Eles
estão vindo!
Suzana olhava para seu relógio de pulso de
cinco em cinco minutos. Eram dez e quinze da noite e ela espera que mais cinco
minutos se passassem para que finalmente pudesse dar o expediente por encerrado
e ir para casa. Suzana trabalhava em um mercadinho não muito longe de sua casa,
o que era bom, pois podia ir e vir á pé, o problema era que fora escalada para
o último turno, das duas horas da tarde até as dez e vinte da noite. Tudo bem
que o mercadinho em si era fechado ás nove, mas tinha que ficar até as dez e
vinte para organização reposição de mercadoria e essas coisas. Embora já
tivesse terminado tudo já fazia uns quinze minutos, não podia ir embora por
conta do sistema de banco de horas, ou seja, minutos á menos, pagamento á
menos, e isso, ao contrario de outras coisas nessa empresa em que trabalhava,
era seguido á risca.
Estava sentada no sofá da salinha dos
funcionários, de braços cruzados, com a bolsa no colo, olhando para o nada,
esperando os minutos se arrastarem. Ouviu o som dos passos das suas colegas
subirem a escada que levava ao segundo andar do pequeno prédio, onde fica o
escritório, sala da gerencia e sala de funcionários. As vozes soavam animadas
enquanto se aproximavam e entravam na sala.
- Ah, mas aquela caixa de geleia estava
mais do que vencida. – Carol disse entrando pela porta, ao mesmo tempo que
tirava o crachá do pescoço.
- Eu sei, mas você tinha que chamar um dos
meninos para ajudar você a levar para a lata de lixo. – Jaqueline, a gerente da
loja, disse em tom de reprovação. – Machuca as costas, ai eu quero ver trazer
atestado.
Jaqueline era gerente da loja, mas era tão
humilde e companheira das outras operadoras de caixa que era impossível usar o
termo chefe quando se referiam á ela.
- Ah, já está ai? – Jaque disse olhando
para Daniela – Vida boa né? – disse indo em direção aos armários para pegar sua
bolsa.
- Eu terminei de lavar a cozinha e os
banheiros faz tempo. – Suzana argumentou com um meio sorrisinho. – Vocês que
ficam ai, fazendo hora.
-
Fala, ligeirinha. – Carol disse chicoteando a perna de Suzana de leve.
Todas usavam o uniforme do mercadinho, que
se consistia de calça jeans e uma camisa polo verde com o logotipo do mercado.
Só restavam as três para ir embora, e depois que as duas que faltavam pegaram
suas bolsas, ficaram todas em frente ao relógio de ponto esperando dar a hora.
Depois de terem passado o cartão, desceram
a escada e saíram pela porta de aço que Jaque fechou com a chave que lhe era
confiada. Depois das despedidas habituais, cada uma foi para um lado: Jaque
iria pegar o ônibus sentido bairro Esperança, Carol iria pegar o ônibus sentido
Centro, onde ela pegaria o ônibus para o seu bairro, já Suzana, como já foi
dito, morava perto, por isso iria embora á pé.
Perto é modo de dizer, o mercado ficava na
avenida principal da cidade, Avenida Barão de Mauá, ela morava no bairro do
Jardim Mauá, que começava na segunda entrada vindo em direção centro a partir
do mercadinho. O motivo pelo qual Suzana não pegava ônibus era por que não
havia ônibus que viesse sentido centro que virasse na entrada do seu bairro. Se
quisesse, poderia pegar um, descer no centro, pegar outro que voltasse e nem
desceria em sua rua, além de gastar no mínimo uma hora nisso, logo, ela preferia
gastar vinte minutos e ir á pé.
Pegou o celular em seu bolso, do outro
bolso pegou os fones de ouvido, acoplou um no outro, selecionou uma musica,
colocou os fones e saiu andando pela noite.
Suzana tinha que admitir, quando fazia
isso realmente não prestava atenção no que acontecia á sua volta. Não prestou
atenção nos carros que passavam á toda velocidade na avenida, não prestou
atenção em uma viatura que quase bateu em um carro bem perto dela, nem em
varias outras coisas que estavam acontecendo á sua volta que estavam dando
pistas do que estava acontecendo. Só prestava atenção na musica que ouvia.
Atravessava a rua, mesmo no sinal
vermelho, um carro quase a pegou. Ela xingou e continuou seu caminho
estranhando o acontecido, afinal, era ela quem estava com a razão. Quando
começou á subir a ladeira, percebeu que os estudantes que deveriam estar saindo
da escola no mesmo horário não estavam nas ruas. Estranho. Então tirou o fone
do ouvido e começou á prestar atenção. A noite estava muito quente e quieta,
como se houvesse algo pesado no ar. Ouviu o som da sirene de uma ambulância que
corria á toda velocidade na avenida lá embaixo, fazendo-a se virar para olhar.
Achou muito estranho, pois lembrou-se de ter ouvido um carro de policia passar
e aquele carro que quase a atropelou, será que estava todo mundo doido hoje?
Continuou seguindo seu caminho e chegou á
avenida Joaquin Chavasco, a avenida que antecedia sua rua, estava deserta, como
nunca a tinha visto, até o bar, que sempre ficava aberto ao longo da noite
estava com pessoas de menos e meia porta baixada. Ela passou olhando e reparou
que as cinco pessoas que estavam dentro do bar estavam assistindo tv, mas não o
canal de esportes, como era de costume, mas sim, o jornal. Todos tinham um ar muito
estranho, e um deles veio até a porta e olhou para os dois lados da rua,
procurando por alguma coisa que ele não queria ver. Quando ele viu Suzana ele
fez uma cara de espanto.
- O que você tá fazendo na rua, moleca?!
Vai pra casa e se tranca! – ele gritou para ela.
Como assim?! Quem era aquele cara? Nem o
conhecia e ele estava mandando ela ir para casa como se ele fosse seu pai. Ela
ficou tão bestificada com isso que nem respondeu, apertou o passo continuou seu
caminho, sua casa estava á menos de cinco minutos.
Sua casa era a primeira, quando a Joaquin
Chavasco se bifurcava com a Albino Bianchi, do lado direito. Ela andava
rapidamente e percebeu que uma pessoa vinha em sentido contrario ao dela, pela
Joaquim Chavasco, a única pessoa que andava na rua além dela, mas havia algo
estranho. Parecia ser um homem, pois parecia alto e forte, mas andava de forma
estranha, meio cambaleante, torto, como se estivesse bêbado. “Ah, não! Um
bêbado!” pensou. Outra vez apertou o passo, pela distancia que ele estava, ela
estaria dentro de sua casa quando ele alcançasse a sua rua. Ajeitou a bolsa no
ombro e caminhou rapidamente, quase como a marcha olímpica e como previra,
descia a escada de sua casa antes que ele entrasse na rua.
No momento em que descia a escada, o
telefone celular em seu bolso tocou e ela atendeu quase se desequilibrando na
escada.
- Alô?
- Suzana? Você tá em casa? – a voz de sua
mãe soou do outro lado da linha.
- Oi mãe, como vai mãe?
- Responde menina, onde você está? – a voz
de sua mãe soou nervosa.
- Estou descendo a escada mãe.
- Corre logo para dentro e se tranca.
- Mas, oque. . . ? Como assim? – era a
segunda pessoa que falava para ela se trancar.
Nesse momento ela abria o portão de casa,
mas como estava conversando com sua mãe no telefone de distraiu.
- Oque está acontecendo?
- Se tranca!
- Mas. . .
O telefone da casa tocou nesse momento,
ela entrou e sem que percebesse deixou o portão entreaberto.
- Espera um pouco mãe. – ela disse
correndo através da cozinha e entrando na sala de estar para atender o telefone
que ficava no canto da sala. Jogou a bolsa no sofá e atendeu o telefone. – Alô.
- Suzana? – a voz de Jaqueline – Você já
chegou em casa?
- Já.
- Você tá bem? – ela parecia nervosa.
- Meu Deus, o que é que tá acontecendo
afinal? Tá todo mundo dizendo para eu entrar em casa. – disse já irritada.
- Liga a tv! Agora!
Suzana sentiu um frio na barriga. Aquela
sensação de que algo estava terrivelmente errado. O celular ainda estava em sua
mão, então colocou o telefone de casa de ladinho na mesinha na qual ele ficava,
pegou o controle remoto da tv que estava jogado no sofá e ligou a tv, que já
estava sintonizada num canal de noticias. Uma repórter a qual não sabia o nome
tinha uma expressão consternada, ela segurava um papel e era notável que ela
tremia assim como sua voz.
- . . . acaba de chegar da central de
redação. - ela deu uma pausa e engoliu em seco, olhando para o papel em sua mão
– O numero de ocorrências é impressionante, os telefones da policia e da
emergência estão congestionados, mas. . . fontes em nossos blogs afirmam ser
mais de 2000 ocorrências no Estado. As noticias ainda são controversas, mas
todos os veículos de informações são unanimes em afirmar que. . . – a repórter
leu, olhou para o lado, como se para confirmar se o que estava lendo era o que
ela tinha que falar para o pais, e como se a resposta fosse afirmativa, ela
tremeu mais uma vez e disse pausadamente - . . . os ataques á civis que
começaram no começo dessa noite no Aeroporto de Congonhas foram causados por
Mortos.
- O que? – Suzana disse sozinha.
- Mortos que, de alguma forma, levantaram
e atacaram os vivos. A precaução recomendada é que de forma alguma os civis tentem
interagir com os agressores, eles são extremamente perigosos, fortes e qualquer
tentativa de conversa não funcionara. Sua intenção parece ser apenas a de
causar danos com violência e. . . dentadas. Eles são extremamente violentos e
acreditasse que também sejam portadores de alguma doença contagiosa, pois as
vitimas, depois de atacadas, adquirem o mesmo comportamento.
- Meu Deus do céu. – Suzana disse
espantada com oque estava ouvindo. Isso não era possível.
Ela assistia a isso boquiaberta. Será que
isso era alguma pegadinha, alguma brincadeira de mau gosto? Os mortos estavam
atacando os vivos? Não, isso era irreal demais. Mas aquela repórter tinha uma
expressão de medo no rosto. Então começaram á exibir imagens dos
acontecimentos: Pessoas que pareciam normais, mas estavam feridas, como se
tivesse tido um acidente de carro gravíssimo, correndo atrás de outras que
corriam em desespero; em alguns casos, um grupo de dez cercava uma garota e
avançava nela, o resto da imagem era borrada, mas dava pra deduzir o que
acontecia.
Suzana até esqueceu o telefone, estava
tonta com o que via na tv. Esqueceu até de que havia deixado o portão
entreaberto. Ouviu uns passos na cozinha, mas ela morava sozinha. Virou-se,
olhou para a porta da sala que levava á cozinha e viu que um homem estava
entrando na sala, mas não era um homem normal, era um morto!
Ele era o mesmo homem que andava
cambaleante na rua á pouco. Talvez ele tivesse visto Suzana, talvez ele tivesse
sentido seu cheiro, a questão era que ele havia descido a escada, sabe Deus
como, e agora estava ali, na sua casa. Ela não o conhecia, era branco, com uma
camisa azul muito escura e uma calça jeans, seu lado esquerdo estava lavado de
sangue, a cabeça, o pescoço tinha um ferimento enorme, e parecia que faltava um
pedaço e de lá, jorrava o sangue que molhava sua roupa e fazia uma trilha no
chão. Ela gritou e caiu no chão. A criatura soltou um guincho alto, como um
animal enraivecido e avançou em direção á ela, mas ela foi ágil e escapou por
baixo de seu braço que estava aberto para agarra-la. Ela saiu correndo pela
cozinha, trombando na mesa de jantar. A cozinha era o cômodo central da casa,
ao qual os demais cômodos estavam ligados, assim como seu quarto. Ela entrou em
seu quarto com a criatura vindo cambaleante em seu encalço. Ela correu e entrou
em seu banheiro, trancando-se, em seguida caiu no chão, batendo as costas na
parede.
Alguns segundos depois, ouviu a criatura
soltar o guincho hediondo outra vez para em seguida começar á bater e á chutar
a porta.
- Meu Deus! – ela chorava. Ainda na mesma
posição estatelada.
A criatura continuava a bater, insistindo.
A porta do banheiro estava ali desde que
se lembrava, desde que era criança. Era de madeira boa e forte e mostrava
poucos sinais de desgaste, mas isso não era motivo de alivio. Ela não sabia
quanto tempo a porta aguentaria.
Suzana respirava descompassadamente,
nervosa. Tremia dos pés á cabeça, isso não podia estar acontecendo. Durante
toda sua vida, assistira á filmes de zumbis, era fã de George Romero, mas ver
essas coisas, essas criaturas na vida real era. . . era horrível.
A criatura fez silencio e tudo ficou
quieto, a não ser pela respiração de Suzana. Ela se ajeitou e ficou escutando.
Nada. Se levantou, sufocando o choro com as mãos. Ela tremia mas foi se
aproximando da porta. Ela encostou o ouvido na porta, tentando ouvir alguma
coisa e nesse momento, a criatura bateu mais forte, chutando e esmurrando,
arranhando com as unhas loucamente e guinchando daquele modo grotesco.
Outra vez Suzana caiu no chão desesperada.
Encolheu-se, abraçando as pernas e balançando como uma criança.
- Pai nosso, que estais no céu,
santificado seja vosso nome, venha á nos o vosso reino, seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu. . .
Suzana abriu os olhos, a luz entrava pela
pequena janela quadrada do banheiro. Sentiu uma dor horrível na barriga e se
colocou sentada, o banheiro estava diferente, estava claro com a luz do sol.
Levantou a polo verde e viu um hematoma como um traço na barriga, o encontro
com a mesa na hora da fuga. Parou para ouvir. Percebera ao longo da noite que
a criatura ficava quieta de proposito esperando que ela se aproximasse da
porta, agora sim sabia que a criatura sentia seu cheiro, ela sabia que Suzana
estava ali e não iria embora. De vez em quando Suzana o ouvia arranhar a porta
com as unhas e respirar como se estivesse constipado. Suzana chorara tanto que
dormira com tanta dor de cabeça, se bem que a pancada que levara na cabeça
quando caíra de encontro a parede do banheiro contribuía muito.
Levantou-se caminhou lentamente até o
vaso sanitário. Se aliviou e em seguida foi até a pia, lavou as mãos e bebeu um
pouco de agua. Olhou para a porta, a criatura que estava quieta voltara a bater
na porta com violência, mas Suzana não tremia mais. Tivera bastante tempo para
perceber que o morto não derrubaria a porta, por mais perigoso que fosse, não
derrubaria uma porta de madeira maciça, seu problema era outro agora. Estava em
um banheiro, mesmo que tivesse agua por um certo tempo, não tinha comida. Se
não desse um jeito de sair de lá, morreria de inanição em pouco tempo. Não
tinha para onde correr.
O dia corria lento. Era o terceiro dia
dentro do banheiro, Suzana estava encostada na parede, com as pernas estiradas
no chão. Estava sem a camisa, só de sutiã, pois a camisa pendia molhada na pia,
depois de ter se lavado precariamente na pia. Ela jogou um pedaço de azulejo
que havia se soltado da parede com o seu impacto, e sua maior diversão era
ficar jogando esse caco para lá e para cá. Ela jogou o azulejo na porta e outra
vez a criatura se manifestou.
- Cala a boca! – ela disse sem paciência
esfregando as têmporas doloridas.
Pior do que morrer de inanição era ficar
ouvindo aquele ruído irritante até a hora derradeira. Ela devia ter imaginado
que o fim seria assim, morrer de fome e de tedio.
- Meu pai, você era chato assim quando
você era vivo?
Nesse momento ouviu um barulho, como de
vários passos dentro de casa e a criatura guinchou. Pronto, agora sim, um monte
desses e derrubariam a porta. Levantou-se apreensiva, no entanto algo estranho
aconteceu.
- Pode deixar, chefe, ele é meu! – Suzana
ouviu a voz de um homem dentro do quarto.
Ouviu um som metálico, como de o
engatilhar de uma arma e então vários tiros. Suzana se agachou se encolhendo no
canto do banheiro. Ouviu o som de alguma coisa pesada e mole caindo no chão,
depois sangue escuro entrou por baixo da porta do banheiro. Suzana se levantou,
não queria que aquele sangue tocasse nela pois lembrou-se do que a repórter
disse três dias atrás.
- Chefe, - a mesma voz disse outra vez –
Tem alguma coisa ali dentro, eu vi sombra por baixo da porta.
Suzana prendeu a respiração quando
forçaram a maçaneta e constataram que a porta estava trancada por dentro.
- Tem alguém vivo aqui?!
- Tem! – ela gritou e abriu a porta, deparando-se
com uma imagem que nunca imaginou ver na vida:
Haviam cinco homens em seu quarto, com
farda do exercito, portavam rifles e calibres 12 e outra gama de armas que ela
não identificava mas que estavam apontadas para ela. A criatura estava jogada
no chão praticamente sem a cabeça e seu sangue inundava o quarto e entrava no
banheiro. Ela tinha os braços levantados mostrando que era inofensiva, pois
estava assustada com aqueles soldados.
- Moça, você está ferida? – o que parecia
ser o líder disse com voz imponente.
- Não.
- Foi mordida ou atacada?
- Não. – sua voz tremeu, eles apontavam a
arma para sua cabeça.
- Esse sangue entrou em contato com a
senhora?
- Não.
Um dos soldados se aproximou dela e olhou
bem no fundo de seus olhos. A pegou nos braços com uma delicadeza que ela
estranhou e relutou um pouco.
- Calma, amor.
Ele a carregou até a cama, tirou a jaqueta
da farda e a colocou sobre os ombros dela, cobrindo sua semi-nudez, um toque de
cavalheirismo.
- Qual seu nome? – ele disse tirando uma
mecha de seu cabelo que caia em seu rosto.
- Suzana.
- Meu nome é Lucas. Há quanto tempo estava
trancada no banheiro, querida? – ele disse com voz macia.
- Três dias. – ela respondeu mais calma. –
O que vocês estão fazendo aqui?
- Somos desertores. – ele sorriu - O mundo acabou, o governo, foi
pelo ralo, estamos tentando achar algum lugar seguro e enquanto isso, vamos
fazendo umas paradinhas.
- Estão saqueando a minha casa? – nesse
momento ouviu o som de vidro se quebrando na cozinha e percebeu que três
soldados não estavam mais no quarto, apenas Lucas e o Chefe continuavam lá.
- Ainda bem que estamos, não é? – ele
sorriu naturalmente. – Está com fome? Claro que está. Vou trazer alguma coisa
pra você comer.
Com um olhar terno, ele se levantou e saiu
do quarto, deixando apenas o Chefe com Suzana. Ela continuava ouvindo o barulho
pela casa, das portas dos armários sendo abertas e seu conteúdo sendo saqueado.
Isso era realmente o fim do mundo. Ela percebeu que os olhos do chefe estavam
fixos nela, mais precisamente na jaqueta aberta. Inconscientemente ela se
encolheu e fechou o zíper da jaqueta.
- Desculpe se parecemos grosseiros, mas as
coisas estão confusas no mundo. – ele disse com tom ameno
- Eu agradeço pela ajuda, se não fosse por
vocês eu teria ficado trancada naquele banheiro até morrer de inanição. – ela
disse moderando a voz e tentando ignorar o fato de que estavam depenando sua
casa.
- Bem, como Lucas disse e você também já
deve ter percebido, querida, o mundo foi pelo ralo. Não há mais governo, não há
mais policia, nem criminosos, só existem sobreviventes. – ele disse com um tom
estranho. – Espero que esteja me entendendo.
- Estou. – não estava.
- Pessoas nessas condições se transformam
e agem de forma que não agiriam em sã consciência. Elas podem ser perigosas.
Pode vir com a gente, se quiser. Uma garota novinha como você não pode ficar
por ai desprotegida, podemos proteger você.
- Como?
- Ou você prefere ficar e voltar para o
banheiro.
Eles se olharam por um tempo.
- Muito bem, to vendo que isso vai ter um
preço.
- Você é esperta. – ele disse com um meio
sorriso.
Ele
tirou a jaqueta e a camisa camuflada e se aproximou de Suzana.
- Vai ter o meu preço. – ela disse
impedindo ele com a mão. – Você vai me dar uma dessas armas também, vai me
ensinar a usar e vamos até a cidade de Pilar, ver se minha mãe está viva.
- Justo.
- Justíssimo. – Suzana concordou abrindo a
jaqueta.