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terça-feira, 2 de outubro de 2012

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"Sebastian", Capitulo IV, de Natalia de Oliveira

Parte I
Capitulo IV
"O Agente Clark Davis"
 

       - O que você pensa que está fazendo? – Francesco dizia exasperado – Já faz um mês que está com a gente e não traz nada! – estava furioso. – Nada de dinheiro, é um inútil.

       - Sim, eu trago. – Sebastian protestava ofendido.

       - As mixarias que arranja esmolando não são suficientes. – ele sibilou.

       - O que quer que eu faça? Ainda não sei falar sua língua direito, as pessoas não me entendem, como espera que eu me dê bem? – protestou.

       Francesco riu, os outros riram junto, menos os irmãos Luigi e Pietro, que pareciam ser os únicos que demostravam ter certa pena dele e não tomavam parte nas brincadeiras sem graça dos demais.

       - Acho que você não pegou o espirito da coisa, deixe-me explicar para que entenda: ou traz dinheiro, ou vai se entender com o chefe. – aproximou-se de Sebastian – Acredite em mim, não vai querer saber o que ele faz com maus investimentos.

       Sebastian queria se afastar, mas Francesco aproximava-se cada vez mais, fazendo-o encostar-se à parede. Francesco colocara uma mão de cada lado de Sebastian, prendendo-o. Estavam naquele beco em que fora deixado por Don Giovanni, não havia como escapar. Não gostava de Francesco desde o começo, do jeito que ele o olhava, que se dirigia a ele, era um jeito estranho meio lascivo, como se o quisesse, e isso lhe causava calafrios. Ele aproximou o rosto bem perto do rosto de Sebastian, sussurrando:

       - Eu sugiro que caçe algo para fazer, roube, furte algo, continue esmolando se quiser, mas tenho certeza que se daria muito bem em outra área. Você é bonito demais para ser desperdiçado. – aproximou-se tanto que Sebastian podia sentir sua respiração e se não tivesse virado o rosto, Francesco teria o beijado. – Mas isso é só minha opinião. – afastara-se – Faça o que tem que fazer e não me crie problemas.

       Francesco olhou-o de cima abaixo com desdém e caminhou em direção ao resto do grupo. Esforçava-se em lucrar, porém era difícil conseguir qualquer coisa, e não tinha a intenção de cometer nenhum crime, tentava manter o resquício de dignidade que ainda tinha.

       Alterado, furioso, Sebastian foi para um canto afastado do grupo, onde havia uma porta verde com um degrau na base, resolveu sentar-se lá.  Ficou com a cabeça baixa, pensando em algum modo digno de trazer dinheiro, sem ter de apelar para a prostituição ou criminalidade quando ouviu passos. Levantou a cabeça, eram os gêmeos que vinham em sua direção. Eram idênticos: cabelos pretos, olhos castanhos, usavam roupas simples, calça jeans e camiseta. Aproximavam-se, sabia que vinham falar com ele, tudo bem, eram legais, pelo menos não riam dele durante a provocação de Francesco á pouco. Chegaram e deliberadamente colocaram-se cada um de um lado de Sebastian, apoiando-se na parede.

       - Não é bom ficar sozinho. – começou Luigi.

       - É, um garoto sozinho chama atenção das pessoas erradas. – Pietro completou.

       - Você é americano, não é? – Luigi perguntou puxando conversa.

       - Sou.

       - Deve ter uma impressão horrível da Itália. – Luigi ponderou.

       - Mais ou menos.

       - Esse Francesco, não é boa pessoa. – Pietro disse olhando em direção onde o resto do grupo estava reunido. – Não confie nele.

       - Isso já deu pra perceber. Além do mais, já fui alertado a não confiar em ninguém.

       - Não é para tanto, pode confiar nas pessoas certas. - Luigi dizia sério, deixando Sebastian confuso. – Podemos te ajudar a ficar de boa. O que importa é entregar o dinheiro e ficar em paz. Agora, você aceita nossa ajuda?

       Naquela altura do campeonato, poderia aceitar, qualquer ajuda era bem vinda.

       - Claro. - respondeu – Mas eu não vou ter que fazer nada ilegal ou criminoso, eu vou?

       - Não, - Pietro riu – nós trabalhamos no porto, ajudamos no embarque e desembarque de mercadorias e de vez em quando como guias turísticos. Já vou dizendo, não é muito, mas dá pro Francesco não encher o saco, e acho que pra você já está de bom tamanho.

       - Eu sei, já estava começando a ficar desesperado. – respondeu agora já mais a vontade com os gêmeos. – Se eu não arrumasse dinheiro. . .

       - Você não tem nenhuma experiência, não é? – Pietro perguntou de repente olhando fixamente para Sebastian.

       - Como assim?

       - Nas ruas, você não tem malícia, não sabe agir como menino de rua. – explicou Luigi.

       - É porque nem sempre fui um. – disse sério, lembrando-se de seu pai. – E vocês?

       - Nós sempre fomos da rua. – Luigi respondeu com certo pesar.- E é por isso que estamos aqui, para ajudar você a pegar o jeito.

       Luigi aproximara-se de Sebastian e sentara-se ao seu lado no degrau.

       - No começo vai ser difícil, você vai sentir raiva, medo, ódio por tudo, mas depois de um tempo você se acostuma e tudo o que vai importar é ficar vivo.

       - É, - Sebastian parecia triste. – Parece que eu vou ter que me acostumar.

       Os irmãos o olhavam abaixar a cabeça e começar a chorar, o que aguçou a curiosidade deles.

       - Como veio parar aqui?

       Sebastian levantou a cabeça tinha uma expressão assustadoramente séria e os irmãos perceberam que ele tremia.

       - Um homem amaldiçoado matou meu pai na minha frente e achou que seria mais divertido me vender do que me matar também. Mas eu digo uma coisa: - sua voz soava forte – antes que minha hora chegue, eu vou matá-lo. Eu juro!

       Pietro e Luigi se entreolharam, nunca viram ninguém nutrir tanto ódio por outra pessoa, no entanto, entendiam seus motivos. Assim nasceu a amizade entre Sebastian, Pietro e Luigi. Esse trio jamais se separaria, estariam sempre juntos, numa amizade que perduraria por anos.

 

       A delegacia de Aaron River estava um forno de quente e a sala do Delegado Piston não era nada confortável com arquivos por todos os lados e a mesa abarrotada de papéis. A única ventilação era a janela aberta atrás da mesa, mas mesmo assim o Delegado Piston suava como um porco, dentro de seu terno marrom.

       Naquele momento, lia um dos vários boletins de ocorrência feitos por moradores sobre os macacos de Robert Murphy. Roubo de gado em um rancho era a bola da vez. Resmungou algo como “filhos da mãe” quando ouviu uma batida na porta de sua sala.

       - Entre!

       A porta abriu-se e um homem entrou. Era alto, bom porte e jovem, tinha os cabelos de um castanho claro e os olhos do mesmo tom. Tinha um olhar petulante, é verdade, curioso até. Usava um terno preto impecável e ostentava um alvo sorriso de superioridade como se dissesse: “Você está num pardieiro, seu idiota.”.

       - Em que posso ajudar? – Piston disse colocando calmamente o boletim de ocorrência sobre a mesa.

       - Delegado Piston? – adiantou-se em estender a mão para cumprimentá-lo. – Deixe-me apresentar, sou Clark Davis.

       Acolhedor, o delegado sorriu e aceitou o cumprimento, apertando a mão daquele homem.

       - Sou do FBI. – o sorriso era tão cínico.

       Neste momento, o sorriso acolhedor de Piston esvaneceu-se, dando lugar a uma expressão comicamente assustada. Clark Davis adorava causar esse espanto nas pessoas logo de cara, costumava agir assim, pois quem se assustava ao saber que era um Federal, era por que tinha algo a esconder.

       - Mas eu só estava esperando você daqui algumas semanas. . .  – dizia nervoso.

       - Digamos que esse caso já esperou demais.

       Passeava pela sala, olhando tudo de cima á baixo analisando toda aquela desordem.

       - Estamos cuidando do caso Desmont. . .

       - Estou vendo, e espero que o estado dessa delegacia não reflita sua obstinação. Nem mesmo tem uma assistente. Antes de entrar nessa sala, eu andei dando uma olhada no recinto, é um milagre que ninguém tenha entrado aqui ainda e dominado o delegado.

       - O que está insinuando?

       - Que há uma administração relapsa aqui. – disse com todas as letras – Sorte sua que eu não sou da corregedoria e não é isso que eu estou investigando, ainda. Vim cuidar de um acidente mal explicado e um desaparecimento de menor, quanto antes cuidarmos disso melhor. – disse sério.

       Como aquele garoto mal saído das fraldas vinha se intrometendo assim em sua delegacia? Tinha vontade de ponha-lo para fora á ponta pés, mas ele era do FBI e tinha que obedecer.

       - Por onde quer começar?

       - Que tal exumando o corpo de Kevin Desmont? No meu relatório não foi mencionado nada referente á uma necropsia no cadáver. Por quê?

       - Por que não houve necessidade, ele morreu carbonizado num incêndio. – o delegado afirmou – A causa da morte parecia bem clara para mim.

       - Mas não para mim. Não há nenhum laudo médico comprovando o que disse.

       - Não temos médico legista aqui. – insistia em dificultar.

       - Está olhando para um. –sorria vitorioso – Os exames necessários serão feitos, Delegado Piston, de um modo ou de outro.

       - Só com uma ordem judicial. – Piston o enfrentou desesperado enquanto via-o mexer dentro da pasta que trazia consigo. – Não pode chegar aqui e ir desenterrando nossos mortos á torta e á direita. . .

       Davis tirara um papel de dentro da pasta e o colocara com firmeza á frente do delegado.

       - O que é isso?

       - A sua ordem judicial. Não sei por que, eu tinha uma leve impressão de que ia precisar. Eu não sou policial, senhor, sou um Federal. Pensa que eu não sei lhe dar com gente como você? Eu conheço o seu tipo. Velho, desatualizado e provavelmente corrupto. Eu só lhe aviso uma coisa, não tente me distrair ou atrapalhar essa investigação de qualquer modo. A coisa pro seu lado não está boa. Agora, se não se importa, vamos começar logo com isso.

       Piston ficara boquiaberto, aquele pentelho tinha resposta para tudo, logo de cara o desarmara e agora ia ficar mais difícil impedir se trabalho. Tentara, mas não conseguira, e agora, se desesperava, estava sem saída, tinha que pensar logo num modo de contornar isso ou estaria frito. Mas que droga! Com a rede policial fervilhando de incompetentes, eles tinham que lhe mandar justo o mais esperto.

       - Vamos, então. – disse vencido por final.

       Robert Murphy vai me matar!”, pensava enquanto caminhava para a porta de saída.

 

       Era um dia realmente quente, e era uma tortura ficar ali de terno debaixo de um sol escaldante num campo aberto sem sombra como era aquele cemitério. Davis tinha dó dos coveiros que foram chamados às pressas para desenterrar um caixão que eles mesmos tiveram o trabalho de enterrar dias antes. O delegado acompanhava a exumação ao lado de Davis com certa impaciência, afinal, já que estava ali, que fosse depressa.

       - Então, - Piston puxou conversa. – além de policial também é medico?

       - Correto. – disse mecânico.

       - Washington deve ser interessante.

       - É corrido, temos muito trabalho.

       De modo algum Clark Davis se parecia com um policial comum, parecia mais um ator de Hollywood, esbanjando charme e juventude no papel de bom policial. Tinha vinte e sete anos e já estava á dois anos no FBI, entrara assim que saíra da faculdade de Stanford, com a ajuda de um tio senador. Não fazia questão de esconder isso, odiava hipocrisia, e era isso que o atraia no Boreau, adorava pegar os outros na mentira.

       Fora designado para o caso Desmont por não estar bem explicado, havia muitas contradições no relatório: o gritante fato da criança ter sumido, o mistério de como o fogo começara e a falta de uma necropsia no cadáver de Kevin Desmont, tudo isso contribuía para que seu instinto lhe dissesse que tinha algo mais nessa história, e o que o corroía, onde estava Chandler Desmont?

       - Pronto chefe! – um dos coveiros gritava de dentro da cova.

       - Até que enfim. – Piston levantou as mãos para o céu.

       Um dos coveiros saiu da cova e jogou uma corda para o que ficou, este a amarrou no caixão, deixando duas pontas que pudessem puxar para cima. O coveiro então saiu também da cova, deu uma das pontas para o companheiro e os dois começaram a puxar o caixão para fora do buraco com grande esforço.

       Davis ouvira então ,nesse momento, o som de um carro se aproximando um pouco longe ainda, mas conseguiu distinguir o som do motor de um carro grande. Desviando sua atenção dos coveiros que tão arduamente trabalharam ao seu chamado, começou a procurar, olhando para os lados, de onde vinha o carro. De fato, viu vindo pela estrada sul do cemitério, uma caminhonete vermelha adiantando-se na direção do pequeno grupo com certa rapidez incomum para um lugar como aquele. Ocorreu que talvez o assunto fosse com eles.

       O veículo parou ao lado do carro do delegado, uma viatura muito velha por sinal. Davis já não prestava mais a atenção á exumação que acontecia, queria ver o que esse cidadão queria durante um procedimento policial delicado demais para ser perturbado como aquele. Do interior da caminhonete um senhor saiu, muito bem apessoado, com um ar extremamente intimidador e ostentando um sorriso zombeteiro que Davis não gostou nada. O Federal dera uma olhada de esguelha em Piston que demonstrava agora certo nervosismo com a chegada daquele homem.

       - Bom dia, senhores! – Robert Murphy aproximou-se do grupo.

       - Está atrapalhando uma ação federal. – Davis já o cortara.

       A essa afirmação, uma nuvem assomou á face de Robert, mas ele soube disfarçar bem.

       - Num cemitério? – zombou.

       - Às vezes, os mortos têm mais a dizer do que os vivos. – disse serio. – E quem é o senhor?

       - Sou Robert Murphy. Moro aqui na cidade.

       - Eu sou o Agente Clark Davis, do FBI. – disse mais serio ainda. – Agora, se me permite saber, o que faz aqui?

       - Vim visitar o mausoléu da minha família ali na frente.

       Davis sabia muito bem quando alguém mentia, e esse Robert Murphy tinha um letreiro luminoso bem grande em sua testa piscando “mentiroso”.

       - Mas o que um Federal faz aqui em Aaron River?

       - Uma investigação difícil demais para a polícia local. – disse cutucando Piston.

       Davis e Robert travavam uma guerra com o olhar. De cara, um não gostou do outro. Estavam em um silêncio súbito quando ouviram o barulho de algo caindo no chão: era o caixão que finalmente fora tirado da cova. Estava com uma grossa camada de terra por cima e os coveiros tinham um ar aliviado e ao mesmo tempo cansado, afinal, era um caixão enorme.

       - E agora, chefe?

       - Levem para o necrotério do cemitério.

       - Mas está desativado há meses, - o delegado insistia – só a funerária funciona na cidade.

       - Você tem as chaves do necrotério? – perguntou direto.

       - Tenho, mas. . .

       - Ele está em ordem, quero dizer, equipado?

       - Está. . .

       - Então me de as chaves. – esticou a mão e esperava as chaves. Ninguém iria obstruir essa investigação.

       Piston olhou para Robert, suplicante, que o fuzilava com os olhos. Não teve outra saída, tirou o molho de chaves que carregava preso ao cinto e dele tirou uma chave media.

       - Abre a porta da frente. Na entrada, num porta chaves do outro lado do balcão da recepção, preso á parede, tem as chaves das salas de necropsia e do escritório. – relutante, entregou as chaves.

       - Obrigado. – sorriu satisfeito. – Senhores, - dirigiu-se aos coveiros. – sigam-me.

       Acenou para Robert com a cabeça e sem mais, saiu do gramado, seguido pelo caixão, indo em direção ao norte do cemitério, onde ficava o necrotério.

       - Seu idiota! – Robert esbravejou indo em direção ao delegado. – Como deixou isso acontecer?!

       - Ele chegou com uma ordem judicial. . . – dava uns passos para trás, amedrontado.

       - Será que é tão difícil entender? – dizia com os olhos injetados de raiva. – Será que eu vou ter que explicar de novo?

       Robert investira um soco contra o estomago do delegado que caíra ajoelhado, sem ar, vermelho como um tomate, os olhos lacrimejando. O agressor puxava a arma do coldre que trazia escondida pelo casaco e apontara para a cabeça de Piston.

       - Quando eu digo para impedir uma investigação, você impede.

       - Eu não pude fazer nada, esse cara é esperto, muito esperto, veio com um mandado de Washington, claro que se ele tivesse requisitado o mandado aqui, ele não o teria. – suplicava.

       - Eu estava ocupado, tratando dos meus negócios quando Ike me disse que te viu sair da delegacia com aquele Federal filho da mãe. – rodeava Piston. – Agora ele vai abrir o bastardo. Me diz, por que eu ainda mantenho um estorvo como você vivo e me aborrecendo?

       - Você precisa de mim para encobrir seus rastros! – tinha a voz trêmula. – Há quantos anos eu trabalho para você, limpando a sujeira dos seus macacos?

       - Mas parece que não anda fazendo seu trabalho direito. – encostava a arma na testa de Piston. – Seu inútil.

       Seu coração batia descompassado, chorava agora, podia ver claramente a morte dizendo “oi”. Fechou os olhos quando começou a rezar. No entanto, Robert abaixou a arma.

       - Você disse que ele é esperto, eu também sou. – andou em direção ao tumulo aberto de Kevin.

       Confuso, Piston levantou-se do chão, estranhava essa mudança repentina, sabia que quando Robert sacava sua arma, ele a usava.

       - Tem razão, Jake, preciso de você. – disse enigmático.

       - Por quê?

       - Está vendo essa arma? – sorria.

       - Claro.

       - É a arma que usei no Desmont.

       - Por que será que não estou surpreso? – deu de ombros.

       - Observe.

       Robert esticou o braço e deixou a arma cair no túmulo.

       - O que está fazendo?

       - Estou usando minha cabeça para algo mais do que segurar o pescoço.

       Pegara uma pá que os coveiros haviam deixado sobre o monte de terra que haviam tirado da cova. Pegara um pouco de terra com a pá e jogara dentro do tumulo, por cima da arma, enterrando-a, jogou mais duas pás de terra e jogou a pá de lado, em cima do monte. A arma sumira dentro do tumulo e agora Robert vinha em sua direção.

       - Agora é isso o que você vai fazer: vai voltar para a delegacia correndo e vai redigir um boletim de ocorrência informando o roubo da minha arma, mas com data de três dias antes do incidente com aqueles infelizes. O resto deixa comigo. Vou mandar esse cara de volta para Washington em dois tempos. Quanto a você, - voltou-se para Piston – tô marcando tudo no meu caderninho, lembre-se disso.

 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

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Prêmio "Clube de autores" de literatura conteporânea

    Olá, leitores!!
    Dentre todas as carreiras existentes, a de escritor é das mais - senão a mais - difícil. Um escritor iniciante precisa conciliar uma árdua vida cotidiana com o ânimo e a inspiração para criar histórias envolventes, profundas e que despem a sua alma para leitores anônimos.
Escrever é se entregar de uma maneira plena. É registrar, em cada palavra, linha e parágrafo, um pouco de sua alma e de suas crenças mais profundas.
E- claro - ter um público leitor faz parte dos ideais de todo escritor.
O Clube de Autores nasceu, oficialmente, no dia 15 de maio de 2009 - tendo pouco mais de três anos de vida. Neste período, a proposta foi simples: dar a escritores de todo o Brasil a possibilidade de publicar as suas obras sem precisar pagar nada por isso. O resultado não para de superar nossas expectativas: já foram mais de 12 mil obras publicadas e centenas de milhares de exemplares vendidos neste curto espaço de tempo.
E, com esses resultados - a cada venda e a cada contato com autores - surgiram novas demandas.
Uma das principais delas está sendo repetida com este Prêmio, que já é um dos eventos que marcam o calendário da literatura independente nacional.
Do total de inscritos, haverá apenas 1 vencedor e 10 finalistas - sendo que estes exibirão em suas páginas de livros selos que, naturalmente, aumentarão a reputação dos mesmos. Com maior reputação e reconhecimento, mais vendas tendem a ocorrer - e a consolidação da carreira literária fica mais próxima.
Este é o conceito do Prêmio - que tem como premissas ser absolutamente gratuito e aberto a todos os autores do Clube que acreditam que as suas obras são retratos fiéis dos seus valores mais caros e profundos.

O meu livro "Sebastian" é um dos livros concorrentes á esse prêmio e peço á  vocês, queridos leitores, que deem seu voto não á mim, mas á minha obra. Há alguns capitulos disponiveis dela aqui no blog e tenho certeza de que emocionou vocês. Esse é o link,  http://premio.clubedeautores.com.br/web/site_premio/votar.php?id=130919
Sei que com a ajuda de vocês, tudo pode ser possivel!!!!
Beijoss!!!!!!!!!!!!!
                                                                                                                Natalia de Oliveira
                                                                                                                criadora do blog

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

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"Sebastian" , capitulo III , por Natalia de Oliveira

Parte I
Capitulo III
"Renascimento"

       Seu presente de boas vindas foram duas costelas quebradas, hematomas e escoriações pelo corpo todo. Apanhara como um condenado. Don Giovanni tinha razão, durante toda a sua vida jamais se esqueceria dessa surra. Não dormira naquela noite, desmaiara no chão daquele quarto por causa da dor e acordara na manhã seguinte quebrado, como nunca se sentira em sua vida. A cama estava intocada, ninguém dormira ali, Don Giovanni devia ter passado a noite fora.

       Vicenzo recebera ordens para chamar o garoto que vinha descendo as escadas com muita dificuldade e dor. Seu dono o esperava sentado no sofá da sala, usava óculos para esconder os olhos vermelhos e a olheiras provocadas por causa da bebedeira da noite anterior, em uma festa.

       - Vamos logo. – levantou-se, pondo-se a andar até a porta. Não estava tão gentil como na noite anterior, provavelmente devia estar de ressaca.

       Os dois deixaram o casarão a atravessaram o jardim que á luz da manhã revelava toda a sua beleza numa explosão de cores nas mais variadas flores. Como antes, sentaram-se um de frente para o outro na limusine.

       - Aonde vamos? – perguntou Chandler assim que o motorista deu a partida. – Espero que até aquele restaurante, eu estou morrendo de fome. – disse provocando.

       - Vamos ao seu trabalho. – respondeu seco.

       - Está de mau humor? – cinicamente fingia uma expressão preocupada.

       - Sim, eu estou, e é melhor não me encher o saco. Minha dor de cabeça já está forte o suficiente.

       Chandler riu por dentro, já que a dor o impedia de rir fisicamente.

       - Que bom. – disse para que Don Giovanni ouvisse e notou que ele o fuzilava com os olhos.

       - Só estou me dando ao trabalho de levar você porque depois de deixá-lo, vou direto para a minha casa em Roma. – estava irritado.

       - Pensei que sua casa fosse essa.

       - Não, é só uma delas, um lugar que fico quando venho á Nápoles. O ponto forte dos meus negócios fica em Roma. – ele riu de repente – eu nem sei por que estou discutindo negócios com você.

       - Talvez porque eu seja um de seus negócios. – disse áspero.

       Don Giovanni olhava fixamente para Chandler, ele era diferente dos outros, insolente, belo, olhava-o nos olhos, parecia indomável. Nem o “presentinho” de ontem o colocara em seu lugar. Ele parecia assustado quando chegara, mas agora era como se a surra houvesse despertado algo nele.

       O garoto também se sentia assim, quando acordou, viu tudo claramente. Estava no mundo de Dom Giovanni agora, e se quisesse sobreviver nele teria que ser forte e não demonstrar medo dele, coisa que o próprio Don Giovanni lhe aconselhava a fazer. Um pouco de provocação, não muito, só pra mostrar que não ia ser dobrado tão fácil assim.

       - Você vai para as ruas, meu querido. A sua missão é trazer dinheiro, o modo você escolhe, o importante é trazer. Você dá o dinheiro que conseguir ao seu superior, que por sua vez o dá a Vicenzo, que conhece muito bem. – riu – É simples, ou quer que eu explique de novo?

       - Eu sou um escravo? – perguntou mais para si mesmo, mas a resposta veio de seu dono.

       - Mais ou menos isso. – deu de ombros.

       - Serei seu pra sempre? – perguntou desconsolado.

       - A coisa funciona assim: você é meu até morrer, oque não é muito raro nas ruas, ou até que pague a divida que tem comigo.

       - Eu não te devo nada! – protestou indignado.

       - Eu comprei você, e foi bem caro, lembra? Foi um investimento do qual eu espero lucro.

       - Quando eu tiver pagado tudo, então, me deixará ir?

       - “Se", - ele frisou – se estiver vivo até lá. Mas pode subir de posição também, se quiser, com o tempo. – afirmou pensativo – Notei que é esperto, não abaixa a cabeça, tem potencial. Assim como eu. E ai, - riu – não vai querer partir.

       - Eu jamais serei como você.

       - Duvida?

       Essas palavras fizeram Chandler pensar. “Era possível gostar dessa vida de escravo?”.  Impossível! Era a pior coisa do mundo. Embora talvez demorasse a pagar. Porém Don Giovanni era a prova viva do que estava falando, fora um escravo, assim como era um agora. Um arrepio subiu por sua espinha, uma imagem horripilante passou por sua cabeça: ele, vestido como Don Giovanni, falando como ele agindo como ele. Temeu que no futuro pudesse ficar assim.

       Não demorou até que o carro parasse num Beco de Nápoles, que era na verdade a divisa entre um açougue e uma loja de artigos religiosos, em algum lugar da periferia da cidade.

       - Descemos aqui. – o motorista desceu do carro e abriu a porta para seu patrão descesse.

       O garoto, com muita dificuldade, desceu da limusine e deparou-se com um lugar feio. Havia um grupo de jovens mais á frente, quase no final do beco, eram seis, todos de aparência muito estranha, havia um tipo de sombra neles que não lhe agradava. E todos olhavam para ele, analisando o novo colega. Eram a s crianças de Don Giovanni.

       Caminharam pelo beco, indo em direção ao grupo. O homem conduzia Chandler como se estivesse mostrando uma obra de arte que acabara de arrebatar em um leilão.

       - Faz um bom tempo que não te vejo senhor. – um dos garotos se adiantou.

       Ele era loiro, olhos castanhos, usava uma roupa simples, mas boa, calça jeans e uma jaqueta jeans. Era arrogante, Chandler podia ver em seu jeito de andar e olhar. Fumava algo, oque, nem queria saber, seja lá o que fosse o cheiro era horrível. Do grupo sem duvida era o mais bonito, aparentava ter uns dezoito anos de idade e pelo jeito era o superior do grupo. Ele aproximou-se de Don Giovanni e para sua surpresa, eles se cumprimentaram com um longo beijo. O que espantou Chandler, nunca tinha visto dois homens se beijando.

       - Estive fora. – Don Giovanni disse afastando-se.

       - E trouxe um presente. – disse o loiro voltando sua atenção para Chandler com um sorriso malicioso. – Quem é essa gracinha?

       - Meu mais novo investimento. – sorria – Chandler.

       - Chandler? Que nome é esse?

       - É americano. – justificou.

       - E é tímido. – o loiro completou.

       O garoto se aproximou de Chandler e deu uma tragada no cigarro, analisando-o de cima a baixo. Então estendeu a mão.

       - Sou Francesco, prazer.

       - Não posso dizer o mesmo. – respondeu sem demora.

       - Ele já está entregue, cuidem bem dele garotos.

       Dom Giovanni girou nos calcanhares e saiu voltando apressado para a limusine, deixando o garoto sozinho com o grupo. Viu-se completamente abandonado. Francesco não tirava os olhos dele. Sentiu que o estava analisando, vendo se era bonito o suficiente, forte o suficiente para ser um deles. Isso além de incômodo era constrangedor, Francesco o rodeava, fumando aquela coisa horrível, já estava começando a fica enjoado com aquele cheiro.

       - Foi uma pena oque fizeram com você. – disse referindo-se aos hematomas em seu rosto. – Mas vai passar. Todos nós passamos por isso quando chegamos.

       - Isso deveria me consolar? – disse ríspido.

       - Soou como um consolo? – Francesco respondeu sarcástico.

       - Seu inglês é bom.

       - Aqui é a Europa, o mundo todo vem até nós. O inglês se tornou a língua universal. Você por outro lado, vai ter que aprender italiano, mas não se preocupe, nós te ensinamos.

       - Você é daqui?

       - Sou, mas como você, outros vieram de fora. – deu a volta e foi até onde seus amigos estavam – Deixe-me apresentá-lo á família: esse é Juan; veio da França, Marc, também da França; Vicente é daqui; - sorriu – e os gêmeos Luigi e Pietro, que são daqui mesmo. Garotos, esse é. . . – hesitou, aproximou-se de Chandler e disse ao pé do ouvido – Sabe, esse seu nome é muito exótico, para não falar estranho, todos nós somos discretos aqui, então vamos improvisar. – parou um pouco para pensar e disse em voz alta. – Esse é Sebastian, nosso mais novo amigo. - disse voltando-se para o garoto – Esqueça agora o seu passado. O que aconteceu antes não importa. Agora você renasceu.

       Chandler havia renascido sim, agora era Sebastian, e aquele era o primeiro dia do resto de sua vida. Não sabia ao certo explicar como se sentia, era como se estivesse num pesadelo, e por mais que tentasse, sabia que não acordaria. Ali naquele beco, teve noção do que havia acontecido com ele: era um garoto de rua, sujeito a todos os tipos de perigo que esta oferecia, humilhado, arrancado de sua terra, as palavras de Don Giovanni faziam sentido agora. O mundo era feio, diferente daquele que conhecia, não havia mais ninguém no mundo que ele amasse. O destino que se afirmava no horizonte nunca lhe parecera tão negro, e nessa perspectiva, Chandler Desmont não iria sobreviver.

       Mas iria sobreviver, iria arranjar coragem e manter-se vivo, não importasse quais as provações que a vida ainda lhe reservasse, tudo com um único e firme propósito: iria ficar vivo para que um dia, voltasse á América para acertar as contas com Robert Murphy, jurou para si mesmo que o destruiria, nem que isso fosse a última coisa que fizesse, nem que morresse tentando, iria vingar-se e a seu pai. Mas para isso teria que mudar, assim como seu nome fora mudado, teria que deixar de ser aquele garoto besta e ingênuo para se tornar Sebastian.

 

       As portas do escritório de Robert Murphy se abriram bruscamente, assustando-o por um momento, no entanto o que entrou por aquela porta não era nada assustador. Jake Piston, o delegado da cidade de Aaron River. Não mandava em nada, era tão significante quanto um peso de papel, mas parecia enfurecido. Era um homem de meia idade, já calvo, sua barriguinha saliente denunciava seus excessos. Usava uma calça marrom, uma camisa branca por baixo do paletó marrom. Tinha a gravata afrouxada e parecia que ia ter um ataque cardíaco ali mesmo.

       - O que faz aqui? – Robert Murphy desdenhava colocando de lado os papeis que analisava.

       - Se quiser brincar de incendiário, faça isso longe da minha jurisdição. – Jake dizia furioso.

       - Do que esta falando, homem? – usava o tom mais desinteressado que encontrou.

       - A oficina do Desmont!

       - Ah, aquilo foi um acidente, um infeliz acidente, pergunte a qualquer um, aquele lugar era muito velho. A fiação elétrica era um horror, e os produtos químicos que ele usava. . .

       - Será que é isso o que a perícia vai dizer? – Piston insinuava.

       - Vai, se você for esperto e tiver uma palavrinha com eles, como sempre. – parecia muito calmo.

       - Dessa vez não. – o nervosismo saltava aos olhos.

       - Como assim?

       - Se isso foi um acidente como diz, onde está o outro corpo? – dizia enigmático.

       - De quem? – disse cínico.

       - Deus do céu! – exclamou exasperado – Do garoto, do filho dele!

       Houve um silêncio mortal na sala.

       - Se bem me lembro, Delegado Piston, é seu dever saber, e eu não vejo razão para você estar me perguntando essas coisas.

       - Recebi uma ligação muito interessante hoje, de Washington. Isso virou uma investigação federal. Vão mandar alguém aqui para cutucar esse caso.

       O homem estava visivelmente abalado e pôs-se a andar de um lado para o outro do escritório.

       - Seu incompetente, como deixou isso vazar?!

       - Isso não importa o caso agora não é um simples acidente, uma criança está desaparecida. Eles vão querer exumar o corpo do Desmont, e não estranharei se encontrarem qualquer objeto metálico alojado nele. – parou para encará-lo.

       - O que está insinuando, seu verme?

       - Nada, só estou te avisando que não cobriu seus rastros direito, e por isso seu pescoço está perigando.

       - O meu não é o único, levando-se em conta que o delegado que alegou acidente foi você. Fique esperto e dê um jeito de contornar isso antes que os Federais comessem a bisbilhotar, caso contrário, uma cabeça vai rolar, e não será a minha. – Robert disse objetivo.

       Jake o olhava com verdadeiro desprezo e horror.

       - Diga-me pelo menos, que fim levou o garoto Desmont?

       - Quem é que sabe? – deu de ombros.

       - Mais uma coisa, diga aos seus macacos para fazerem seu trabalho direito, e me pouparem do trabalho de falsificar os boletins de ocorrência.

       - Diga você mesmo á eles. Eles vão á delegacia esta tarde, levar a minha contribuição até o senhor.

       O Delegado sentia-se humilhado cada vez que Murphy o lembrava de que não passava de um fantoche. Mas a ambição pelo dinheiro era maior que o amor próprio.

       - Até mais, Delegado Piston. – disse vendo que aquele inútil ainda continuava lá. – Mova-se!

       Essa frase bastou para que o Delegado deixasse o escritório como um furacão.

       - Estou cercado de incompetentes. – disse em voz alta para si mesmo.

       Mal o Delegado Piston saiu do escritório, April entrara mais furiosa do que jamais esteve. Os olhos azuis faiscando de raiva e uma expressão aborrecida que não combinava com seu rosto fino e delicado.

       - Será que eu vou ter que começar a trancar essa porta. – disse já irritado pela discussão com Piston. - Oque você quer?

       - Você é um monstro! – disse ela esbravejando.

       - Morda sua língua antes de falar comigo nesse tom! – se alterou, levantando-se de sua poltrona.

       - Pensa que eu não sei, que todo mundo não sabe?

       - O que uma fedelha como você poderia saber? – desdenhava dando a volta na mesa para se aproximar da filha.

       - É tão sujo oque fez com os Desmont, que me dá nojo.

       - Ah, é? – Robert aproximou-se de April que por sua vez hesitou e deu um passo para trás. – Está com medo de mim? Aonde foi parar toda aquela coragem com a qual entrou aqui?

       - No mesmo lugar onde foi parar sua vergonha.

       Num gesto rápido, Robert desferiu um tapa no rosto de sua filha. April ficara um tempo com o rosto virado, mais pelo choque de ter sido agredida pelo seu pai do que pelo impacto e quando voltou a fitá-lo, ele não demonstrava qualquer sinal de arrependimento, ou raiva, nada, seu rosto era impassível, imóvel, como se tivesse sido esculpido em pedra, sem qualquer emoção.

       - Olhe bem garota, vou dizer apenas uma vez: os Desmont sofreram um acidente terrível. O que quer que tenha escutado por aí, ou aqui, principalmente aqui, guarde para você. Entendeu?

       Boquiaberta com a frieza do pai, April o observava voltar calmamente para sua poltrona, do outro lado da grande mesa, como se nada tivesse acontecido. Derrotada por hora, April virou-se, caminhando para a porta do escritório, saindo de lá, rumo ao seu quarto no qual se trancou o resto do dia. Ficou triste sim, mas com uma certeza: ele iria ver quando o FBI chegasse.