terça-feira, 14 de agosto de 2012

0

"Um gato no telhado"

     Justin Harrison era considerado um bom homem pelas pessoas que o conheciam. Ela já não era nenhum jovem, aos quarenta e cinco anos de idade, seus cabelos que antes eram castanho claro agora apresentavam mechas grisalhas, no entanto seu porte atlético que conservava desde o segundo grau mantinha-se o mesmo, conferindo-lhe uma disposição adolescente e era por isso que estava no telhado naquela tarde de sol, arrumando algumas telhas quebradas, depois de tanto que sua mulher Madeleine ficou insistindo durante horas e reclamando que chovia mais dentro do que fora de casa. Resultado: estava perdendo seu dia de folga em cima do telhado enquanto podia estar no churrasco que seu amigo Manny estava fazendo e o tinha convidado. E tudo por culpa de quem? Do gato.

     Seu vizinho Henry tinha um gato tigrado de branco, cinza e preto e olhos verdes faiscantes chamado Tiger, claro. Um gato peludo e enorme de aproximadamente sete quilos ou mais, e isso para um gato é muito. Não que ele fosse gordo, ele era grande mesmo, parecia uma espécie de felino selvagem ou coisa parecida. E ele era uma gato estranho, sem raça definida, pois ele tinha a cor de Angorá, pelo denso como Persa mas sem a cara achatada. Henry tinha orgulho em dizer que ele era um gato raro e duvidava que houvesse um igual.

     Tiger, como qualquer gato, tinha uma vida noturna e gostava de passear pelos telhados da vizinhança, e de todos os telhados que ele poderia ter escolhido para ser seu preferido, ele escolhera o telhado da casa de Justin. Todas as noites quando Justin se deitava para dormir, (só deitava, porque dormir era outra historia), ele ouvia o barulho daquele gato estupido perambulando no telhado a noite inteira. Não sabia explicar se era por causa de seu tamanho avantajado, mas aquele gato tinha o péssimo habito de quebrar as telhas e semana passada ele havia quebrado pelo menos umas cinco telhas num encontro amoroso com a gata siamesa dos Leeds.

     Tudo culpa daquele gato!

     Pensava essas coisas enquanto pegava uma telha, dessas pequenas de trinta centímetros por quinze, cor de cerâmica. O sol de domingo queimava sua nuca e tudo o que queria naquele momento era estar no churrasco na casa do Manny, bebendo uma cerveja gelada, aproveitando seu fim de semana como tinha direito. Talvez, quando terminasse até pudesse ir, afinal, ainda era três horas da tarde.

     Começou então á apressar o serviço, empolgado com a possibilidade de aquele dia poder terminar de forma proveitosa. Posicionou a telha no lugar daquela que havia sido removida e em seguida, pegou o martelo para pregar a telha e começou a martelar de forma vigorosa, no entanto, acabou acertando o dedo indicador. No momento, largou o martelo e soltou uma exclamação de dor, segurando dedo machucado. “Mas que droga!” gritou em pensamento, agora isso? Se ele já estava de mau humor, aquilo foi a gota d’agua. Ah, se encontrasse aquele gato. . .

     Nesse momento olhou para frente e o viu á poucos metros dele, ali no telhado. Tiger olhava para Justin com aqueles olhos verdes brilhantes, calmamente sentado sobre as patas balançando sua cauda espessa, apenas olhando para ele com aquele ar de deboche.

     - Ah, só pode ser brincadeira! – Justin disse alto para si mesmo.

     Sentia tanto ódio por aquele bicho como nunca sentira por nenhum ser vivo em toda sua vida. Por causa dele, estava fritando seus miolos embaixo daquele sol escaldante; por causa dele, não estava aproveitando seu dia de folga com seus amigos e ainda por cima, arrebentara seu dedo. Justin olhou para o lado e viu o martelo que havia largado quando se machucara. Ele não havia escorregado e caído lá embaixo, ele estava ali, ao alcance de seu braço. Olhou outra vez para o gato que continuava parado olhando para ele e não pensou duas vezes: Justin pegou o martelo e o jogou na direção do bichano. Ele errou, nunca fora bom nisso, mas o gato se assustou e pulou do telhado.

     - Vá embora daqui! – Justin gritou ao ver o gato pular. – Gato maldito. – resmungou.

     Resmungou fundo, acalmando-se. Só estava nervoso, só isso, ouvira certa vez que jogar coisas acalmava, e era verdade, depois de ter jogado o martelo, sentia-se muito melhor, pelo menos aquele gato não estava mais lá, zombando dele.

     Só então percebeu que havia jogado o martelo longe demais e dessa vez sim, ele havia caído lá embaixo. Que droga! Agora teria que descer para pegar o martelo e ainda faltavam duas telhas para trocar. “Sua besta!”.

     Justin havia colocado uma escada de madeira apoiada na parede para subir no telhado e agora descia por ela. Porque é mais fácil subir do que descer? Ao terminar de descer a escada, olhava para o gramado do seu quintal procurando o martelo que caíra, encontrando-o á três metros da casa, perto da cerca. Com os olhos fixos no martelo, ele aproximou-se do objeto, abaixou-se e pegou-o. Levantou a cabeça por um segundo, não sabia por que e se espantou com o que viu.

     Seu quintal era circundado por uma cerca de um metro e meio de altura, uma cerca de ferro, com lanças pontiagudas. Justin havia colocado essa cerca no semestre passado, quando roubaram o carro de sua sogra da vaga de visitas, e só então vira o que ela podia fazer. Viu uma cena tão horrível que quase gritou: Tiger estava ali, empalado nas lanças. Quando Justin jogara o martelo, o gato se assustara e pulara ás cegas, caindo nas lanças, tendo uma morte prematura. Seu sangue escorria pelo ferro, tingindo de vermelho as margaridas que cresciam junto á cerca. Seus olhos verdes ainda estavam abertos, mas estavam opacos e continuavam olhando para Justin.

     Justin levara a mão á boca para abafar uma exclamação de horror. “Meu Deus! O que eu fiz”. Olhou para os lados, ninguém passava na rua e sua mulher Madeleine passava roupa dentro de casa ouvindo radio e nem se dava conta do que estava acontecendo no quintal. Olhou para a casa ao lado, a casa de Henry. “O que você vai dizer para ele?”, a voz em sua consciência dizia, “O que você vai dizer quando o seu amigo ver o gatinho querido dele no espeto e pronto para o churrasco?”.

     - Foi um acidente. . . – murmurou para si mesmo. – Eu não queria. . .

     - “Claro que queria, afinal, o martelo não deu aquele salto mortal sozinho”- a voz da consciência continuava. - “Você sabe o quanto Henry gostava desse gato.”- a voz em sua mente disse, parecida com a voz de Madeleine.

     - “Você sabe que Henry sabe o quanto você não gosta desse gato.” – uma outra voz cortou a primeira, uma voz que vinha de lugares mais profundos de sua mente, uma voz parecida com a de seu falecido pai. –“Aquele Maricas vai fazer um escândalo.”

     - A culpa é minha. – Justin murmurou sozinho.

     - “Que bom que reconhece.” – a voz de Madeleine o repreendeu. – “Tiger era só um gato, fazendo o que era de sua natureza fazer. Você era o humano, que devia ter o mínimo de autocontrole. . .”

     - “O que?” – cortou a voz de seu pai. – “Aquele gato era um safado, um filho da mãe, ele mereceu!”

     As duas vozes sempre debatiam em sua mente, sua própria versão do diabinho e do anjinho em cada ombro, claro que a voz de Madeleine representava o anjinho e a de seu pai o diabinho. Sempre dava preferencia á voz de Madeleine, mas a voz de seu pai estava mais alta do que de costume.

     - “Pense na tristeza que Henry vai sentir” – a voz de Madeleine soava reprovadora.

     - “Cale a boca!” – seu pai a cortou de novo. – “Pense no lado positivo disso tudo: não vai ter mais gato nenhum para encher o saco.”

     Justin odiava ter que admitir, mas era verdade, e de repente a voz de Madeleine sumiu.

     - Tá, mas oque eu faço com esse gato? Ele não pode ficar ai pendurado para sempre. – Justin sem perceber disse em voz alta.

     - “Tire-o dai.” – a voz de seu pai disse com voz tentadora. – “Esconda-o e não diga nada para o Henry, você estará fazendo um favor para ele, na verdade.”

     - Mas aonde vou escondê-lo?

     - “Seu jardim é grande o suficiente, além do mais, lembra daquelas hortênsias que você ia replantar no chão? Acho que é uma boa hora.”

     Justin olhou para os lados outra vez, a rua continuava deserta e sua mulher provavelmente ainda passava roupa ouvindo radio. Aproximou-se da cerca e observou o animalzinho mais de perto com certa aflição. Ele relutou um pouco, mas com cuidado, conseguiu retirar o gato das lanças e o segurava nos braços. Nossa, como era pesado, e como estava mole. A lança havia perfurado seu peito, deixando um buraco vermelho no emaranhado de pelos brancos do peito. Olhou bem para Tiger, e aquela imagem lhe apertou o coração. Mas não tinha tempo, Henry, havia ido para o churrasco, e logo estaria de volta.

     Ali mesmo resolveu enterra-lo, primeiro deitou-o no chão com delicadeza, então correu até a garagem que estava com a porta aberta e pegou suas ferramentas de jardinagem (seu hobby), e os três vasos de hortênsias que seriam replantados. Voltou correndo até a cerca, onde havia deixado o gato e com vigor começou a cavar. Demorou para cavar um buraco suficientemente grande para comportar Tiger, ainda mais cavando com aquela pazinha minúscula de jardinagem, mas conseguiu. Colocou o gato na cova improvisada e sentiu um calafrio ao ver seus olhos verdes olhando em sua direção. Quando pegou a pá para começar á jogar a terra por cima do defunto ele hesitou e a voz de Madeleine voltou á cutuca-lo.

     - “Você tem certeza de que quer fazer isso? Porque isso não é certo.”

     - Tá bom, o que você sugere que eu faça?

     - “Olha, eu vou estar aqui para cutuca-lo toda vez que você ver um gatinho passando, toda vez que você assistir o Garfield, eu não vou deixar você em paz.”

     - “Você já cavou o buraco, não vai parar agora.”- a voz de seu pai disse enfática, assustando-o.

     - Não, não vou.

     Munido de uma coragem que ele não tinha, continuou o trabalho e meia hora depois, havia um belo canteirinho de hortênsias azuis ao pé da cerca. Justin levantou-se ainda com a pá na mão e passou o antebraço na testa suada. Olhou para a rua e suas pernas ficaram bambas, pois viu o carro de Henry dobrando a esquina e entrando na rua, vindo em sua direção e de repente um pavor tomou conta dele, como o friozinho na barriga que uma criança sente quando faz alguma arte do tipo quebrar o prato preferido da mãe só para vê-la entrar na cozinha segundos depois do acontecido. Mas Tiger não era um simples prato quebrado.

     O carro aproximava-se cada vez mais, resolveu sair dali, entrar em casa, pois não queria se encontrar com Henry, pelo menos não ainda, mas antes que chegasse á porta de garagem, Henry buzinou chamando sua atenção. Justin sabia que era com ele, queria que não fosse, mas era para ele e não teve outra alterativa senão virar-se depois de pregar um sorriso de coringa no rosto.

     - Oi Justin! – Henry disse com um sorriso sincero. – Por que não foi para o churrasco do Manny?

     - Eu. . . fiquei concertando o telhado que quebrou.

     - Com uma pá? – disse reparando na pá ainda em sua mão.

     - A pá? – ele deu um riso nervoso. – Não, é que eu resolvi mexer no jardim um pouco.

     - Então está bem. – sorriu – O pessoal sentiu sua falta, foi uma tarde muito legal.

     Henry ligou o carro e continuou o caminho até sua casa, deixando Justin lá, pensando seriamente na frase de seu pai, “Ele mereceu.”.



     Logo a noite chegou deixando tudo mais sombrio. Em seu quarto, antes de deitar-se para dormir, Justin aproximou-se da janela e ficou olhando para fora durante um bom tempo, mais precisamente para o canteiro de hortênsias que enfeitavam o tumulo de Tiger com certa aflição. Que sinistro era pensar em tudo o que acontecera aquela tarde. Tinha certeza de toda vez que olhasse para aquelas flores sentiria um calafrio. E aquelas lanças? Iria mandar serra-las amanhã mesmo, pois imaginou se invés do gato, se fosse ele que tivesse caído.

     Ouviu o telefone tocar mas não deu importância, a real Madeleine estava lá para atender, e ele estava por demais intrigado com seus próprios pensamentos. Depois de alguns minutos ouviu sua esposa desligar o telefone que ficava no criado mudo ao lado da cama sem nem ter prestado atenção na conversa.

     - Querido, era o Henry. – a real Madeleine disse tirando-o de seus pensamentos.

     - Oque ele queria? – respondeu um tanto áspero sem tirar os olhos do tumulo secreto.

     - Perguntou se você não viu o gato dele, o Tiger. Parece que sumiu.

     - Não, não o vi. – mentiu sentindo um frio na barriga. – Mas gatos somem, não é? É de sua natureza andar por ai.

     - Pode ser, mas aquele gato era muito estranho.

     - Ele é só um bicho, Maddie. – disse afastando-se da janela.

     - Ouvi falar certa vez que gatos são os guardiões das portas do Mundo dos Mortos, e que quando eles somem de nossas vistas, é lá que eles estão.

     - Aonde ouviu essa besteira? – disse intrigado ao sentar-se na cama.

     - Não me lembro. É uma dessas crendices que se ouve quando criança e fica no inconsciente. – sorriu de maneira amena ao ajeitar-se na cama para dormir. – Uma besteira, realmente.

     - Não sei. - disse serio – Quem sabe Tiger não está dando um olá para o James Dean bem agora? – deitou-se.

     - Que horror, Justin! – Maddie disse em tom repreensivo, mas com um tom de humor, pois ela ainda sorria. – Vamos dormir.

     Não se passou cinco minutos, Justin percebeu que Madeleine respirava profundamente, indicando que dormia. Ele ainda ficou acordado olhando para o teto. É, Tiger nunca mais iria ficar andando pelo teto fazendo-o ficar acordado a noite toda. Sentiu uma ponta de culpa, mas foi só. Pensando em outras coisas, logo adormeceu entrando em sono profundo.

     Quando o relógio marcou três e vinte da manhã Justin acordou sobressaltado. Ele tinha ouvido um barulho que parecera tão distante. Não soube se era real ou fruto de um sonho, mas era algo parecido com vidro sendo arranhado. Aprumou-se na cama e olhou para a janela, não havia nada lá, mas sentira uma sensação tão ruim. Ficou um tempo sentado na cama, olhando em direção á janela em silencio, apenas escutando, mas não havia absolutamente nada além do negro da noite. Mas aquele som, estranho, vidro sendo arranhado. Era um som bem característico, era tipo, agulhas ou algo muito fino. Então com horror, algo lhe ocorreu: unhas de gato.

     Não, não podia ser. Levantou-se e caminhou até a janela, abriu-a e olhou para fora. Não viu nada. Estava tudo quieto, na vizinhança todos estavam em suas camas, dormiam o sono dos justos em paz e o silencio era mortal. Nunca em sua vida ouvira (ou não ouvira) um silencio como aquele.

     Olhou então para as hortênsias sinistras: tudo estava como deixara á tarde e como vira da janela momentos antes de dormir. Balançou a cabeça como se isso espantasse esses pensamentos e fechou a janela outra vez, voltando para a cama e deitando-se ao lado de Madeleine que dormia profundamente. “Não é nada, volte á dormir.”, pensou ao fechar os olhos um pouco mais sossegado.

     Miau.

     Justin ouviu um miado prolongado que parecia estar vindo do telhado.

     Miau.

     O miado fez-se ouvir novamente. Era agudo, dolorido e contínuo.

     Miau.

     Repetiu. Então Justin começou á ouvir um som bem familiar, os passos de um certo gato pesado perambulando pelo telhado. Não podia ser, eram os passos que tantas vezes ouvira e tirara seu sono por noites á fio, os passos de Tiger. O gato andava e miava, miava e andava sem parar.

     Justin tapou os ouvidos com as mãos desesperado. Não era Tiger, não era! Tiger estava mortinho, servindo de adubo para suas hortênsias, estava ouvindo coisas que não existiam.

     Miau.

     Ouviu então uma telha partir-se. Será que tudo isso era sua imaginação pregando-lhe uma peça? Sua consciência pesada cutucando-o como ela avisara? Levantou-se ouvindo os passos daquele ser em cima de sua casa e pôs-se á andar pelo quarto. Olhou para Madeleine que dormia profundamente sem se dar conta do que acontecia com seu marido. Pensou em acorda-la para perguntar se ela também ouvia o som que o atormentava. Não, se a acordasse, teria que explicar a historia toda e ela acabaria fazendo um escândalo.

     Pensou que poderia ser até um outro gato, afinal, Tiger não era o único bichano da vizinhança. Mas reconhecia seus passos, por anos ouvira-o perambular por seu telhado e não conhecia outro gato capaz de quebrar telhas. Mas ele estava morto, estava enterrado em seu jardim.

     - “E por que você não vai lá tirar a prova?” – a voz de seu pai ressoou em sua cabeça outra vez.

     - Eu não vou cavar o jardim agora. – rebateu para si mesmo.

     - “Do que está com medo? De encontrar ou de não encontrar o gato enterrado?”

     Não queria ir, mas sabia que essa era a única forma de saber. Pegou um casaco no armário e vestiu-o, saindo do quarto com cuidado para não acordar Madeleine. Desceu até a garagem, pegou seus instrumentos de jardinagem e saiu para o quintal pela porta da garagem.

     A lua iluminava tudo e naquela luz, seu jardim lhe pareceu tão sinistro. Só então algo lhe ocorreu: a cerca de ferro com lanças, flores e uma tumba, seu jardim era um cemitério. Um calafrio percorreu lhe a espinha e arrepiou lhe os pelinhos da nuca, isso foi tão forte que quase voltou para trás. Mas tinha que saber.

     Aproximou-se do pequeno canteiro de hortênsias, ajoelhou-se e começou á cavar. Tirou as flores primeiro e depois começou á cavar com mais vigor. Cavou e cavou durante muito tempo, e quando percebeu, havia cavado mais agora do que havia cavado durante a tarde e nada de encontrar o gato.

     - Não. . .

     Em vão cavou mais fundo, porem, nada de gato.

     - Como ele não está aqui? Eu o enterrei! – disse desesperado – Será que o bicho estava vivo?

     Mas não havia sinal de que nada havia saído, nem de dentro para fora, nem nada fora arrancado. Nesse momento, lembrou-se do que Madeleine disse antes de dormir: “Gatos são os guardiões do Mundo dos Mortos.”.

     Justin estava ali, todo sujo de terra, cavando uma cova vazia na madrugada e sua fisionomia era de alguém transtornado. Ouviu então outra telha quebrar e virou-se para olhar para o telhado. Havia um gato lá, pelo menos a silhueta de um gato enorme e Justin via tudo aquilo horrorizado. Será que era Tiger? Tinha que ter certeza.

     Ele voltou á garagem, pegou a escada que usara de tarde a apoiou na parede. Com cuidado começou á subir e logo alcançou o telhado. Quando conseguiu se equilibrar na beira do telhado, começou a procurar o gato com os olhos. Estava uma noite de lua clara e viu o gato perto dele. Ironicamente, Justin estava no lugar em que vira Tiger e o gato estava no lugar onde Justin trocava a telha.

     Um sentimento de medo e repulsa misturados tomavam conta de Justin. Era Tiger, grande, tigrado, seus grandes olhos verdes, brilhantes de um modo sinistro olhavam fixamente para ele e o ferimento aberto em seu peito ainda sangrava.

     - É você mesmo, Tiger? Você voltou para me atormentar, seu gato maldito?! – gritou fora de si.

     Então Tiger correu em sua direção, pulou e se agarrou em seu pescoço. Justin desequilibrou-se e caiu do telhado naquela noite clara de domingo. Encontraram-no na manhã seguinte, empalado em sua própria cerca de ferro, assim como Tiger, do qual ninguém nunca mais ouviu falar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário