro.

       - É a arma que usei no Desmont.

       - Por que será que não estou surpreso? – deu de ombros.

       - Observe.

       Robert esticou o braço e deixou a arma cair no túmulo.

       - O que está fazendo?

       - Estou usando minha cabeça para algo mais do que segurar o pescoço.

       Pegara uma pá que os coveiros haviam deixado sobre o monte de terra que haviam tirado da cova. Pegara um pouco de terra com a pá e jogara dentro do tumulo, por cima da arma, enterrando-a, jogou mais duas pás de terra e jogou a pá de lado, em cima do monte. A arma sumira dentro do tumulo e agora Robert vinha em sua direção.

       - Agora é isso o que você vai fazer: vai voltar para a delegacia correndo e vai redigir um boletim de ocorrência informando o roubo da minha arma, mas com data de três dias antes do incidente com aqueles infelizes. O resto deixa comigo. Vou mandar esse cara de volta para Washington em dois tempos. Quanto a você, - voltou-se para Piston – tô marcando tudo no meu caderninho, lembre-se disso.

 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

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Prêmio "Clube de autores" de literatura conteporânea

    Olá, leitores!!
    Dentre todas as carreiras existentes, a de escritor é das mais - senão a mais - difícil. Um escritor iniciante precisa conciliar uma árdua vida cotidiana com o ânimo e a inspiração para criar histórias envolventes, profundas e que despem a sua alma para leitores anônimos.
Escrever é se entregar de uma maneira plena. É registrar, em cada palavra, linha e parágrafo, um pouco de sua alma e de suas crenças mais profundas.
E- claro - ter um público leitor faz parte dos ideais de todo escritor.
O Clube de Autores nasceu, oficialmente, no dia 15 de maio de 2009 - tendo pouco mais de três anos de vida. Neste período, a proposta foi simples: dar a escritores de todo o Brasil a possibilidade de publicar as suas obras sem precisar pagar nada por isso. O resultado não para de superar nossas expectativas: já foram mais de 12 mil obras publicadas e centenas de milhares de exemplares vendidos neste curto espaço de tempo.
E, com esses resultados - a cada venda e a cada contato com autores - surgiram novas demandas.
Uma das principais delas está sendo repetida com este Prêmio, que já é um dos eventos que marcam o calendário da literatura independente nacional.
Do total de inscritos, haverá apenas 1 vencedor e 10 finalistas - sendo que estes exibirão em suas páginas de livros selos que, naturalmente, aumentarão a reputação dos mesmos. Com maior reputação e reconhecimento, mais vendas tendem a ocorrer - e a consolidação da carreira literária fica mais próxima.
Este é o conceito do Prêmio - que tem como premissas ser absolutamente gratuito e aberto a todos os autores do Clube que acreditam que as suas obras são retratos fiéis dos seus valores mais caros e profundos.

O meu livro "Sebastian" é um dos livros concorrentes á esse prêmio e peço á  vocês, queridos leitores, que deem seu voto não á mim, mas á minha obra. Há alguns capitulos disponiveis dela aqui no blog e tenho certeza de que emocionou vocês. Esse é o link,  http://premio.clubedeautores.com.br/web/site_premio/votar.php?id=130919
Sei que com a ajuda de vocês, tudo pode ser possivel!!!!
Beijoss!!!!!!!!!!!!!
                                                                                                                Natalia de Oliveira
                                                                                                                criadora do blog

sábado, 22 de setembro de 2012

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"Sebastian" , capitulo II , por Natalia de Oliveira

Parte I
Capitulo II
"O que não mata deixa forte"
 

       Chandler estava tendo um pesadelo terrível que na verdade começara como um sonho normal. Sonhava que andava calmamente por um vasto campo.  Andava, andava, e cada vez mais o campo parecia se transformar num deserto, um lugar árido, seco.  Então, lá na frente vira uma coisa, algo que não sabia o que era, mas que deveria se aproximar e ver. Conforme foi andando, viu que três corvos rodeavam a coisa, pulavam sobre ela e a beliscavam com seus bicos finos e vorazes.

       Não podia se controlar, tinha que ver o que era, aproximou-se o bastante e percebeu que se tratava de um cadáver.  Estava de bruços e os corvos já haviam comido boa parte de suas costas. Notou então com surpresa que o homem morto usava as roupas de Kevin. Foi tomado por um medo que nunca havia sentido antes. Sabia oque tinha que fazer, mas tinha medo de descobrir que aquele cadáver descomposto fosse seu pai. Mas tinha que se certificar. Aproximou-se mais e ajoelhou-se ao lado do corpo, o odor de carne apodrecida era insuportável. Prendeu a respiração e com força virou o corpo para si e viu que era mesmo Kevin. Os olhos abertos totalmente brancos, a pele já azulada e ferimento á bala na testa não deixavam duvidas.

       - “Pai. . .” – chorava ao ver seu pai morto.

       - “Filho. . .” – disse Kevin de repente com voz cavernosa.

       Chandler largou o corpo que abraçava, caindo para trás sentado enquanto via Kevin erguer-se e avançar cambaleante em sua direção, enquanto tentava afastar-se daquela criatura ainda sentado e horrorizado.

       - “Olha pra mim, olha o que ele fez comigo.” – disse com uma voz cavernosa.

       - “Não!” – gritou fechando os olhos.

       - “Ele me matou, filho. Ele fez de mim comida para os vermes e isso não é nada legal. . .” – ele continuava, mas ai a voz mudou.

       - “Você se ferrou de vez, pirralho.” – Chandler ouviu uma voz diferente e abriu os olhos, via agora no lugar de seu pai, Robert, o assassino, com um sorriso zombeteiro.

       - “Cala a boca!” – gritou em resposta.

       - “Ah, espere para ver, sua vida vai ser um inferno, e está só começando.” – dizia rindo, mas rindo com vontade.

       Nesse momento Chandler acordou assustado e com uma baita dor de cabeça por causa da coronhada. Olhou em volta. Estava num tipo de contêiner e percebeu que estava em movimento. Talvez estivesse em um caminhão ou algo assim, também havia varias caixas de papelão á sua volta. Notou também e com surpresa que seus pés e suas mãos estavam amarrados com cordas. Ficou desesperado. Arrastou-se até oque poderia ser chamado de parede e começara a socar com força.

       - Ei, abram, me deixem sair! – gritou.

       Mas ninguém ouviria, decidiu parar, ficar quieto, poupar oxigênio em meio às caixas. Não sabia há quanto tempo estava ali desacordado nem quando parariam. Só então começou a entender tudo oque havia acontecido. Seu pai estava morto e ele, indo amarrado rumo a algum lugar desconhecido.

       Robert Murphy, Robert Murphy.

       O nome ecoava em sua cabeça, ele era o causador de todo esse mal. Aquele desgraçado matara seu pai sem piedade. Bem que Kevin havia o avisado que aquela família era do mal. Tiraram a única coisa que ele tinha na vida. Começara a chorar em desespero, isso não podia estar acontecendo. Sentia-se tão culpado agora, porque não se mexera antes? Poderia ter evitado tudo isso, quem sabe? Estava sozinho na vida.

       Neste momento o caminhão parara e as portas foram abertas, Chandler ficou apavorado e antes que percebesse, varias pessoas entravam dentro do contêiner. A luz que entrava fazia aquelas pessoas parecerem sombras e isso não ajudava. Como estava lá no fundo do contêiner, dois deles andaram até ele e o pegaram, arrastando-o para fora. Era de dia, embora o tempo estivesse chuvoso, a luminosidade fez seus olhos arderem. Começava a se molhar com a chuva e vários homens o rodeavam curiosos. Deu uma boa olhada no lugar e viu com espanto que se tratava de um Porto: navios, contêineres, caixas e mais caixas, empilhadeiras e o mar á sua frente. Mas por que raios estava num porto?

       - Olhe só para ele. – um dos homes disse, era moreno, usava um terno bom, destacando-se dos outros que usavam calça jeans rasgadas, e camisas sujas. Destacava-se também pelo sotaque estrangeiro. – É mesmo uma bela mercadoria, meu patrão vai gostar muito.

       - Oque? – Chandler perguntou. – Oque quer dizer?

       Todos os marinheiros que o rodeavam riram dele, não entendera exatamente o porquê, nem a razão de estarem rindo. O que estava acontecendo?

       - Coitadinho, deixa-me explicar: - o homem aproximou-se, abaixou-se e sussurrou em seu ouvido. – vamos fazer uma pequena viagem, você e eu.

       - Como assim?

       - Vai saber quando chegar lá.

       O homem fez um sinal com a cabeça e dois daqueles marinheiros pegaram Chandler pelo braço e o arrastaram até uma caixa de madeira que estava aberta, era grande, e notara que caberia lá dentro.

       - Não! – começara a gritar quando percebeu que iam coloca-lo na caixa.

       Embora o garoto esperneasse, os dois homens eram bem mais fortes do que ele e o colocaram com facilidade na caixa, então viu aquele estrangeiro se aproximar segurando uma sacola.

       - Para o caso de sentir fome. – disse ao jogar uma sacola dentro da caixa, antes de colocarem a tampa e a lacrarem.

       Chandler gritava e se debatia na caixa, inutilmente, porque estavam fazendo isso com ele? Cada vez mais se sentia impotente frente aos acontecimentos não sabia oque estava por vir, tudo oque desejava era que acordasse e visse que isso tudo era um pesadelo.

       Sentiu que a caixa era levantada e que se movia e pôde perceber oque acontecia. Colocaram a caixa em outro contêiner e o embarcaram em um navio que descobriria mais tarde, em direção á Europa.

       Por muito tempo ainda Chandler gritara e debatera-se dentro da caixa de madeira, tanto que ficara exausto e tudo o que conseguira foram seus cotovelos arranhados. Entendera que esse seria seu destino, ninguém iria ajudá-lo, não mais. Seja lá oque fosse acontecer daqui para frente, estaria sozinho e teria de se acostumar com isso. Realmente sua jornada de sofrimento estava apenas começando.

       Chandler não sabia quanto tempo exatamente se passara desde que fora trancado dentro da caixa, pareciam dias. Ele estava com fome, e aquela sacola que aquele estrangeiro jogara continha apenas dois pães velhos. Estava dolorido, estava com sede, e estava sem esperança. E quando achou que eles haviam esquecido ele naquele contêiner, ouvira um som que se assemelhava ao de portas sendo aberta, então a caixa que ele estava foi bruscamente levantada e percebeu que era carregado para fora do contêiner. Era dia, viu pelas frestas os raios do sol. A caixa fora colocada no chão e com golpes bruscos e rápidos a caixa fora aberta.

       O garoto de inicio cobriu os olhos com as mãos por causa da claridade e braços fortes o arrancaram da caixa. Ele ainda estava amarrado e com fome, mal conseguia manter-se em pé, só conseguia ouvir vozes em uma língua diferente. Assim que seus olhos acostumaram com a claridade pôde ver que estava em uma espécie de galpão onde havia vários contêineres e vários homens que o olhavam, inclusive aquele estrangeiro do porto, mas não era esse que lhe chamava a atenção.

       Havia um grupo de homens mais á frente, próximos a uma limusine. Usavam ternos, casacos, fazia muito frio. Notou certas saliências que sabia serem armas. Em sua maioria pareciam capangas, como Ike e os outros lacaios de Robert, todos menos um. Este usava: um casaco, óculos escuros, era moreno como os outros e ao vê-lo lembrou-se imediatamente de seu algoz, pois tinha o ar arrogante e uma presença que os demais pareciam respeitar, e um jeito até intimidador, como gente dessa espécie tem. Não gostou dele logo de cara e para seu desespero estava sendo conduzido até ele. O homem tirou os óculos e revelara um par de olhos de um tom que nunca havia visto antes, um castanho avermelhado muito exótico e profundo. Ele aproximou-se com um sorriso estranho.

       - Bem vindo á Itália. – disse o homem.

       - Itália? – Chandler sussurrou para si mesmo. Não podia estar tão longe assim de casa.

       Olhou em volta, tanta gente diferente, um lugar desconhecido e desconfortável, queria fugir, queria voltar e não tinha como, estava em outro continente. Sentiu-se muito mal, tudo mudara rápido demais para que pudesse assimilar. Enquanto ainda tentava digerir essa notícia, aquele homem começara a rodeá-lo analisando-o com um olhar atento, então se deteve á sua frente e tomara seu rosto numa das mãos.

       - Belo menino. - disse ele – É mesmo muito belo.

       - Quero voltar pra minha casa agora!- protestou afastando-se.

       - Ah, é americano, já tinha me esquecido. – aproximava-se.

       - Quero voltar! – insistia.

       - Mas já? Por quê? Não gosta da Itália? – disse cínico. – Mas antes de continuarmos, permita-me. . .

       Tirou da cintura, do lado das costas, escondido pelo casaco, um punhal. Era de prata, com pedras vermelha incrustradas na base, uma peça linda. Chandler quis afastar-se, mas os brutamontes que o trouxeram o seguravam. O levaram até a Itália para ser morto? Começara a tremer.

       - Está com medo? – riu.

       Aproximou-se mais e então, quando o garoto já se preparava para o ataque o homem inesperadamente pegara suas mãos que estavam amarradas e com rapidez cortara as cordas que o prendiam, repetindo o ato nos pés, deixando Chandler surpreso.

       - Entre no carro. – disse colocando o punhal onde estava antes.

       - Como sabe que eu não vou fugir? – enfrentou.

       - Não vai. – indicou com o dedo os homens atrás dele.

       Engoliu em seco, não tinha escolha. Entrou no banco de trás e aquele homem também. O carro deu a partida e puseram-se a andar pelas ruas de Nápoles. Sentaram-se um de frente para o outro. Chandler não gostava do modo como ele o olhava, como se fosse um presente que havia ganhado, tentava desviar o olhar daqueles olhos avermelhados, mas eram tão penetrantes.

       - Será que agora você pode me explicar o que está acontecendo?

       - Calma, nem ao menos nos conhecemos ainda. - disse educado. – Permita-me, sou Don Giovanni Ballester. – era distinto, refinado e sedutor. – E você?

       - Chandler Desmont. – respondeu rápido.

       - Não há motivo para grosseria, meu caro Desmont. Fez boa viagem?

       - Se você acha passar fome dentro de um caixão desconfortável “boa viagem”, então é, eu fiz uma boa viagem.

       Don Giovanni riu com gosto.

       - Desculpe o transtorno, mas entenda, os policias do porto estão começando a ficar rigorosos em relação á certos tipos de mercadoria importada. . .

       - Eu não sou uma mercadoria. – o interrompeu.

       - Ah, é sim. – Don Giovanni o encarou. – Eu o comprei.

       Chandler ficou paralisado. Robert Murphy o vendera como se fosse um animal, ficou zonzo, isso não estava acontecendo.

       - Isso não é verdade. . . – sussurrou, não queria acreditar.

       - É sim. Agora é meu, caro Desmont, como outros antes de você.

       - Há outros? – perguntou ainda sob o efeito do choque.

       - Tenho vinte garotos que eu comprei, assim como você, meninos e meninas. – dizia calmo vendo a expressão horrorizada de Chandler. – Surpreso? – deu de ombros – Vai se acostumar com a ideia, todos se acostumam, mais cedo ou mais tarde. – a calma dele era incrível. – Até eu.

       - Até você?

       - Sim, eu também fui vendido quando tinha sua idade. – riu – Como vê, o que não mata deixa forte, e é bom não morrer, querido. Pelo menos, não até me dar algum lucro.

       Não acreditava a que ponto chegara. O que seria de sua vida agora? Ficou desesperado, olhou para os lados, estava preso, mais preso do que estava quando estava preso dentro da caixa. Don Giovanni era mais do que perigoso, era poderoso. Fora vendido a um homem que já tinha vinte como ele, começara a chorar desesperadamente com o futuro que se anunciava.

       - Não chore. – tirou do casaco um lenço branco e aproximou-se limpando o rosto do garoto. – Nunca deixe que pensem que pode ser derrubado, demonstre sempre fortaleza, e tudo ficará bem.

       Don Giovanni o olhava com ternura agora e esse foi o primeiro de vários conselhos que ele lhe deu. Naquele momento não pode deixar de aceitar que aquele homem era estranhamente acolhedor, tentando consolá-lo com aquelas palavras. Ele estava certo, já que não havia saída, tentaria ser forte para aguentar o que a vida lhe reservasse. Foi ali, naquele carro, ao ouvir as palavras de se “dono”, que jurou para si mesmo, pelo sangue derramado de seu pai, que um dia iria olhar para o cadáver ensanguentado de Robert Murphy e iria sorrir.

       Depois de terem passado num restaurante (Chandler estava quase desmaiando de fome) a limusine seguiu para o centro da cidade, lugar de casarões enormes, lindos, mas para Chandler não significavam nada, estava meio que entorpecido ainda pela nova realidade. O carro parou em frente a um desses casarões. Era branco, estilo bem antigo, um belo jardim na entrada, uma casa magnífica, cara, pelo visto. Ao saírem do carro, Chandler ficara admirado com a imponência da construção e teve uma ideia da situação financeira de Don Giovanni. Os seguranças abriram os portões e entraram pelo jardim. Já era de noite e era uma visão um tanto sombria estar ali á luz do luar.

       Entraram pela porta principal. O Hall era grande e bem decorado e a sala mais ainda, bem iluminada por um imponente lustre bem no centro. Tinha sofás brancos muito finos, vasos com flores na mesinha de centro e nas estantes. Tinha vários quadros nas paredes. Tinha que admitir: Don Giovanni tinha bom gosto.

       - Frequentemente dou festas aqui, como vê, é uma sala bonita. – disse ele – mas falamos disso depois.

       Os seguranças ficaram na sala enquanto Don Giovanni e Chandler seguiam até uma escada que levava até o segundo andar, juntamente com outro homem que não conhecia. Enquanto subiam, Chandler via na parede várias fotos emolduradas, de homens, mulheres, que pareciam ser amigos de seu dono, em festas em que estiveram, e de crianças, suas crianças compradas. Ao pensar nisso, que logo haveria uma foto sua naquela parede, Chandler sentiu seu estomago embrulhar. O que aconteceria com ele? Não queria nem pensar.

       Chegou ao andar de cima, um corredor com várias portas, o andar dos quartos. Foram caminhando por ele, a ansiedade matando o garoto. Entraram na quarta porta á esquerda. Era um quarto enorme com uma cama de casal com lençóis de tecido fino, móveis de boa qualidade, o armário no canto, o criado mudo ao lado da cama de casal, a escrivaninha, tudo parecia mais antigo que o dono, mas muito bem conservado. Don Giovanni já chegou tirando o casaco pesado, o paletó, jogando-os na cama, afrouxou a gravata. O outro homem permaneceu perto da porta que fechou ao entrar.

       - Este é meu quarto, o que acha? – sentou-se na cama.

       - Porque me trouxe aqui?

       - Para conversar. Sente-se. – deu umas palmadinhas na cama, convidando-o o sentar-se ao seu lado. – Venha. – disse sedutor.

       Como não queria mais problemas aceitou o chamado, ainda meio relutante sentou-se na cama ao lado de Don Giovanni.

       - Sei que não é burro, já deve ter percebido que sou muito rico. Tem ideia do que eu faço para viver? – disse começando á mexer nos cabelos de Chandler.

       - É um criminoso? – disse meio que dando de ombros.

       - Não, eu forneço o que os criminosos precisam. Armas, drogas, tanto faz. Sou influente, posso comprar qualquer coisa, desde as mais raras obras de arte que você viu lá embaixo, até seres humanos, como você. – dizia frio, o que feriu profundamente Chandler.

       - Quanto pagou por mim? - disse com a voz fraca.

       - Não costumo falar disso com minhas crianças. . .

       - Eu não sou a receita federal. – disse ríspido – Embora eu tenha certeza que você não declara esse tipo de bem.

       Don Giovanni espantou-se por um momento com o atrevimento de Chandler, porém com um sorriso disse:

       - Trinta mil dólares americanos.

       Chandler ficara chocado com a resposta. Trinta mil era seu preço afinal.

       - Você foi o meu garoto mais caro. Mas vendo esses olhos verdes que você tem, acho que o investimento valeu a pena. – disse satisfeito pelo bom negócio feito.

       O garoto continuava calado, atordoado com as palavras de Don Giovanni. Robert Murphy havia matado seu pai e ainda ganhara trinta mil vendendo-o. Isso era demais para ele, tudo parecia um terrível pesadelo, queria acordar.

       - Oque foi? – perguntou Don Giovanni, notando o abalo que causara no garoto.

       - Isso não é justo. – sussurrou para si mesmo, mas alto o suficiente para que Don Giovanni ouvisse.

       - O que não é justo?

       - Tudo oque esta acontecendo comigo. – começou a chorar.

       - Ah, você devia viver num mundo tão idealizado, tão superprotegido, quase num sonho. Mas agora é hora de acordar para a realidade, queridinho, aquele mundo bonito das historias que seu pai contava não existe. Ele é feio, é cruel, para se viver nele é difícil, ninguém mais vai ajudar você. É hora de aprender a se virar sozinho e de ser um pouco cruel, como eu. – disse sério. – E a primeira lição é: “não confie em ninguém além se si mesmo.”.

       Ficara em silêncio analisando essas palavras. O mundo era horrível, lembrou-se que tudo isso estava acontecendo por culpa de Robert, aquele filho da mãe.

       De repente Don Giovanni levantara-se e pusera-se a andar pelo quarto.

       - Agora tem o seu presente de boas vindas. É um que dei a cada um dos garotos que comprei. – sorria – Já esteve na Canadá? Claro que não, algumas, partes são tão frias que não se pode andar sem treno, puxado por cães treinados, que tem sua própria hierarquia. De qualquer forma, quando o dono compra um cão novo, ele dá-lhe uma surra daquelas, para que ele saiba quem é o líder, para que não se esqueça de nunca quem manda.

       Chandler começou a tremer, levantou-se devagar da cama, olhava para Don Giovanni com uma expressão assustada.

       - Vicenzo, - dirigiu-se ao homem parado ao lado da porta que havia ficado quieto até agora. – mostra-lhe quem manda. - disse ao homem antes de sair pela porta, deixando os dois sozinhos.