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sábado, 18 de maio de 2013

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"O Padre e a Bruxa" capitulo 4

"O Padre e a Bruxa"
 capitulo 4
 

       Ethan acordava depois de uma noite um pouco mal dormida naquele sofá na casa paroquial de Igreja de São João, em Elder. O sofá não era tão confortável quanto Harolds dizia. Era uma manhã de quarta feira. Por um momento, antes que sua visão entrasse em foco, ficou meio confuso sobre onde estava, e demorou um pouco para que se lembrasse de que não estava mais em Seattle. Colocou-se sentado um momento, terminando de acordar. Ajoelhou-se no chão fez um sinal da cruz e fez uma prece:

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

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"O padre e a bruxa" capitulo 2

Olá Leitores, mais um trecho de uma história minha!

O Padre e a Bruxa
CAPITULO II

 

 

     Elder era uma cidade realmente pequena no interior do Maine, você podia chegar á ela pela estrada, se tivesse paciência, depois de passar por muitas árvores, um esquilo ocasional no meio da estrada e quase nenhum outro carro de passeio (a maioria era de caminhões fazendo seu caminho através do país). Tinha setecentos e poucos habitantes, era em sua maioria uma comunidade rural, de gente comum e decente, vivendo numa cidade onde todos se conheciam, em que havia almoço comunitário de domingo, onde se podia ouvir pássaros cantando o dia inteiro e á noite se podia ver as estrelas no céu. Onde se sentia o cheiro de torta de amora pela rua toda á tarde e onde as mães não precisavam pedir antecedentes criminais ás potenciais babás.



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

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"O Padre e a Bruxa" prefacio e capitulo I

                                                                  "O Padre e a Bruxa"

PREFACIO

 

     Ethan O’connel parou para respirar um momento, estava esbaforido e suando em bicas e imaginava se por acaso o sol havia explodido e lançado sua energia em direção á terra, queimando todos os seres vivos. Não, o sol não havia explodido, era apenas o dia mais quente naquele verão, mais quente do que o normal. Se você parasse no meio da rua e ficasse observando, poderia ver o calor subindo em ondas do asfalto, e se você deixasse cair um ovo no chão, em instantes teria uma bela omelete. Mas aquela quadra de basquete de rua, sem paredes e sem cobertura, mas com grades apenas para a bola não voar até a avenida, parecia uma churrasqueira e ele um espetinho. O sol incidia bem em suas costas e ele parara, com as mãos no joelho, cansado e sem folego. Seu cabelo negro pingava suor e seus olhos azuis estavam incomodados com a luminosidade que o chão da quadra refletia.

    - Ai, tio, se não consegue acompanhar a juventude, pode sentar ali, com a turma do xadrez. – Wayne Brown, o rapaz com quem jogava basquete o provocou com seu costumeiro sorriso e tom descolado, apontando para o parque do outro lado da rua, onde velhos jogavam xadrez em mesas de concreto.

    - Tio? – disse ofendido - Garoto, eu sou apenas cinco anos mais velho que você. – Ethan disse se aprumando. – Eu só preciso de um minutinho para retomar a linha do raciocínio. – na verdade queria recuperar o folego. Wayne parecia tão inteiro como quando entrou na quadra, uma hora antes.

     Era verdade, Ethan tinha vinte e seis, e Wayne tinha vinte e um. Os dois jogavam basquete juntos á um ano, e Wayne sempre o provocava, dizendo que Ethan era lento e velho para acompanha-lo, o que não era totalmente mentira, mas Wayne tinha realmente certa vantagem. Era alto e magro, era moreno, e tinha aquele ar de jogador profissional, misturado com astro do hip-hop. Ele corria pela quadra como um Guepardo e para provocar, girava a bola laranja na ponta dos dedos, como um jogador da NBA. Ele teria futuro no esporte, Ethan pensava.

     - Se você quiser, eu posso te arrumar uma bengala. – Wayne provocou sorrindo, batendo a bola no chão.

     - Você vai precisar de uma quando eu terminar com você. – ele retrucou e recomeçaram o jogo.

     Todas às vezes eram assim, um provocava o outro, mas se davam muito bem, dentro e fora da quadra, e nunca dispensavam a oportunidade de um jogo. Numa jogada mal calculada de Wayne, Ethan conseguiu roubar-lhe a bola e corria em direção á cesta, para marcar um ponto que esfregaria na cara de Wayne, mas algo o interrompeu.

     - Padre O’connel! – Ethan ouviu uma voz familiar lhe chamar e virou-se bruscamente para ver de onde vinha, era o Padre Molina, que estava parado, do lado de fora da quadra, com seu olhar reprovador, observando-o através das grades de proteção, as mãos nas costas, parecia mais como um pai chamando um filho para dentro de casa, quando já passou muito da hora de entrar.

     Ele parou e olhou para Wayne, como quem se desculpa por deixar uma pessoa na mão. Era meio chato ser interrompido assim, mas tinha suas responsabilidades. Era padre, um padre católico apostólico romano, o Padre O’connel, o padre novato da igreja de São Miguel, que congregava ali em Seattle mais ou menos á um ano e que tinha um fraco por basquete de rua. Ele sabia que não era apropriado, o próprio Padre Molina lhe dissera isso varias vezes, mas não conseguia evitar.

     - Eu tenho que ir. – Ethan disse meio sem jeito, devolvendo a bola que estava em suas mãos.

     - Vai com Deus. – Wayne disse sorrindo e se despediram com um aperto de mão bem hip-hop. Wayne sabia que quando Padre Molina vinha chama-lo, ele tinha que ir.

     Ethan veio andando calmamente até o portão da quadra, tendo os movimentos acompanhados pelos olhos atentos do homem de cabelos brancos e óculos de aro retangular, desproporcionalmente alto e por isso um pouco curvado usando a calca preta, o casaco preto e a tarja branca no pescoço que não deixavam duvidas de quem era. Olhou para traz, Wayne fazia algumas cestas sozinho e não errava uma. Olhou para o horizonte e viu que umas nuvens negras se aproximavam e ao longe pensou ter ouvido um trovão, o que era estranho, já que o dia estava tão quente, mas chuvas de verão são assim, chegam de repente. Eram quatro horas da tarde.

     - Sim? – Ethan disse se aproximando.

     - Espero não estar atrapalhando. – Padre Molina disse meio irônico. – Você parecia estar levando uma surra.

     - Não, não estava. – disse esboçando um sorriso. – Mas eu acho que estou ficando lento.

     Padre Molina sorriu e fez um gesto de cabeça, dizendo que queria que Ethan o acompanhasse, ele assim o fez, e os dois foram caminhando em silencio através da rua movimentada até a igreja de São Miguel, que ficava apenas a dois quarteirões de distancia da quadra, onde também ficava a casa paroquial onde os dois moravam. Muito estranho. Padre Molina normalmente fazia esse percurso fazendo uma longa dissertação sobre juventude e responsabilidades, e outras coisas que no fim queriam dizer a mesma coisa: basquete de rua era inadequado á um padre, e ele fazia esse mesmo discurso nesse um ano em que estava na igreja de São Miguel. Mas naquele dia ele estava calado e pensativo e isso deixou Ethan apreensivo.

     Quando chegaram á igreja, abriram o portão e caminharam por um caminho de ladrilhos que atravessava o jardim até a casa paroquial que ficava nos fundos da igreja. Realmente, a chuva só esperara por eles, pois assim que fecharam a porta atrás de si, a chuva caiu forte.

     A casa era pequena, a cozinha se juntava com a sala, em um único ambiente, separado apenas por um balcão, que fazia o trabalho de mesa. Havia dois quartos pequenos e um banheiro. Era uma casa pequena, pobremente decorada, mas era o suficiente para os dois viverem bem, afinal, eram padres, e não precisavam de muita coisa, além, disso havia o detalhe do voto de pobreza.

     Padre Molina sentou-se pesadamente no sofá e fez sinal para que Ethan fizesse o mesmo. Ele obedeceu apreensivo. O velho estava serio e olhando para o vazio, como se procurasse as palavras para começar um assunto que seria incomodo tanto para ele quanto para Ethan. Esse tipo de ansiedade fazia se estomago dar pulos.

     - Precisamos conversar, Ethan. – ele nunca o chamava de Ethan, logo percebeu que havia algo errado.

     - Padre, há algo errado?

     - Há quanto tempo foi ordenando padre?

     - Um ano. Assim que fui ordenado, vim para cá.

     O velho pareceu pensar por um momento com um ar bastante cansado, como se tivesse sido ele á ter jogado basquete á tarde.

     - Você será transferido. – disse rápido, como se quisesse tirar um curativo, rápido, para que não doesse.

     Ethan ficou calado por um tempo, absorvendo a frase que foi dita e tudo o que ela implicava. Transferido, seria transferido, iria embora dali, mas como, por quê?

     - Mas. . . O que esta acontecendo? Eu fiz algo errado? – alarmou-se

     - Não, não fez nada errado. – ele forçou um sorriso. - O padre da paroquia de São João, em Elder, vai se afastar, é uma longa historia. A questão é que querem mandar alguém jovem para lá, e seu nome apareceu como uma opção.

     - Mas. . . Eu. . .  Tenho um trabalho com os jovens daqui.

     - Na quadra de basquete? – Molina o alfinetou.

     - Sim, para tentar alcança-los em seu ambiente e estou conseguindo. Eles vêm á mim, quando estão querendo conversar, quando tem problemas. . .

     - Em todos os lugares tem pessoas com problemas, e lembre-se que devemos ir aonde Deus nos manda.

     - Eu sei. – Ethan baixou a cabeça. – Mas, o senhor acha que eu consigo tomar conta de uma comunidade sozinho?

     - Não sou eu que tenho que achar alguma coisa, Ethan, é você. Procure a resposta em Deus, ele te dirá.

     - O senhor ficará bem sem mim?

     - Eu me viro.

     Padre Molina lhe lançou um sorriso e levantou-se do sofá com certa dificuldade, deixando Ethan ainda sob o efeito do choque inicial da novidade. Padre Molina era uma boa pessoa, ele o acolhera quando ele chegara a Seattle e era muito paciente com Ethan em vários aspectos: sua juventude, sua inexperiência e acima de tudo, sua esperança nos homens. Claro que ás vezes tinham seus atritos, mas nada muito diferente que um pai teria com um filho ao mostrar-lhe um caminho.

     Ele não dormiu naquela noite, pensando na conversa com Molina. E depois de muito rezar, como o padre havia lhe dito, a resposta lhe veio, tão simples que ele não pode acreditar. Em paz ele dormiu e uma semana depois, estava embarcando para Elder.

 


CAPITULO I

 

 

     Ethan O’connel nascera na Irlanda, em mil novecentos e oitenta e cinco, num bairro pobre de uma cidade pequena. Tinha um pai forte e uma mãe amorosa, e tinha dois irmãos mais velhos, os quais amava. A vida naquela época era simples, más muito boa, pois acima de tudo em sua casa havia amor e paz, de um modo que poucas famílias podiam dizer que desfrutavam.

     O pequeno Ethan ia crescendo á olhos vistos e sua beleza só era ultrapassada por sua bondade, mesmo quando criança, com seus cabelos negros, olhos de um azul profundo e a pele tão branca quanto seda, ele parecia um querubim de alguma pintura renascentista, e quem convivesse com ele e visse seus modos, sua calma, sua delicadeza e cuidado com as coisas não duvidaria de que realmente o era.

     Havia uma igreja católica, uma pequena capela, á não mais do que três quadras de sua casa, mas que ele nunca havia visitado. Entendam bem, aquela era a Irlanda, com os conflitos entre católicos e protestantes em pleno vapor, e seus pais mesmo sendo de formação protestante, não quiseram impor religião aos filhos, não com o país como estava, preferindo ficar de fora de tamanho disparate. Eles acreditavam em Deus, é claro, mas não seguiam dogmas, para eles bastava que os filhos soubessem a diferença entre o certo e errado, e que se fizessem algo errado, havia algo maior, além de sua compreensão, que estava vendo tudo, assim como suas boas ações. Aos dez anos, Ethan não era batizado, nem crismado, nem tinha feito a primeira comunhão, e ser padre era até então uma ideia meio distante.

     Uma certa tarde, estava Ethan e sua mãe num ônibus, era vinte de junho de mil novecentos e noventa e seis, ele sempre se lembraria dessa data, foi o dia em que tudo mudou para ele, foi o gatilho que o fez se tornar o que viria a ser. O ônibus estava vindo do centro da cidade em direção ao seu bairro, havia pelo menos umas vinte pessoas dentro do ônibus, ele e sua mãe estavam na parte traseira, perto da porta. Ele saboreava um sorvete de limão, era verão e estava muito quente naquele dia, estavam voltando de uma consulta rotineira ao medico, sua mãe e ele, e ela prometera que se ele se comportasse, ela lhe compraria um sorvete. Chantagem? Pode ser, mas nunca ninguém vira criança mais comportada naquele consultório medico.

     O pequeno olhou para frente um momento e viu um homem que entrava no ônibus, ele usava uma roupa preta estranha, com uma tarja branca no pescoço, e ele se lembraria mais tarde que havia achado o homem muito estranho por que estava muito quente, e aquela roupa não era apropriada, pois o cobria por completo, mas o que mais lhe chamou a atenção foi a tarja branca no colarinho.

    - Que roupa estranha. – ele comentou para sua mãe, com o olhar fixo no homem que já se sentava á três bancos de distancia deles.

     - O que foi? – sua mãe perguntou, estava distraída olhando pela janela.

     - Aquele homem, - ele apontou. – por que ele tem uma tarja no colarinho?

     - Ah, Ethan. – ela riu de modo amável. – Ele é um padre. – ela respondeu com uma naturalidade que o espantou.

     O garoto ficou quieto um tempinho, absorvendo essa palavra que para ele era nova. Padre. Sua cabecinha de criança funcionava de modo muito objetivo: tudo bem, ele usava aquilo por que era padre, mas. . . O que era um padre? Era um gênero, uma profissão, o que? E por que ele tinha que usar aquilo? Isso só fez sua cabeça de criança formular mais perguntas sobre o assunto. Ele iria fazer á mãe um questionário inteiro sobre o padre quando chegasse em casa, pois antes que ele percebesse, ela voltara a se distrair com o mundo através da janela. Isso era uma coisa que ele realmente não gostava nos adultos, quando o deixavam na curiosidade sobre um assunto. É que as vezes as pessoas se esqueciam de que estavam tratando com uma criança de dez anos, com o cérebro em desenvolvimento, com um milhão de perguntas fervilhando em sua cabeça. Começavam um assunto, e quando Ethan se deparava com uma palavra que não conhecia, ou algo que fosse inteiramente novo para ele, as pessoas não explicavam o que aquela determinada coisa significava, e logo elas se esqueciam e ele ficava com aquilo martelando em sua cabeça, até alguém tocar no assunto de novo, ou até ele descobrir por si mesmo, o que acontecia na maioria das vezes e ele pressentia que com o padre não seria diferente. Ethan fez um tipo de anotação mental para não se esquecer desse nome e para pesquisar sobre elé quando tivesse a chance. Mas não foi assim que ele ficou sabendo o que um padre significava, pois se ele tivesse descoberto de outra forma, perguntando ou pegando a rabeira de uma conversa que seja, a descoberta do que a palavra padre significava não teria surtido o efeito que surtiu no pequeno.

     Alguns minutos e alguns pontos depois do padre ter entrado no ônibus algo aconteceu. Dois homens subiram no ônibus, estavam mascarados com aquelas mascaras pretas de esqui, que só deixam os olhos á mostra. Um deles tinha uma arma automática e o outro tinha duas garrafas de vidro com um liquido espesso dentro e na boca da garrafa um pedaço de tecido, coquetel molotov.  Eles estavam gritando e apontando a arma para o motorista e o cobrador, e foi aquele pânico, todo mundo começou a gritar também, com medo, pois sabiam o que estava acontecendo. Os protestos estavam ficando cada vez mais violentos, e os jornais noticiavam que alguns desses baderneiros colocavam fogo nos ônibus, e aparentemente era isso o que estava acontecendo, pois o que estava com a arma veio andando dentro do ônibus, gritando para todo mundo sair.

     Ethan estava paralisado observando aquilo e sua mãe o estava empurrando do banco para que ele se mexesse. Tudo parecia muito bem planejado pelos terroristas, eles estavam de certa forma calmos, até que viram o padre. Eles ficaram loucos, furiosos, gritavam mais ainda, o que causou mais pânico nas pessoas que tentavam sair pelas portas semiabertas, pisoteando umas ás outras como um estouro de manada. Os terroristas puxaram o padre de seu banco e começaram á espanca-lo com chutes e pontapés, com socos e a esbravejar que iriam todos morrer queimados, pois estavam acobertando aquele verme. Mais tarde, Ethan viria a descobrir que aqueles dois malucos eram fanáticos protestantes. O Padre, no entanto, não revidava, apenas tentava se defender da forma como podia devido ás circunstancias, encolhendo-se á medida que eles intensificavam a ofensiva. Num momento em que eles pararam um pouco, provavelmente para respirar, o padre levantou a mão e falou:

     - Sei que vocês entraram aqui hoje querendo sangue. O meu é suficiente, deixem essas pessoas saírem. – então ele se virou e olhou bem para Ethan e acrescentou: - Não querem ter o sangue dessa criança nas mãos. Querem?

     - Não tá com medo não, sua bicha? – um deles gritou meio alterado. – acha que eu não mato você só por que é a porcaria de um padre?

     - Eu sei que vai me matar. – o padre respondeu com calma. – Mas essas pessoas não precisam morrer também. Seu problema é comigo, deixe que eles saiam. – ele estava muito calmo, então para finalizar, ele disse: - Tudo bem, eu perdoo vocês.

     Os agressores pararam e se entreolharam. Deixando o padre lá caído. Eles abriram as portas e começaram a empurrar as pessoas que ainda estavam dentro do ônibus para fora, uma cascata de pessoas. A mãe de Ethan o pegou no colo e saiu aos pulos, ela foi a ultima á sair antes dos terroristas saírem e fecharem a porta deixando o padre lá dentro trancado. Aquele que estava com as garrafas com o explosivo ascendeu os pedaços de tecido que saiam pela boca das garrafas e as atirou para dentro do veiculo através de uma janela quebrada na confusão e o fogo se espalhou rápido nos bancos de espuma. Mas antes que ele o fizesse, Ethan conseguia ver a figura do padre em outra janela, olhando para ele com um sorriso, ele não estava com medo. Em segundos o ônibus era uma bola de fogo no meio da rua.

     Os terroristas saíram correndo através das ruas e logo Ethan ouviu o som do carro dos bombeiros cada vez mais perto. Ele nunca se esqueceria daquele padre, do olhar dele antes de morrer queimado. O padre dera sua vida para que ele estivesse vivo, ele se sacrificara. Ele entendia isso, e além do sentimento de tristeza, ele sentia uma crescente admiração por aquela pessoa e pelo o que ela tinha feito, antes de morrer ele perdoara seus assassinos, isso era algo incrível, que o mudou para sempre e com isso lhe veio a culpa por estar vivo. Como foi dito, foi assim que ele ficou sabendo o que é um padre, e o que ele significava, e talvez não tivesse se tornado um se não criasse em sua cabeça desde cedo o conceito de sacrifício.

     Por conta própria, Ethan começou a frequentar a capela católica perto de sua casa e descobriu por si mesmo o que um padre era: era aquele que falava em nome de Deus. No começo assistia á missa sozinho, escondido, como se estivesse fazendo algo errado, nem para seus pais contara o que estava fazendo na rua num domingo cedo e sozinho foi aprendendo o que significava muitas coisas da doutrina católica. Ali sentado no fundo da capela ouviu o velho padre falar sobre um menino que havia vivido em uma cidade chamada Jerusalém, á muito tempo atrás, que era bom e que seu amor pelo próximo era tanto que havia se deixado morrer crucificado para a remissão dos pecados do mundo. Seu nome era Jesus, era filho de Deus, seu filho único e amado. Ouvira que ele havia sido um grande homem, que falava ao povo sobre o amor de seu pai, sobre perdão, sobre como ele também perdoara seus assassinos na hora de sua morte. Ouvira como outras pessoas, os santos, falavam em seu nome através dos tempos, de como morreram por ele também, pela fé que tinham, pelo amor que tinham á Ele, e vários outros acontecimentos que para ele eram tão longínquos, mas que ele entendia perfeitamente: tudo isso se resumia ao amor, amor á Deus, amor ao próximo, era sobre amor, e esse legado continuara através do tempo e ele estava bem ali, na igreja. O padre assassinado se deixara morrer por amor á ele.  De repente então compreendera o que o padre fizera e o por que. E seguindo esse raciocínio logico, imaginara como era perfeito essa coisa que fora toda baseada em amor.

     Ethan queria fazer parte disso também, queria sentir esse amor que era gratuito e maior do que tudo o que ela já havia visto. De alguma forma sentia que era exatamente ali que deveria estar, que toda sua vida antes disso era um vazio negro, uma tempestade e que finalmente agora conhecia o sol. Ele sentiu que havia sido trazido lá por uma força maior, Deus, e que havia nascido apenas para estar ali, para ama-lo também.

     Essa revelação caiu em Ethan de forma dolorosa, como um amor platônico: ele queria fazer parte da igreja, do fundo do seu coração infantil e inocente ele queria, mas não sabia como fazê-lo e não sabia como pedir ajuda. Tinha medo de falar com seus pais sobre isso, principalmente depois do episodio do ônibus, se sem religião quase morrera, imagine se começasse á ir á igreja, eles teriam um ataque.  E durante muito tempo ele voltou á capela, sentando-se em seu cantinho lá no fundo, as vezes chorando quando ouvia o padre falar cada vez mais emocionado.

     O padre daquela capela era o Padre Rupert. Tinha cabelos negros espessos e olhos castanhos um pouco inquisitivos. Tinha uns trinta anos de idade e uma forma física meio cheia. Era um bom homem de descendência italiana, e chagara aquela cidade um pouco antes do acontecimento do ônibus. Um dia, durante a missa, o Padre Rupert o notou, notou aquele menino de cabelos negros e então reparou que ele sempre vinha, mas não vinha comungar, nem vinha se confessar, nada, apenas ficava lá no canto assistindo a missa e depois ia-se embora, invisível como chegara. Reparara nele por que mesmo sendo tão pequeno e mesmo não participando exatamente da missa, ele era quem demonstrava maior concentração, digamos maior fé, mais do que algumas pessoas que iam lá para cochilarem no meio do sermão. Depois que a missa acabou aquele dia, o Padre Rupert praticamente correu pelo corredor esquerdo da capela para alcançar o garoto que estava indo embora e o pegou pelo ombro. Rupert estava arfando quando o alcançara, afinal era não era lá muito atlético e a cena ficara um tanto cômica.

     - Eu não fiz nada! – Ethan disse assustado, tentando desvencilhar-se. Ele estava com medo, não sabia do que, más estava com medo.

     - Não, garoto, claro que não fez. – Rupert ainda recuperava o folego. – Eu só queria conversar com você. – disse de forma amena.

     Os dois ficaram em silencio por um tempinho, se olhando. Ethan analisava o pedido de Rupert com calma. Eles foram andando e Ethan se deixou ser conduzido até o banco que normalmente ocupava. Os dois sentaram-se lado a lado. Rupert ficou olhando para ele de forma curiosa.

     - Onde está sua mãe?

     - Eu vim sozinho.

     - É, eu percebi isso, você sempre vem sozinho, por que?

     - Minha mãe não acredita. – disse ele de cabeça baixa. – Ninguém em minha casa acredita.

     Rupert pareceu ponderar sobre essas palavras e observou o pequeno com as mãos arranhando as pernas da calça, como normalmente fazia quando estava nervoso.

     - Mas você acredita. – ele colocou como se fosse uma afirmação e Ethan olhou para ele com olhos marejados e para Rupert isso foi uma confirmação. – Qual é o seu nome, filho?

     - Ethan. – disse ele choroso.

     - Ethan, por que chora? Não precisa chorar. – ele tinha um semblante muito calmo e sorria.

     - Eu me sinto tão pequeno, eu queria poder fazer alguma coisa, mas eu não sei como. Ele deu a vida dele por mim, eu não estaria aqui se não fosse por ele e eu venho aqui todos os dias e não faço nada. As vezes sinto que deveria estar aqui e a certeza disso me mata, tanto quando a duvida se isso tudo valeu a pena. – ele chorava, remoendo a culpa que sentia pela morte do padre e nem Rupert nem ele próprio sabia se ele estava falando do padre assassinado ou de Jesus.

     - É a primeira vez que vejo alguém tão jovem com tamanha fé e tamanha duvida sobre a fé. – ele sorriu benevolente. – Me responda uma coisa, Ethan, você acredita em Deus, mas você o ama?

     - Amo, sim. – respondeu olhando em seus olhos.

     - Agora, você acredita, tem fé de que Ele te ama?

     - Sim. – ele soluçou

     - Então, você tem a sua resposta. – Rupert tirou um lenço do bolso e o deu á Ethan. - Deus usa caminhos misteriosos para espalhar seu amor. Seja qual for o caminho que ele usou para te trazer até aqui, deu certo, valeu á pena. Você não apenas acredita, você o ama e isso é maravilhoso. Você já chegou até aqui, era o mais difícil a fazer. Agora, você prefere ficar como está, ou quer fazer alguma coisa?

     - Como assim? – ele disse confuso.

     - Você é batizado, Ethan?

     Conversaram durante um bom tempo no banco de madeira da capela enquanto a tarde se esvaia. No dia seguinte, Padre Rupert foi até a casa de Ethan para conversar com seus pais sobre a inclinação cristã da criança e se eles estavam dispostos a deixar que o filho frequentasse a igreja católica, que essa era sua vontade e talvez até que ele fosse batizado e começasse a catequese. Seus pais se mostraram meio arredios á essa ideia, mas por fim acabaram por deixar a Ethan frequentar a igreja, do jeito certo. Eles notaram que ele estava feliz assim e acima de tudo eles queriam que ele fosse feliz. Não passou-se muito tempo, Ethan já estava batizado, fazendo a catequese para ter a primeira comunhão e logo, era coroinha da capela, ajudando Padre Rupert nas tarefas da missa.

     Ethan foi crescendo e quando foi chegando a época, sentiu que logo não poderia mais ser coroinha, pois isso era coisa de criança, mas de forma nenhuma poderia deixar de estar de forma ativa na igreja. A resposta ele soube a vida inteira e o momento de dizê-la aos quatro ventos havia chegado. Quando fez dezessete anos, pediu que Padre Rupert o inscrevesse no seminário, se tornaria Padre. A noticia meio que caiu como uma bomba em sua casa, principalmente em sua mãe que ainda se lembrava do ônibus incendiado. Ainda era a Irlanda. Mas sua mãe acabou aceitando a decisão do filho, mas com uma condição, de que ele não ficasse no pais. Ela sabia que havia esses padres missionários que vão aonde o dever os chama, e que se ele fosse ser feliz, que fosse feliz vivo, longe da Irlanda.