Parte I
Capitulo VII
"Leiloado"
O fato que será narrado aqui neste capitulo aconteceu
alguns dias depois do encontro com Eva, em um dia nada especial, simples como
qualquer outro, mas que acabou marcando Sebastian para sempre em sua alma. É o
tipo de coisa que ele tentaria apagar de sua mente sem sucesso. Seria fácil
continuar essa história sem narrar esse acontecimento apenas dizendo que
aconteceu, não como aconteceu, mas não seria justo. Nada é justo. E será
contado como ficou impresso na mente dele.
Estavam os três amigos numa tarde de sábado em
uma padaria em que costumavam ficar às vezes. O dono era bondoso e às vezes
lhes dava pães e rosquinhas doces e quentinhas. Era um bom lugar pra ficar de
bobeira, diferente daquele beco feio e escuro que Francesco e os outros ficavam
á espera das ordens de Don Giovanni escondidos do mundo como ratos. Aquele
havia sido um bom dia, trabalharam bastante no porto e haviam recebido o
bastante para pagar á Francesco e não levarem uma surra e ainda puderam se dar
ao luxo de comprar um bolo de chocolate que namoravam á semanas. Estavam
sentados numa das mesas do lado de fora dessa padaria, com o sol poente sobre
eles, deliciando-se com o bolo tão esperado. Sebastian lembrar-se-ia sempre do
gosto daquele bolo, de como era doce, más nem tanto, leve e saboroso. Lembraria
porque provava com uma alegria quase infantil aquele simples bolo, quando viu
parar bem na frente da mesa em que estavam o carro preto de Don Giovanni.
Naquele momento o gosto do bolo de chocolate
desapareceu e o que engoliu mais parecia um bocado de papel, sem gosto e
desforme. Luigi e Pietro perceberam o carro de pronto e se entreolharam
intrigados, “Como ele sabia onde
acha-los?”. De repente de dentro do carro saiu Vicenzo. Usava uma roupa
boa, assustadoramente melhor do que as que ele costumava usar, e digamos que
ele se vestia muito bem. Don Giovanni fazia questão que seus “empregados” mais próximos se vestissem
de acordo com sua posição, afinal, era um homem de negócios e tinha que ser
apresentável. Mas como foi dito, Vicenzo estava especialmente bem vestido
naquele fim de tarde.
- Os três, para dentro do carro. - disse
com visível impaciência. – Agora.
- Onde é a festa? – Sebastian provocou.
- Olha, garoto, eu não tenho o dia todo,
entre logo nesse maldito carro antes que eu os coloque, e vocês não vão querer
isso. – disse irritado.
Por experiência própria, sabiam que se
Vicenzo vinha chama-los algo ia acontecer, e nem sempre terminava bem para
eles. Mas fazer oque? Eram apenas escravinhos, obedecer cegamente era parte do
pacote. Deixando o tão desejado bolo de chocolate para trás, seguiram em fila
indiana até o carro. Os gêmeos entraram primeiro, e antes de Sebastian entrar,
Vicenzo o segurou pelo braço e o puxou para o lado.
- Você se acha muito engraçado, não é?
Quero ver se vai continuar assim depois de hoje. – disse com um sorriso
irônico.
- Como assim? Oque vai acontecer hoje? –
perguntou intrigado.
- Vai ver. Agora entra no carro. – o
empurrou em direção á porta.
Sebastian olhou para Vicenzo por um instante antes
de entrar no carro. De repente sentiu um desconforto tremendo, um reboliço no
estomago, algo estava errado, muito errado.
Não demoraram muito para chegar e quando
perceberam, haviam sido levados á casa de Don Giovanni, descobrindo então a
razão das roupas de Vicenzo. Havia uma festa rolando. A rua e a entrada de
carros da casa estavam tomadas por carros de varias marcas diferentes, cada um
mais moderno e caro que o outro. Pessoas bem vestidas, casais, velhos, jovens,
varias pessoas desfilavam na entrada em trajes de gala.
O motorista deu a volta para entrar pela
entrada de serviço, para não atrapalhar a entrada dos convidados, e uma vez nos
fundos da casa o carro parou e todos saíram.
- Sigam-me. – disse Vicenzo caminhando
pela entrada de serviço, seguido dos garotos.
Calados eles o seguiram intrigados,
passando pela cozinha que estava a todo vapor, com os mais deliciosos aromas.
Seguiram pelo corredor até um quarto que tinha a porta trancada. Vicenzo deu
umas batidinhas e a porta foi aberta pelo lado de dentro por uma garota. Ela
devia ter mais ou menos vinte anos, era loira com os cabelos um tanto oleosos e
precisando de um pente. Usava uma bata colorida e uma saia de algodão que vinha
até os pés, tão colorida quanto a bata, bem no estilo hiponga.
- Mais três. – Vicenzo disse á garota
que olhou para eles meio dispersa. – Cuide deles.
Ela deu espaço e Vicenzo meio que empurrou os
garotos para dentro antes de sair dali apressado em direção á festa deixando os
três com a hiponga.
- Muito bem meus amores! – disse parando
para olhar bem para eles. - Mas que roupas são essas?- disse ela com a voz
mole, parecia chapada. – Tirem isso, tenho algo melhor para vocês, meus
anjinhos.
Ela foi até um canto cheio de sacolas, de
uma loja famosa de Nápoles e voltou trazendo roupas bonitas. Para os três.
- Aqui, acho que vão servir. – deu um
conjunto para cada um.
Os garotos se entreolharam. A sala tinha
apenas dois sofás, uma mesinha de centro e um tipo de cômoda, nenhuma salinha
ou biombo, nenhum lugar onde pudessem se trocar.
- Não se incomodem comigo. – ela sorriu
gesticulando com a mão, estava realmente chapada.
Os gêmeos olharam-se e não tendo para onde
correr mesmo, começaram a se despir. Sebastian continuava parado com o conjunto
na mão, pensando para que servia tudo isso? Algo não estava certo, não estava.
Percebendo a relutância de Sebastian a garota aproximou-se dele.
- Oque foi? Está com vergonha, meu
anjinho?
Com delicadeza, a hiponga tocou seu pescoço e
desceu a mão através de seu torço. Sebastian tentou afasta-la, mas ela foi
rápida e assim que encontrou a barra da camisa surrada de Sebastian, a tirou e a
jogou de lado. Instintivamente ele se cobriu com os braços, isso era
embaraçoso.
- Aposto que nenhuma garota havia tirado
sua camisa antes, não é? – disse ela com um sorriso compreensivo. Ela fez um
movimento em direção á calça dele, mas ele recuou.
- Eu posso fazer isso. – respondeu
sério. – Obrigado.
- Tudo bem. – ela se afastou em direção
á cômoda.
Como isso era embaraçoso! Olhou para o
lado, Luigi e Pietro já estavam vestidos, cada um com um conjunto de calça de
brim preta e camisa social branquíssima que ficou realmente muito bem neles.
Terminou de se vestir e os três sentaram-se no sofá, esperando. A hiponga
voltou minutos depois com uma bandeja com três copos médios cheios de um
liquido dourado.
- Aqui, bebam. – ela ofereceu aos
garotos que se entreolharam
Luigi e Sebastian pareciam nem um pouco
á vontade com essa situação, ainda mais quando uma bebida era oferecida assim.
Mas que droga, eram crianças numa festa pra lá de suspeita e isso estava
ficando esquisito demais. Para de certa forma acalma-los, Pietro foi o primeiro
a aceitar a bebida. Pegou-a e a tomou de um só gole, fazendo uma careta antes
de colocar o copo na mesinha de centro.
- É whisky, não tem problema. – disse
ele limpando o canto da boca com a manga da camisa nova.
- Mas eu não vou tomar isso! – Luigi
disse apavorado.
- Luigi. . . - Pietro olhou desesperado para Sebastian,
pois sabia o que estava prestes a acontecer.
Os gêmeos já haviam passado por isso antes e
claro que o mais afetado foi Luigi. Não que encher a cara fosse a resposta, mas
de certa forma entorpecia, e achava que era essa a ideia da hiponga, tornar
mais fácil o que estava por vir. É claro que Sebastian percebeu oque Pietro
queria.
- Vamos. - Sebastian pegou um copo para
si e o outro copo ofereceu diretamente á Luigi. – Estamos numa festa, por que
não curtir um pouco? – Os olhos de Luigi estavam marejados. – Estamos juntos
nessa.
Dizendo isso, Sebastian virou o seu copo e
também o tomou de um só gole. O gosto do whisky era horrível e lhe desceu
queimando, mas Sebastian obteve o que queria. Luigi pegou seu copo e depois de
olhar para Sebastian por um tempo doloroso, virou-o e ao fazê-lo, Sebastian
notou o olhar agradecido de Pietro.
Alguns minutos se passaram e de repente
Vicenzo voltou, abrindo a porta e deixando-a escancarada. Ele dirigiu-se á Luigi
e o pegou pelo braço puxando-o com força quase o fazendo cair. Ele esperneou e
tentou se soltar.
- Fica quieto ou eu quebro o seu braço!
– Vicenzo bradou.
Luigi olhou mais uma vez para Sebastian,
parou de se debater e se deixou conduzir para fora do quarto, o que apertou o
coração de Sebastian de tal maneira que ele não segurou as lagrimas. Pietro
então o abraçou, e ficaram assim por um tempo, até que Vicenzo veio e se
aproximou de Pietro.
- Vamos ficar bem. – Pietro disse
sussurrando no ouvido de Sebastian com um olhar estranho antes de Vicenzo o
puxar do sofá e leva-lo para fora do quarto, deixando Sebastian sozinho.
Ali
sozinho naquele quarto, Sebastian sentia seu estomago revirar. Talvez fosse
pela bebida que tomara, talvez fosse pelo terrível medo que sentia do que
estava por vir, se soubesse o que estava por vir. Não sabia, e essa era a pior
parte. Mas sabia de uma coisa, seja lá o que fosse já havia começado, desde o
momento em que Vicenzo os pegara na padaria, e não tinha como parar.
Colocou
suas mãos entre os joelhos, para que a hiponga não visse que ele estava
tremendo, olhava fixamente para a porta, esperando o momento em que Vicenzo
entraria e o levaria sei lá para onde, sentindo um gosto metálico na boca. Era
uma sensação horrível.
Alguns minutos depois ouviu vozes no corredor
se aproximando e seu coração bateu forte no peito. A porta se abriu e Vicenzo
entrou com aquela expressão chapada de sempre, fumando seu cigarro nojento.
Antes mesmo que ele dissesse qualquer coisa Sebastian levantou-se, e sem olhar
no rosto de Vicenzo se aproximou dele, impetuoso com só ele sabia ser.
- Vamos logo com isso, eu não tenho a
noite toda. – Sebastian disse surpreendendo Vicenzo.
- Pelo contrario, - ele sorriu. – a
noite está só começando.
Sebastian respirou fundo. Vicenzo deu passagem
e Sebastian andou pelo corredor sem que Vicenzo o empurrasse. Para o garoto
cada passo era terrível, mas sabia que tinha que continuar indo. Quando saíram
do corredor entraram na grande sala, que havia se tornado um belo salão de
festa, cheio de gente. Sebastian de repente sentiu-se muito mal, pois todos os
presentes pararam para olhar para ele.
Vicenzo o conduzia através da multidão vestida
em trajes de gala. Sebastian não sabia, mas era carnaval e os convidados usavam
mascaras venezianas de todos os tipos, tamanhos e cores. Algumas bonitas,
extravagantes, mas tinham algumas (e
essas lhe causavam uma impressão muito ruim) que eram sinistras de uma
forma convidativa como palhaços, duendes e fadas. Mas havia uma em especial que
causou a pior sensação, o Leão. Era uma mascara grande com muitos detalhes que
a deixavam bem realista, principalmente os dentes. Ele estava em um canto na
festa, afastado do resto, mas não tirava os olhos de Sebastian.
Vicenzo o conduzia pelo salão até uma
espécie de palanque, no qual Don Giovanni estava também vestido em roupa de
gala, surpreendentemente com uma mascara simples. Ele queria ser diferenciado
dos outros pois sua mascara cobria apenas a região dos olhos, diferente das que
cobriam o rosto todo, como o leão. Havia dois degraus para subir no palanque e
Sebastian os subiu tropeçando, ouvindo o riso dos convidados e nesse momento
quase vomitou. Don Giovanni estendeu a mão á Sebastian num gesto convidativo. Ele
queria fugir dali, mas sabia que não haveria como. Então estendeu a mão para
Don Giovanni que a tomou e fez com que ele ficasse de frente para a sinistra
multidão.
- Este aqui, Senhores, é o meu
americano. Vejam os olhos dele.
Varias pessoas se aproximaram e sussurravam
surpresas com a cor profunda dos olhos dele. Sebastian de repente sentiu-se
como um artigo sendo exposto. Então, para o horror de Sebastian, Don Giovanni o
virou para ele e começou a desabotoar sua camisa.
- Não! – ele protestou.
- É melhor você cooperar aqui, garoto. –
Don Giovanni retorquiu, causando verdadeiro pânico no garoto.
Sem reação, Sebastian deixou-se ser despido
na frente daquele monte de gente que o olhavam como abutres. Don Giovanni outra
vez fez com que ele ficasse de frente para a multidão, dessa vez ele tremia da
cabeça aos pés. Isso não podia estar acontecendo.
- Vejam como a pele dele é macia. – Don
Giovanni acariciou o pescoço de Sebastian. – Como é jovem e firme. – ele sorriu
de forma sinistra, disse como se o estivesse vendendo.
Vários convidados nesse momento pareceram se
interessar mais ainda e se aproximaram mais do palanque.
- Levando em conta que ele é o mais novo
dos meus meninos e que também é a primeira festa dele, acho que posso arriscar
dizer que ele é virgem. Você é? – disse voltando sua atenção para o garoto.
- Oque?! – disse ele confuso.
- É claro que é! Então o que acham de
começarmos os lances com duzentos? – disse Don Giovanni e Sebastian quase
desfaleceu. Estava sendo vendido de novo.
- Trezentos! – disse uma senhora com
sotaque francês usando uma mascara branca cheia de penas, lembrava muito uma
garça.
- Quatrocentos! – um arlequim gritou e
as lagrimas vieram aos olhos de Sebastian.
- Vamos, acho que ele merece mais do que
isso! – Don Giovanni incitava
- Quinhentos! – a francesa de branco
disse animada.
- Oitocentos! – o Leão disse lá do fundo
do salão fazendo todos os convidados olharem para trás.
Sebastian ouviu o Leão dar seu lance desejando
que não fosse verdade. De todos naquela sala, o Leão não. A senhora francesa pareceu contrariada com o lance alto do
Leão.
- Novecentos! – retorquiu ela um tanto
ansiosa.
- Mil e duzentos! – o Leão rebateu. –
Quer mesmo continuar, senhora? Eu posso cobrir qualquer lance que faça.
- Mil e quinhentos! – disse ela
desafiadora.
Sebastian queria que um buraco no chão se
abrisse no qual ele pudesse se jogar e desaparecer para sempre, pois o Leão deu
uma risadinha, e disse em alto e bom som:
- Mil e setecentos!
A senhora ficou em silencio por um tempo,
depois fez um sinal de negativo para Don Giovanni, dizendo que não daria mais lances.
- Alguém está disposto á cobrir o lance
de mil e setecentos? Não? Então. . . – Don Giovanni sorriu, jogou a camisa de
Sebastian de volta para ele e fez sinal para que Vicenzo o levasse até o seu dono.
Enquanto era conduzido através do salão,
Sebastian não podia acreditar no que estava acontecendo. Havia acabado de ser
leiloado. Sentia que suas pernas não o manteriam por muito mais tempo e se não
fosse o fato de Vicenzo o estar empurrando pelo caminho, não teria conseguido
chegar ao Leão por conta própria. Ele estava sentado numa mesa sozinho, Vicenzo
puxou uma cadeira e fez Sebastian sentar-se como se ele fosse um saco de
batatas, antes de voltar para onde seu chefe estava, agora na multidão
entretendo os convidados. Aparentemente fora o ultimo leiloado da noite, pois os
criados já estavam desmontando o palanque improvisado. Seu estomago dava voltas
e até agora não tivera coragem de pousar os olhos diretamente na mascara de
leão. Simplesmente colocou de novo a camisa, pois não queria que ele ficasse olhando
para o seu corpo desnudo.
- Don Giovanni sempre guarda o melhor
para o final. – disse o Leão com um tom de voz estranho. – Qual é o seu nome? -
Sebastian ficou em silencio. – Eu sei que tudo isso deve ser estranho para
você, mas já que paguei uma boa quantia pela sua companhia, acho que você
deveria mostrar o mínimo de educação.
- Sebastian. – disse baixo, ainda sem
olhar para seu dono.
- O meu é. . .
- Eu não quero saber. – disse ele seco.
– Não preciso saber, preciso?
O Leão ficou em silencio, aparentemente
surpreso com a demonstração de arrogância daquele belo garoto, mas então soltou
uma gargalhada.
- Isso vai ser mais interessante do que
eu estava supondo.
Ele fez sinal para um dos garçons da festa
se aproximasse e quanto este o fez, ele pediu dois whiskies. Assim que o garçom
se foi, o Leão tirou a mascara revelando sua verdadeira face. Era um rapaz, não
era velho, devia ter uns vinte e oito anos, loiro, os olhos eram de um azul
profundo, tinha lábios grossos, lembrava essas pinturas renascentistas que Sebastian
já estava se acostumando á ver nas paredes dessa casa. Muito bonito, e por um
momento ocorreu a Sebastian que talvez essa sim fosse a verdadeira mascara.
- Você entende o que está acontecendo
aqui? - disse ele de repente assim que o garçom voltou com as bebidas. – Quero
dizer, você parece meio novo nisso.
Sebastian olhou para ele serio, lembrou-se da
primeira lição de Don Giovanni, demonstrar ser forte. Pegou a sua bebida e
virou-a como antes, bebendo-a de um só gole e batendo com o copo na mesa.
- Faço uma ideia. – disse serio,
deixando o Leão com uma expressão surpresa.
- Bem, eu não o comprei, se é o que
pensa. Eu te aluguei por esta noite, se é que me entende. – disse ele com um
tom estranho.
- Entendo, - disse pegando a bebida do
Leão de sua mão e bebendo-a também. – Você é um pervertido que gosta de
crianças. – Nem é preciso dizer que Sebastian já estava ficando chapado, mas
incrivelmente essa observação não irritou o Leão, que sorriu.
- Mais menos isso. Devo confessar uma
coisa, as festas de Don Giovanni são famosas pelo leilão de garotos e garotas,
mas nunca, até hoje, houve um artigo como posso dizer, tão interessante.
- Isso deveria ser reconfortante? –
disse ele com voz mole.
O Leão sorriu exibindo seus dentes brancos,
incrivelmente parecidos com presas mesmo e isso fez o estomago de Sebastian dar
voltas. Eles estavam sentados de frente um para o outro numa mesa para quatro,
ou seja, havia uma lacuna de uma cadeira entre os dois, como o Leão queria
ficar mais perto ele levantou-se de sua cadeira e sentou-se naquela mais perto
de Sebastian. Olharam-se nos olhos por um momento e Sebastian virou o rosto
quando ele se aproximou na intenção de beija-lo nos lábios, mas isso não o
desmotivou e ele beijou seu pescoço. Sebastian gemeu.
- É verdade? – o Leão perguntou com os
lábios colados ao pescoço do garoto.
- O
que? – disse olhando para o salão, querendo desesperadamente sair dali.
- Que você é virgem. – ele sussurrou - É verdade?
Sebastian não respondeu, mas o Leão soube
pelo soluço de Sebastian que era verdade.
O leão deu uma risadinha e sem dizer mais
nada, levantou-se e puxou Sebastian pelo braço conduzindo-o através da multidão
até a escada que dava para o segundo andar. Subindo a escada ele conduzia
Sebastian pela mão, passando por várias pessoas ao redor. Aquilo parecia um
pesadelo. As pessoas mascaradas rindo e bebendo, a musica estranha, todo aquele
ambiente. Ele estava meio entorpecido, mas ele percebia as coisas que
aconteciam. Parecia uma festa no inferno, e os mascarados eram demônios
lascivos. No segundo andar, o andar dos quartos, via as pessoas se atracando no
corredor mesmo. Alguns quartos tinham as portas abertas e eram palco das mais
variadas e estranhas orgias: mulheres, homens e as crianças de Don Giovanni. Não
se sabia onde começava um e terminava outro. Sebastian estava horrorizado.
Perto da porta de um quarto, o Leão
praticamente o jogou contra a parede e com um sorriso sádico, aproximou-se dele
e começou a beija-lo de forma agressiva, nos lábios, no pescoço, e suas mãos
exploravam o seu corpo de criança. Sebastian tentava impedir que ele o tocasse
se debatendo, mas ele era mais forte, e o dominava, prendendo seus braços
contra a parede.
- Não. . . – Sebastian implorava. –
Para. . .
- Assim que eu te vi, eu sabia que tinha
que ser meu. – ele sussurrou ao ouvido de Sebastian.
- Por favor. . . – chorava.
- Sabe, quanto mais você luta, mais me
ascende.
- Para. . .
- Ah, não dê uma de santinho agora, –
ele tocou na intimidade do garoto que reprimiu um grito. – você não está
exatamente indiferente. – dizendo isso, ele o pressionava com força.
Depois de um tempo, Sebastian parou de lutar.
Tudo o que queria era desaparecer. Chorava copiosamente enquanto o Leão fazia o
que queria com ele. Ficaram ali no corredor por uns quinze minutos até que o
Leão parou e afastou-se um pouquinho. Do bolso tirou uma chave pequena e abriu
a porta do quarto ao lado. Ele arrastou Sebastian até lá dentro e do jeito que
estava, Sebastian caiu no chão do quarto e lá ficou. Estava tonto, dolorido e
sem forças, tanto que não teve forças para afastar o Leão quando ele avançou
sobre Sebastian ali no chão frio. Ele arrancou a camisa de Sebastian quase a
rasgando.
- Não. . . – ele implorou.
- Vai começar de novo?
- Por favor. . .
Ele o virou de bruços e com violência abaixou
a calça do garoto até os joelhos. Sebastian tentava em vão se soltar, mas o
Leão estava em cima dele, prendendo-o ao chão. Ele era maior e mais forte, e
sem dificuldade ele juntou as mãos de Sebastian nas costas imobilizando-o, de
forma que conseguia prender as mãos de Sebastian com uma única mão enquanto a
outra ficava livre. Com essa mão que estava livre, o Leão brincava com a
intimidade de Sebastian e aonde mais ele queria, da forma que ele queria.
- Eu te odeio! Eu te odeio! – o garoto
bradou por entre lagrimas.
O Leão riu e aproximou os lábios do ouvido de
Sebastian.
- É claro que sim. – sussurrou. – Sabe,
eu gosto de garotos como você, gosto de ser o primeiro. Gosto da ideia de que
sempre vão se lembrar de mim.
- Não! Não! – disse desesperado, mas nem
todo o desespero do mundo que o garoto demonstrasse demoveria o Leão do que ele
estava fazendo.
- Pare de ser tão dramático, você vai
gostar.
Sebastian sentiu quando ele se posicionou em
cima dele e realmente, viu que tudo o que estava acontecendo era real. A dor
que Sebastian sentiu no segundo seguinte quando era invadido foi tamanha que
ele parou de respirar por um momento. A dor era incrível e não tinha fim. Tudo o
que ele conseguia fazer era chorar e o grito que ele sufocou quando o Leão
começou a se mexer quase explodiu seu coração.
Como já foi dito, ele era uma criança e era
virgem, e da forma mais errada e dolorosa deixou de ser. Naquela noite ele
conheceu o monstro que há nos homens e toda a dor que ele pode causar. Era
inútil se debater, o Leão era mais forte e o dominava. Depois de um tempo parou
de resistir e de xingar, só chorava e soluçava. Tudo o que queria era morrer.
Depois que o Leão terminou com ele, ele ainda
continuou jogado no chão, sentindo-se a cosa mais suja do mundo. Não tinha
forças para se levantar e ali ficou, chorando e tremendo. Com um sorriso
diabólico, o Leão foi até a porta e a abriu.
- Vou pegar uma bebida para gente. Não
saia daí.
Dizendo isso, ele saiu do quarto e Sebastian
ficou sozinho. Ele não viu o Leão voltar, desmaiou antes disso, mas muita coisa
mais aconteceu naquela noite que ele não viu por estar misericordiosamente
inconsciente. Mais tarde, Sebastian descobriria que esse tipo de festa
acontecia regularmente, só com os garotos mais bonitos de Dom Giovanni, ou
seja, nunca escapava de ser escalado para ser leiloado. Nunca soube o nome do
Leão, também não faria diferença. Nunca mais o viu nas festas, isso também não
significava que se sentia aliviado. Depois que a porta daquele quarto se
fechou, uma parte dele morreu naquele chão.
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